NAS GARRAS DE CAMPINEIRO
Eu quero compartilhar
Com vocês uma lembrança
De coisas bem engraçadas
Do meu tempo de criança
As vezes, é bem verdade
Existia malvadeza
Por exemplo, perigoso
Agia com safadeza
Quando a vítima era um bichinho
Ou criança indefesa
Muito cheio de astúcia
Facilmente conseguia
Envolver a molecada
Naquilo que ele queria
Botar o moleque nos eixos
Ti Tonhe já não conseguia
Ele tinha umas ideias
De ninguém acreditar
Um dia disse: Valmir,
Faça o que eu lhe mandar
E com muita habilidade
Deu toda a instrução
Ainda dizendo: rapaz,
Preste muita atenção!
Pra o pinto degolar
Junte com cuidado os pé
Depois pegue no pescoço
Puxe pra trás, dando ré
Não precisa botar força
Basta ter jeito e fé
E seguindo a instruções
Valmir pegou o pintinho
Juntou os pés e puxou
O pescoço do bichinho
Quando sua mãe notou
Foi aquele burburinho
Embaixo de uma cuia
Colocou o pobre pinto
Tamanha foi a aflição
Que até hoje eu sinto
Bateu tanto com a mão...
Foi engraçado, não minto.
Valmir gritou: mãe!
Quem mandou foi Vanduir
Eu não queria, pergunte,
Se duvidar, a Valdir
Ele garantiu que o pinto
Só ia se sacudir
Valdir chupava o dedo
Debaixo de uma mesa
Pra desgraça de Valmir
Não fez a sua defesa
E pensava: Perigoso
Conhece minha fraqueza
Por isso eu não sou besta
De cair nessa enroscada
Ainda me lembro do dia
Que permiti ser escada
Pra perigoso encher
De bolacha a molecada
Ficamos toda a semana
Tomando café com farinha
Mãe que quase fez milagre
Ficou triste a coitadinha
Pois não tinha mais bolachas
Para dar às criancinhas
O tempo foi se passando
E o moleque não mudou
Com quase todos os primos
Esse danado aprontou
Mas foi comigo, família
Que ele quase acabou
A gente tava a brincar
Bem perto das nossas mães
Minha mãe já tinha dito:
Perto de mim você fica!
Porque com aquele menino
Ninguém no mundo se brinca
Ele disse: CAMPINEIRO?!
Olhou pra mim e fez: PISCA!
O cachorro respondeu
Com um latido de arrasar
Eu comecei a correr
Perigoso a gargalhar
E deu - se início a largada
Até madrinha Tatá
Eita caminho cumprido!
Ô que ladeira pesada!
Quando cheguei no Umbuzeiro
Eu já tava tão cansada...
De tanto correr com medo
Por toda aquela estrada
E chorando eu disse: primo,
Não faça isso comigo
Eu tô morrendo de medo
Você vai ter um castigo
Depois não venha dizer
Que está arrependido
Perigoso disse: Cláudia,
Você pode confiar
Garanto que o cachorro
Eu não vou mais estumar
Por fé de Deus você pode
No seu primo acreditar
Eu sou home! Tô dizendo!
Desça logo, chegue cá
Se for mentira, pretinho
Vou no inferno parar
Me garanta que a madrinha
Você nada vai contar
Eu tava era só brincando!
Campineiro é bem mansinho
Olha só o que eu faço?!
E abraçou o cãozinho
E o cachorro afoito
A sacudir o rabinho
Mas ao descer para o chão
Ele esqueceu a promessa
Olhou o cachorro e disse:
Capineiro, vamos nessa!
E retomou-se à largada
Dessa vez bem mais de pressa
E o cachorro feroz
Que me fez perder a voz
Me acompanhou na descida
Mordendo os meus mocotós
Mas o que ocorreu depois
Eu vou contar só pra nós.
Comadre Maria tava
Com uma lapa de bainha
Chicoteou o moleque
Com toda força que tinha
Disse: um dia você vai
Virar gente, seu pestinha!