O PESO DA PAIXÃO

Ante uma desilusão

Eu muito me comovi

Pra mim foi uma lição

Na vida o que eu vivi

Só sabe o que é o amor

Quem já sofreu dissabor

Pela sua caminhada

Quem pensa que viveu tudo

É cego ou surdo-mudo

Da vida não sabe nada.

Não queria ter vivido

Para não sofrer de amor

O coração está doído

Tamanha é a minha dor

Joelhos postos ao chão

Lastimando essa paixão

Cabisbaixo a soluçar

E por mim mesmo aprendi

Foi aí que eu decidi

Por ninguém não mais chorar.

Só quem ama de verdade

Sente o peso da paixão

E afogado na saudade

Fica preso o coração

Ainda estando ferido

E mesmo desiludido

A dor não importa tanto

Esse amor fala mais alto

Diante de sobressalto

Sempre teve o seu encanto.

Caro Deus, Nosso Senhor

Tira-me dessa aflição

E seja lá como for

Não me deixe sofrer não

E muito já lacrimei

Tantas vezes eu roguei

Pro danado do meu santo

E eu de tudo já fiz

Até fingi ser feliz

Aí sofri mais um tanto.

Em frente eu vou seguir

Sem lastimar o passado

Não quero mais me iludir

Dou o caso por encerrado

O que aconteceu comigo

Pro meu ego sempre digo

Agora bola pra frente

O melhor a fazer é

Na estrada botar o pé

Como diz: atrás vem gente.

Deixa a vida me levar

Afora nesse mundão

Não quero mais me assuntar

Com coisas do coração

Mas o que passou, passou

Pra longe o vento soprou

Importa é sair bem dessa

Passado é para museu

No presente lá vou eu

Nada mais me interessa.

Para mim assim falei

E para quê resmungar?

Tanta coisa superei

De letra essa vou tirar

Isso tudo é bobagem

A vida é só de passagem

Presente minha pessoa

Tenho mais o que fazer

Eu preciso é viver

Porque a vida cedo voa.

Se alguém não chora por mim

Por que chorar por alguém?

Não quero ser manequim

Nem ser bobo de ninguém

O que importa ficar só

Nem de si mesmo ter dó

Eu já paguei meu pecado

E o suficientemente

Aliás, ardentemente

Amei e nunca fui amado.

Essa minha decisão

Já é fato consumado

Mesmo com ou sem razão

Eu já estou condenado

Não quero quebra-cabeça

Apenas que ela se esqueça

Esse passado frustrante

Se tem frequência de outrora

É uma fraca onda sonora

Que se ficou tão distante.

E se vier a lembrança

Em nada vai me abalar

Nem reza de pajelança

Não vai me fazer mudar

Já diz o velho ditado:

Certo bichano escaldado

Tem medo de água fria

Portanto, estou muito atento

Não quero constrangimento

Nem passar por agonia.

Desse fardo sou refém

Não tenho como negar

Até os confins do além

Comigo, sim, vou levar

Se minha sina é essa

Resta dizer – vamos nessa!

Dito destino cumprir

Só a mim foi reservado

De fato, sou eu o culpado

E tenho que admitir.

Às vezes fico indagando

Aqui com os meus botões

O peso que estou levando

Carregam mais corações?

E se é verdade ou não

A balança da paixão

Não tem pena de ninguém

Machuca só por vaidade

Causando imensa saudade

No peito do seu refém.

De fato, a bem da verdade

A carga é dolorida

É como a própria vaidade

Desfilando pela vida

Porque eu sei o quanto enfeza

E também o quanto pesa

O peso de uma paixão

Quanto mais se pensa nela

Aí que ela bota-sela

E espora o coração.

Mas é preciso ser forte

Pra vencer lamentações

Dentro de si ter suporte

Para tais situações

Aprender se acostumar

Pra poder continuar

Envolvido na emoção

Em meio ao padecimento

Tragado de sentimento

Contido pela paixão.

Não adianta ser durão

Se bem no fundo do peito

Lá resmunga o coração

Dizendo eu quero e aceito

Essa paixão carregar

Comigo sempre levar

A qualquer lugar que for

Já que ela não sai de mim

Tenho que proferir sim

Pra aquietar minha dor.

Mesmo sendo fingimento

Nem que seja por instante

Tenho que estar atento

Pra não sofrer o bastante

Como já tenho sofrido

Preciso estar precavido

De qualquer decepção

Só por capricho do amor

Simplesmente vou me impor

Contra essa ofusca ilusão.

É o pior pesadelo

Que se tem durante a vida

É a dor de cotovelo

Quando é a contramedida

Na paixão principalmente

Não sendo correspondente

Aí que vem perturbação

A cabeça fica a mil

Permanece o amor febril

E desanda o coração.

E desde o encontro primeiro

Tudo traz recordação

Até o beijo derradeiro

Estufado de emoção

Belas frases ensaiadas

Em noites enluaradas

Fazendo juras de amor

Só me restou o contrapeso

E um coração indefeso

E traspassado de dor.

Tudo marca nessa vida

Dum abraço ao mero olhar

A uma triste despedida

Ao cafezinho no bar

Foi assim essa paixão

Com o seu estilo jargão

E muito mexeu comigo

Aliás, muito sofri

De tanto que me envolvi

Quase me leva ao jazigo.

A paixão é deslumbrante

Disso eu nunca duvidei

Pra mim foi sempre marcante

Pois pra ela me entreguei

Diante dos meus queixumes

Só me restou tais costumes

Daquele feliz meu bem

Recordo e com emoção

E eu jamais fiz questão

Esconder nada a ninguém.

A paixão é poderosa

É também encantadora

Às vezes é dolorosa

Porém, muito sedutora

E por ela fui fisgado

Agora vivo enjaulado

Feito indomável leão

Já tenho feito de tudo

Até me fiz de parrudo

Tal esforço foi em vão.

Se é esse o meu destino

Remoer essa paixão

Eu já sou um peregrino

Afora nesse mundão

Quer chova, quer faça Sol

Permaneço nesse rol

Até o meu dia final

Se não dá para esquecer

Único jeito é viver

Levando a vida normal.

Que me importa cicatriz

Por esse peso marcado

Se eu já fui tão feliz

Sou grato ao meu passado

Sempre nele me esbarro

Ainda nele me amarro

Mesmo tido ingratidão

Essa picante ferida

E por toda a minha vida

Vai arder no coração.

Bem que eu muito tentei

Dessa paixão me livrar

Foi aí que me enganei

E comecei me adestrar

Diante meu pesadelo

Ih! Foi aquele atropelo!

Cada vez mais me enrolava

Por tudo a qualquer instante

Eu me sentia ofegante

E mais a paixão pesava.

Nem o tempo me ajudou

Apagar essa aflição

Em mim ainda ficou

Pedaço dessa alusão

Procurei de todo jeito

Sair com o pé direito

Do laço que me amarrava

Parece até um castigo

A cruz que ficou comigo

Nem Jesus Cristo aguentava.

Mundo afora lá vou eu

Cabisbaixo e sem ação

Comigo o que aconteceu

Pra ninguém desejo não

E só eu sei o que sofri

Só depois que descobri

Quanto pesa paixonite

Oh meu Deus qual o motivo

Desse amor sufocativo

Agindo em mim sem limite?

Eu não suporto mais não

Essa pedra transportar

Por que, motivo e razão

Eu devo continuar?

Rogo para ti meu Deus

Retira dos ombros meus

Essa gigante pepita

De coração eu confesso

Em mim já virou possesso

Essa opressão parasita.

Nem sei mais o que fazer

Ante essa situação

Eu preciso é viver

Com ou sem essa paixão

Mesmo indo contra a maré

Nem que saia em marcha à ré

Meu adeus vou acenar

Eu tentei de tudo, juro

Já passei por muito apuro

Não quero mais me enganar.

Meu coração consultei

E recebi seu aval

Disse-me: o que já passei

Em mim doeu por sinal

Agora daqui pra frente

Tudo vai ser diferente

Não quero ser judiado

Lágrima que derramou

Dentro de mim respingou

Deixando-me sufocado.

Sendo assim vou me cuidar

Pro coração respondi

Não vou mais lhe perturbar

A lição já aprendi

O fardo que transportei

Que por ele até chorei

Já ficou lá no passado

Eu garanto pra você

Dentro desse bambolê

Nunca mais serei girado.

Todo cuidado é pouco

Pra não cair numa trama

O amor às vezes é louco

Até faz aquele drama

Só pra chamar atenção

Mesmo com ou sem razão

Berra, grita e esperneia

Impetrando muita paz

E de vítima se faz

Em lágrima se incendeia.

Por mais que venha doer

Uma paixão pela vida

Não é fácil esquecer

A pessoa mais querida

E por mais que o coração

Tenha lá sua razão

Amolece num instante

E ligeirinho se entrega

E é bem melhor se for brega

Aí fica alucinante.

Fim.

Francisco Luiz Mendes
Enviado por Francisco Luiz Mendes em 02/07/2019
Código do texto: T6686781
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