O espelho da vida (uma pequena homenagem às parteiras).

No espelho de uma vida

Que reflete a natureza

Mostrou a vida escolhida

Em toda a sua beleza

Que ao longo da subida

Demonstrou sua pureza.

Essa vida que subiu

Não saiu do seu lugar

De ninguém ela sorriu

Esmerou-se em ajudar

Pra servir ela existiu

Em qualquer hora e lugar.

Onde ia ela mostrava

Uma chama a clarear

De servir não reclamava

Quando alguém ia chamar

Pra chegar nunca atrasava

Não se fazia esperar.

Essa vida era decente

E também religiosa

Caminhava só pra frente

Sem jamais ficar nervosa

Onde ia, sorridente,

Mostrava ser valorosa.

A cigana a respeitava

O pastor recriminava

No sermão ele gritava

Que a Deus ela negava

Entretanto ignorava

O que dela se esperava.

A hóstia o padre negava

Dizia não ser doutora

Da igreja a expulsava

Dizendo: sai pecadora

Sua alma nem Deus lava

Vá montar sua vassoura.

Cartomante a respeitava

A carola a recebia

Macumbeira a procurava

Para ouvir o que dizia

Seu trabalho ela invejava

Conquistar ela sabia.

Certo dia um viajante

Hospedou-se em um hotel

Disse ser itinerante

Pois andava sempre ao léu

E achava interessante

Conhecer algum bordel.

Era um jovem bem vestido

Que queria passear

Para la fora incumbido

De certo fato apurar

Mas ficou desiludido

Vendo as moças do lugar.

Cada moça que passava

Ia se insinuando

Quanto mais se maquiava

Bem maia feia ia ficando

Quando já desanimava

Viu alguém lhe acenando.

Era a velha esfarrapada

Que pedia pra lhe ouvir

Estava desesperada

Já pensando em desistir

Não podia fazer nada

Pois não tinha aonde ir.

O rapaz a velha ouviu

A pedir misericórdia

Disse que nunca mentiu

Nunca provocou discórdia

Durante a vida serviu

Sempre buscando concórdia.

O rapaz lhe acenou

Disse pra se levantar

Então ele ajoelhou

Pediu pra lhe abençoar

Agora que a encontrou

Precisava retornar.

Disse à velha: vem comigo

Eu preciso de você

Vou ser seu melhor amigo

E não vou te aborrecer

Vou lhe dar pão e abrigo

Mas não pergunte por quê?

Aquela velha indefesa

Olhou o jovem e chorou

Sua voz soava presa

Quando ele acompanhou

Ele disse: com certeza

Foi você quem me salvou.

Minha mãe quase morreu

Quando eu estava nascendo

La você apareceu

Pegou minha mão tremendo

Você não me conheceu

Mas ouvi você dizendo.

Hoje são dois em um corpo

Você trouxe alguém à vida

Antes ele estava morto

Deu a alma por perdida

Em você ganhou um porto

Você foi a escolhida.

De você somente eu quero

Coisa simples por sinal

Mas é tudo o que espero

Pra aumentar meu cabedal

Sou também membro do clero

E vim pra lhe procurar.

Você tem a vida santa

É tão pura como a luz

Ante ti o justo levanta

Pra levar a sua cruz

Ante Deus se agiganta

Por ser igual a Jesus.

Renato Lima
Enviado por Renato Lima em 28/12/2018
Reeditado em 31/12/2018
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