Era pra dá dó

Tocando o gado pra casa

Seguia o “vei” numa burra,

Da cor de raposa suja

Volte e meia ela zurrava,

Se deu nome, não falava,

Como se é de costume,

Cheirosa, tal qual estrume,

Certa vez presenciei,

-Se era apelido não sei,

Mas, a chamou de Xibungue.

Era pra ser um José,

Mas, no alguidar do batismo,

O padre com carrancismo,

Sua mãe orando em fé...

“Pronde” vão com tanto Zé?

Esturra o padre Alemão,

Ainda impõe um sermão;

-Doze! nessa desobriga,

Para evitar uma briga

Alguém pediu sugestão.

Pense em “graça” diferente

Um nome com mil virtudes,

Por exemplo, o meu, Hiltrudes!

-Aceitaram inconscientes,

O padre muito imprudente,

Fez a cruz ao seu xará

E ele? nem vou falar...

Lastimava todo dia:

O infeliz por picardia

-Praguejou-me ao batizar...

Com o nome em questão,

De origem saxônica

Talvez, comum na Germânica,

Mas, não aqui no Sertão,

Pense numa confusão

Para um ”foên" soletrar

E para um gago acertar?

É pra língua dá um nó:

Irei chamá-lo de Dó

Frisou o pai ao falar.

Um anjo com seu facão

Roubou-lhe a mãe muito cedo,

Nunca teve um só brinquedo,

Só as brasas dum tição,

Calejando logo as mãos,

Fez-se homem, inda criança,

Não cruzou c’a tal infância

Se duvidar viu a fome...

Mas, cravejou o seu nome

Sem ter, ou tendo esperança

De madrasta, teve a vida,

De professora, a coragem,

De calvário, a estiagem

E as feridas, sua brida,

De fé, tão retorcida;

De fardo, o mundo ferino,

Com seus dentes tão caninos,

Destroçando o seu porvir

Mas, levantando ao cair

Desleitou o seu destino.

Era pedra pra ser pó,

Mas, nunca “cabisbaixou”

E jamais fragmentou,

Desatando qualquer nó,

Foi assim que o Vovô Dó

Enforcou a sua sina

E fez da bela menina

Nazinha, a sua mulher

De honra e para o que der

Sob o sol ou na neblina.

De onça foi matador,

Suçuarana ou Pintada,

De penedo, fez estrada,

Foi vaqueiro e lavrador

E lhe digo, meu senhor,

Vaqueiro no calumbi,

Ligeiro como um zumbi,

Se duvidar que é verdade;

Pergunte ao finado Nelson

E ao finado 'Antoi-Cumpade".