A Porquinha Apaixonada

Certo dia eu acordei

Com vontade de escrever

Quatro horas da manhã

Só fiz mesmo me benzer

E com tamanha alegria

Eu comecei esta poesia

Para contar pra você.

Debaixo do meu alpendre

Naquela linda manhã

Escrevia coisas lindas

Palavra tão bela e sã

Escrevendo ali tão só

Eu ouvindo o rouxinol

E o rangido de uma rã.

Eu estava muito triste

No meu canto a escrever

Derramava minhas mágoas

Por quem só me fez sofrer

Estava ali só escrevendo

E o meu coração sofrendo

Sem vontade de viver.

A dor de uma separação

É forte e machuca a gente

Despeja um mar de tristeza

Perturbando nossa mente

Tirando-nos a alegria

Só mim resta a poesia

Para mim deixar contente.

Fiz uma poesia linda

Que falava de um amor

De um homem apaixonado

Que não aguentava a dor

De ver sua grande paixão

Abandonar seu coração

Por um ricaço doutor.

Um homem pobre e sofrido

Que só vivia de amar

Corpo queimado de sol

Sempre estava a trabalhar

Quando chegava à tardinha

Vestia a roupa que tinha

Corria para ir namorar.

O que mim surpreendeu

Quando eu li a poesia

É que senti uma lágrima

Que bem no meu pé caia

Fiquei muito admirado

Olhando pra todo lado

Se eu chorava, não sabia.

E fiquei muito surpreso

Se eu chorava não sabia

Só que bem perto de mim

Uma porquinha ali comia

A bichinha estava rolando

Lá no cimento chorando

Por causa da poesia.

A porquinha gostou tanto

Que começou a chorar

A força de uma poesia

Separa e faz se ajuntar

Não esqueço isso jamais

Pois até os animais

Tem o direito de amar.

Quando vi o desespero

Daquela linda porquinha

Que abandonou seu milho

Deixando-o para a galinha

Eu fui conversar com ela

E eu vi que como donzela

A porca um coração tinha.

Ela contou sua história

Que parecia com a minha

Tinha gostado de alguém

O qual lhe deixou sozinha

E Eu estava só escutando

E também mim apaixonando

Pela a história da porquinha.

Ela disse que amava

Um tão famoso Barrão

Ele era bem musculoso

Parecendo bombadão

Que escrevia poesia

Dava flores todo dia

E roubou seu coração.

E eu Vendo aquela sena

E tamanha lamentação

Fiquei com pena da porca

Que triste a situação!

Ela triste ali tão só

Fiquei morrendo de dó

E com raiva do Barrão.

Meu povo bom, acredite

Esta história é verdadeira

Eu digo por que vi tudo

E esta não foi à primeira

Conversar com os animais

Isso eu já fiz por demais

Conversei a vida inteira.

E este negócio de amor

É bem difícil aguentar

Perturba qualquer cabeça

Faz até um bicho falar

Por isso preste atenção

Cuidado com o coração

Na hora que for amar.

Não pense que é mentira

Que é lorota ou coisa assim

Este cordel da porquinha

Foi feito todo por mim

E se não quer acreditar

Vá correndo perguntar

Ao finado Zé Mundim.