Meu avô contava histórias
Meu avô contava histórias,
Muitas de assombração.
Umas eram muito tristes,
De cortar o coração.
Mas tinham umas alegres
Pra prender nossa atenção.
Às vezes fico pensando
Onde vovô aprendeu
Tantos causos pra contar!
Em que livro ele leu!
Não sei se eram reais.
Por que ninguém escreveu?
Depois que vovô contava
Uma história engraçada,
Ele nos aconselhava
"Se quiser lembrar, traslada".
Mas ninguém se preocupou
Em escrever o que ouviu,
O que ele nos contava.
Foi um tempo de magia
Difícil de esquecer.
Vovô recitava em verso
Com todo o ABC
O ABC do Brejo Seco,
Nos fazia estremecer.
Era muito inteligente
O nosso avô materno.
Era um homem bem sisudo,
Nada tinha de moderno.
Era muito carrancudo,
Mas por dentro ele era terno.
O ABC do Brejo Seco,
Eu não sei quem escreveu.
Como nós não transcrevemos,
A história se perdeu.
Meus irmãos lembram de um trecho,
O que mais os comoveu.
O que conseguimos buscar,
O que nos ficou na mente,
Aqui vou compartilhar
Para mostrar realmente
Como eram criativos
Os vovôs de antigamente.
ABC do Brejo Seco (contado por meu avô, mas não sei quem é o autor)
"Agora pelo que vi
Me é preciso fazer
Vou tratar deste ABC
Para mostrar.
Bem visto neste lugar
Com tamanha tirania
De Arnaldo com a "famia"
O que fizeram.
Caíram no cemitério
Aqui neste Brejo Seco
Botaram debaixo de cerco
Um defunto.
Davam gritos todos juntos
Este é o cabra bandalha
Que ajudou o Gavião dá em nosso "fio".
Eu, cabra, te desafio
Malvado e assassino
Que hoje "tô' em destino de me vingar.
Grandes murros hei de te dar
Se tu responder puderes
Paga o que fizeres a Teotônio.
(...)
Xispando eu vou me embora
Vou morar da outra banda
Com medo de Arnaldo de Holanda
quando eu morrer.
Zoa, zoa e zoa muito
O surrador de defunto
Mora ali
Til com que se arremata
Aqui vou fechar o beco
Quem morar no Brejo Seco
Tenha sentido".
Assim nos lembramos um pouco
Das histórias de nosso avô.
Em breve completaremos
O que ele declamou
No ABC desse Brejo
Um grande trecho faltou.