Cordel Fabuloso - Os Carneiros e Os Carniceiros

Era uma vez alguns carneiros,

Que estavam a pastar,

Então apareceram dois carniceiros,

Sedentos para capturar

Qualquer um do rebanho

Que lhes desse bom ganho,

Velho ou novo iriam papar.

O animal foi morto mesmo ali,

Mas os outros ficaram mudos

E não tiraram as patas dali,

Pareciam completamente surdos,

Permaneceram indiferentes,

Numa atitude contradizente

Com o colega e com tudo.

Os açougueiros se animaram,

Miraram outro carneirinho

E pra cima dele se jogaram

Matando mais um bichinho,

Os parentes não deram berro

Quando este levou ferro

E logo faleceu o coitadinho.

E foram matando um a um

Sem receberem oposição,

A salvo não estava nenhum,

Mas não esboçaram reação,

Permaneceram na indiferença,

Inertes diante da cruel sentença

Como coniventes à brutal ação.

Quando apenas um restou,

Sentindo aproximar seu fim,

Com tristeza ele lamentou

Dizendo entre lágrimas assim:

“Por que não reagimos no início

E aceitamos calados tal suplício?

Agora a morte chegou pra mim.

“Éramos muitos contra dois,

Podíamos ter lutado com bravura,

Mas fomos abatidos como bois,

Nada mais posso a esta altura,

Pois o meu fim é coisa certa,

Já posso ver minha pele aberta,

Que triste esta minha ventura!”

Mas esta fábula deprimente

Tem algo para nos mostrar,

Se você ficar indiferente

E o sofrimento do outro ignorar,

Não será pessoa decente,

Pois se hoje a dor está longe

Lembre que você não é monge

Para o mundo não lhe afetar.

Poema baseado na Fábula de Esopo.