CARTA DO FILHO DA TERRA A JESUS CRISTO
Oi Jesus meu Bom Pastor
Eu resolvi lhe escrever
Faz tempo que quero ter
Uma prosa com Senhor
Sei que sou um pecador
Além de tudo temente
Muito respeitosamente
Sigo vossos mandamentos
Contidos nos regimentos
Do Pai-Nosso Onipotente.
Muito tenho que contar
Nessa simples carta minha
Talvez uma fofoquinha
Só para contrariar
Nada que venha causar
Alguma repercussão
Nem tampouco confusão
Na vida de seu ninguém
Cada um sabe o que tem
E o que quer nesse mundão.
Na terra a coisa tá preta
Jesus quanto desaponto
Povo está ficando tonto
Com tanta mentira e treta
Tudo aqui é na gorjeta
E não escapa ninguém
Até paga quem não tem
A culpa nesse cartório
Tornando-se vexatório
A vida de certo alguém.
Tenho muito observado
Aqui no plano terrestre
Oh meu querido e bom Mestre
Povo um tanto aperreado
Ninguém olha pro seu lado
É aquela afobação
É gente na contramão
O desespero é total
O mau humor é viral
Aqui nesse meu mundão.
No nosso mundo que é a terra
Tem confusão todo dia
É aquela selvageria
Gente, esperneia e berra
É, fome, peste e guerra
São causas predominantes
Embora alguns governantes
Têm lutado pela paz
Mesmo assim não satisfaz
E continua como antes.
Causa-me muita tristeza
De doer o coração
Tanto ouro numa só mão
E muita mão na pobreza
Que tamanha malvadeza
Aqui nesse meu planeta
Gente dando pirueta
Para se sobreviver
Outro tenta se esconder
Na gravata borboleta.
Meu caro amigo Jesus
Por que essa desigualdade?
Se essa mesma irmandade
É filha da mesma cruz
Enquanto um come cuscuz
O outro tem caviar
Que coisa espetacular
Veja que contradição
Nesse velho mundo cão
Que um dia há de mudar.
Meu amigo camarada
Está todo mundo louco
Cá quem não tem pia-pouco
Quem tem muito dá risada
Aqui é barra-pesada
E salve-se quem puder
Homem virando mulher
Além disso vice-versa
Há quem goste da conversa
Desse tal de bem-me-quer.
Nesse nosso mundaréu
Tem muita corrupção
Pouca gente na prisão
E é aquele escarcéu
Ainda padre vira réu
Agitada fica a igreja
Todo clero lacrimeja
Por esse ato de má-fé
Roga pena à Santa Sé
Sendo assim vigário seja.
Ainda vou mais além
Preste-me bem atenção
É nação contra nação
E o canhão dizendo amém
O inocente é refém
Desse episódio insano
Fica à mercê dum tirano
E sem nem uma piedade
Tão somente por vaidade
Mata em nome de sicrano.
Que tamanha desventura
Nesse cafundó afora
A situação só piora
Por falta de compostura
Vida aqui é uma loucura
E, contudo, segue em frente
Católico vira crente
O crente vira católico
Coisa do mundo apostólico
Em prol de si tão somente.
Há muita hipocrisia
Neste nosso continente
Uma parte dessa gente
Alimenta a idolatria
Coitada dessa etnia
Toda desorientada
Cabisbaixa e acabrunhada
"Caminhando contra o vento
Sem lenço e sem documento"
Procurando o quase nada.
De tal modo a vida vai
Aqui nesse nosso chão
Mesmo tendo confusão
A peteca aqui não cai
De mão em mão ela sai
Não importa o leva e traz
Na união tudo se faz
Na alegria e na tristeza
Na riqueza e na pobreza
Com fé tudo é capaz.
Apesar da violência
Predominar na nação
Por aqui esse povão
Busca-se a supervivência
Ante essa consequência
A vida tem que girar
Pois custe o que custar
A gente não desanima
Temos que ter autoestima
Pra-frente continuar.
Nesse velho território
Nunca vou me acostumar
Muita fumaça no ar
Mais parece um crematório
É aquele acusatório
Por uma coisa qualquer
Por um momento sequer
Dá-se trégua à discussão
Põe-se aquela arma na mão
E salve-se quem puder.
Além de certas guerrilhas
Disputando poderio
Vida fica por um fio
À mercê dessas quadrilhas
Projetis voam as milhas
Aí é um deus nos acuda
Coisa fica cabeluda
Estado é de atenção
E haja santo e oração
E muito galho de arruda.
Jesus Cristo amigo meu
Aqui tem muita titica
E a política complica
Composta de fariseu
Que se diz devoto seu
Veja que contradição
Só pra chamar atenção
Ainda lhe agradece
Solta a voz em sua prece
Fazendo-lhe louvação.
Cá nesse mundialito
Que embate espetacular
Muita chuva num lugar
Já noutro nem um granito
Meu pensar fica em conflito
Com essa situação
Oh Jesus por que razão
Se vós estais na chefia
Todo o tempo ano e dia
Atento a cada nação.
Pouca coisa tem mudado
Nesse territorial
No convívio social
O fulano é rejeitado
Cada um no seu quadrado
Olha aí o preconceito
Visto como um desrespeito
Uma injúria também
Privando vida de alguém
Do seu natural direito.
Oh Jesus meu caro amigo
Nessa terra tem de tudo
Aleijado, cego e mudo
Aliás, muito inimigo
Aí que mora o perigo
A riqueza é cobiçada
Disputa fica acirrada
No comando do poder
Nem um líder quer perder
A cadeira disputada.
Aqui nesse espaço terra
Tem gente bem-sucedida
Com luxuosa guarida
Ali no alto da serra
Nada tem é quem se ferra
Contudo, foi sempre assim
Vai continuar, enfim
Enquanto mundo existir
O poder vai persistir
Quem manda aqui é dindim.
É por isso meu Senhor
Aqui não tem jeito não
Quem passa por precisão
É quem tem menos valor
O poderoso doutor
Cada vez ficando rico
E o coitado do nanico
Cada vez mais no sufoco
Na vida ralando coco
Descendo e subindo pico.
Eita! Que mundo danado!
Que corre-corre sem fim
Tal qual doença-ruim
Na boca do povoado
Por aqui está tudo errado
E ninguém mais se respeita
Nem tampouco se endireita
Total discriminação
Com esse ou aquele irmão
Ou dessa ou daquela seita.
Meu Senhor, qual o motivo
Pra tanta hostilidade?
Se é toda a humanidade
Filha dum Pai afetivo
Além disso compreensivo
Que quer somente o bem
Aí chega um certo alguém
Para lhe contrariar
Odeia ao invés de amar
O seu próximo também.
Por toda parte na terra
Eu vejo muitos atritos
Muitas crianças aos gritos
No meio de boba guerra
Onde ali mesmo se enterra
Verdadeiros idiotas
Que se dizem patriotas
Solícito ao seu país
Se gaba todo feliz
Por seus rivais nas derrotas.
É muita calamidade
Muita injustiça também
Quanto mais se diz amém
Mais aparece maldade
Papa Sua Santidade
Coitado desse pastor
Apela até pro Senhor
Roga todo o santo dia
Paz amor e harmonia
Nesse mundo sem pudor.
Caro amigo Jesus Cristo
Cá na terra é só pavor
Peste, fome, guerra e dor
É o que mais tenho visto
Tem muito mais além disto
Exemplo, corrupção
Um mal de toda a nação
Parece nunca ter fim
É como coisa-ruim
Está sempre de plantão.
Ah quem dera que algum dia
Esse nosso território
Fosse simples migratório
De luz e sabedoria
Amor, paz e harmonia
Que toda a humanidade
Em prol só da caridade
Distribuísse tais grãos
Pra chegar aos cidadãos
Por toda a eternidade.
Nesse territorial
Cobiça aqui é demais
Há filhos que matam pais
Por um motivo banal
Isso é mais um sinal
Falta Deus no coração
Que é o pai da criação
Que por ela foi julgado
Além disso assassinado
Por essa mesma razão.
O mundo é perigoso
Como também traiçoeiro
O amigo mais verdadeiro
É o mais ambicioso
Seu olhar silencioso
Nunca dá demonstração
E sempre está de plantão
Sobre qualquer movimento
Sabe esperar o momento
Para passar-lhe a mão.
É como diz o ditado
Confiar, desconfiando
Sempre estar observando
Quem está do nosso lado
É preciso ter cuidado
Nessa vida mundo afora
Tudo tem a sua hora
Por isso olho sempre aberto
Quanto mais ficar esperto
A maldade não vigora.
Aqui ninguém é perfeito
Somos todos aprendizes
Felizes ou não felizes
Vive-se do mesmo jeito
Porém com ou sem defeito
Seguimos nossas vidinhas
E findo minha cartinha
Oh meu Pai Celestial
Um abraço cordial
Daqui da nossa terrinha.
FIM