O deus dos holofotes
Há um Deus dos oprimidos
Outro deus dos sem vergonha
Um deus só para os bandidos
Outro para quem não sonha
Um deus para os pervertidos
Outros para a dor medonha.
Sempre há deus para o pedinte
Sempre há pra quem não pede
Sempre há deus para ouvinte
E também pra quem não cede
Há um deus para o acinte
Outro para quem promete.
Ha deus pro apaixonado
Também há para o sofrido
Um deus para o ocupado
Outo para o corrompido
Outro para o mal amado
Outro para o mau marido.
Há um deus lá na favela
Que não tem onde morar
Ele não põe na panela
A comida pro jantar
Sempre fica na janela
Vendo o tempo passar.
Nesse deus eu não confio
Nele está toda maldade
Dele eu sempre desconfio
Ele é pura falsidade
Em período de estio
Ele vai para cidade.
Quando chega a invernada
Ele volta para o campo
Finge que não sabe nada
O que prega é desencanto
Sua mala é recheada
E colocada em um canto.
Esse deus esclerosado
Que se prende aos holofotes
É aos poucos destronado
Por se juntar aos magotes
Se dizendo magistrado
Proíbe blusa e decotes.
Mas há Deus para o vencido
Que procura a solidão
Ele sempre é escolhido
Pra falar à multidão
Nunca fica escondido
Não aceita imposição.
Esse deus é verdadeiro
Não se expõe aos holofotes
Não precisa de dinheiro
Não ofusca a luz dos postes
Ele é sempre o primeiro
A guiar as suas hostes.
Não há deus pra quem precisa
Sair pregando virtude
Ele não enxerga a brisa
Que auxilia a saúde
Ele somente reprisa
Pedindo que lhe ajude.
Muitos deuses são vendidos
Outros tantos são comprados
Muitos outros escondidos
Quase nunca são mostrados
Ricos tapetes estendidos
Cobrem danos provocados.
Não há deus pra quem humilha
O irmão desesperado
Que saiu da sua trilha
Hoje está amargurado
Sua vida é uma ilha
Na qual vive confinado.
Sempre há Deus pro oprimido
Que não tem religião
Ele é desprotegido
Por não ter nenhum tostão
Ele nunca é atingido
Pela grossa escuridão.
Todo deus é compassivo
Não permite injusta pena
Cada um com o seu ativo
Tem um pouco que o condena
Mas enquanto estiver vivo
Vai permanecer em cena.