A Lenda de Angatu

1

Eu vou contar uma história

Que aconteceu no sertão

De uma índia muito bela

Que arrebatou o coração

De um jovem bandeirante

Era valente e forte o varão...

2

O descobrimento do Brasil

Ainda estava nas mentes

Dos portugueses, galegos

Castelhanos e outras gentes

Que saiam em busca de ouro

Pedras preciosas e provenientes...

3

Então chegaram aquele lugar

João Leite e sua comitiva

Buscando riquezas minerais

E nisso a atração era possessiva

Pois eles sempre queriam mais

Tinham por ordem decisiva...

4

Três motivos moviam os bandeirantes

Riqueza, propriedade e mão de obra

Então saíram eles como viajantes

Cada missão a riqueza redobra

Alguns objetivos fizeram a ocasião

Cada lugar uma triste manobra...

5

O trabalho duro era dos escravos

Índios, negros e quilombolas

Quando não mortos eram capturados

Homens, mulheres e rapazolas

Vidas reduzidas a coitados

As vezes presos em engaiolas...

9

Um jovem da bandeira

Forte, valente e destemido

Gostava de andar pelo mato

No vale de campo florido

O seu nome era Antônio

Um rapaz muito querido...

10

Um dia o jovem encontrou

Angatu a andar no mato

Começou então a observá-la

A beleza o deixou estupefato

Diante daquela maravilha

Apaixonou-se de imediato...

15

A paixão devora a inteligência

E a juventude começa se arriscar

Passando por cima das ordens

Dos pais sem medo de enfrentar

As consequências que são duras

Que às vezes nos fazem chorar...

16

Sentado ao tronco de uma árvore

Antônio estava a descansar

Pensando a respeito de sua vida

E levantando a cabeça devagar

Lá estava a sua frente Angatu

A mais bela mulher a deparar...

17

Sentiu no coração uma flecha

Mas foi o cupido que o acertou

No momento seus olhos cruzaram

E num gesto terno o arrebatou

Nos braços fortes de Antônio

A mais bela índia se entregou...

28

Disse Angatu para Antônio

_Já ouviu falar da mulher da lua

_Não conheço estórias indígenas

_Mas, por favor, continua

_Linda, vaidosa e não envelhece

O pensar do rapaz se tumultua...

29

Para ouvir estória dos índios

O rapaz ficava ali o dia inteiro

Angatu continuava a falar

Também de seu povo canoeiro

No céu de repente um trovão

Formava um grande nevoeiro...

30

Desceram o rio de volta

A moça dele se despediu

Tomou um trilho no mato

A caminho da aldeia seguiu

O rapaz para o acampamento

O amor o seu coração invadiu...

31

Nego Dunga no acampamento

O rapaz ele interrogou

Queria saber o que fez

Onde estava ou com quem falou

Pois Antônio passou o dia fora

E a ninguém da expedição avisou...

34

Os lideres de uma bandeira

Em troca de honras e títulos

Matavam, escravizavam os índios

Quilombolas foram tristes capítulos

A inocência das crianças violadas

Em nome de títulos e subtítulos...

35

O responsável pela a bandeira

Chamou Nego Dunga aparte

_Ta na hora de pagar a tamina

Disse João Leite que nesta arte

Só sobrevive quem se arrisca

E quem cobra e não reparte...

36

Prontamente Nego Dunga

Respondeu ao seu superior

Vou pagar tudo o que devo

Não preocupe meu senhor

Isso pra mim é sagrado

Em breve pagarei o seu valor...

37

Ainda perto do agrupamento

Nego Dunga encontrou

Uma grande pepita de ouro

Logo um plano orquestrou

Um pedacinho todos os dias

Assim a tamina ele administrou...

60

O líder da aldeia obrigou

Angatu não mais encontrar

Com Antônio o seu amor

Para a situação não complicar

O romance então foi proibido

Para a situação não se agravar...

61

Mas o rapaz era teimoso

E começou a encontrar

Pois o amor sempre vence

E não ver o perigo chegar

Angatu e Antônio são pegos

Ali seu caminho sentiu acabar...

62

Antônio tratou de fugir

E dentro o mato adentrou

Mas os índios foram rápidos

E o rapaz logo capturou

Trouxeram para a aldeia

Angatu quando viu chorou...

63

Disse o cacique para Antônio

_por ter continuado o romance

_Ordeno a ser morto a fechadas

_E o corpo queimado sem chance

_Na grande fogueira da clareira

Assim ordenou o índio o avance...

64

Sabia ela o destino

Que estava reservado

Não tinha como fugir

Daquele triste legado

E ali a sua frente

Antônio seria flechado...

65

Angatu assistiu agoniada

Vendo o seu amado morrer

A ordem de seu grande chefe

Ela tinha de vê-lo sofrer

Pra ela foi um duro golpe

Assistir sem nada fazer...

66

O rapaz sentiu a morte

Dele se aproximando

O corpo todo flechado

Viu o mundo se acabando

Olhando para sua amada

Essas palavras foi falando...

67

_Morro POR ANGATU

Ali cessou a sua dor

Do jovem que se entregou

E deixou o seu clamor

Morro POR ANGATU

Assim findou esse amor...

68

O coração de Angatu doeu tanto

Ao ver seu amado morrer

Triste sina foi essa a sua

Não tinha nada para se valer

A dor sentida foi tamanha

Que sentiu a sua alma desfalecer...

69

Seguiram os dias de tristeza

Pelo o que tinha acontecido

Angatu nunca mais foi a mesma

Marcada foi pelo o ocorrido

O Brilho de seus olhos se foi

E agora vivia para o marido...

70

Assim travou-se uma batalha

Índios canoeiros e bandeirantes

Alguns índios feitos escravos

Foram momentos marcantes

Os que não morreram fugiram

Suas terras nas mãos assaltantes...

71

Foi através de tantas desordens

Que esse povo no Brasil cresceu

O progresso custou o sangue

De um povo inocente que viveu

Hoje o teu conforto, o bem-estar

Deve a gente que tanto sofreu...

72

Hoje ainda estamos lutando

Pela ordem e o progresso

Sem saúde, segurança e educação

É um verdadeiro retrocesso

Na esperança de dias melhores

Aguardamos o sucesso...

73

A história tem dois lados

E os dois somam tristezas

O progresso que destrói

É um progresso de incertezas

Não tem ordem e esperança

Falta saúde e o pão na mesa...

Francis Perot