Uma voz desesperada.

Uma voz desesperada

Vagando pela cidade

Caminhava na calçada

Implorado caridade

A ninguém pedia nada

Queria oportunidade.

Eu olhei as suas mãos

Todas muito calejadas

Perguntei qual a razão

Ela disse ser a enxada

Disse que sem profissão

Ela não consegue nada.

Perguntei o que queria

Ela disse que é trabalho

Eu lhe disse que daria

Mas existe o frio orvalho

À noite ela estudaria

Pra fugir daquele ordálio.

Ela me abraçou sorrindo

Disse que estou sendo um pai

Para onde estava indo

De la nunca ninguém sai

Disse ver o ceu se abrindo

Quando viu o que a distrai.

Mostrei qual era o seu quarto

Ela não acreditou

Disse que depois eu parto

Ela não sabe onde vou

Eu lhe disse que descarto

Tudo que ela pensou.

Ela disse repentino

Voce não pode sair

Eu vou ter o meu menino

E você vai instruir

Eu não vou ter desatino

De falar e não ouvir.

Eu lhe disse que o garoto

Iria ficar com ela

Todavia algum desgosto

Poderia vir pra ela

Mesmo sendo de mau gosto

A minha casa era dela.

Ela me olhou chorando

Disse que não tinha nada

Eu a ela estava dando

A vida sempre sonhada

De mim estava cuidando

Sem de mim esperar nada.

Eu lhe disse: vou sair

Pra comprar o mantimento

Mas eu volto pra dormir

Também faço o pagamento

Ela disse a me sorrir

Vou fazer seu alimento.

Eu fingi que não ouvi

Mas guardei no pensamento

Como eu devia agir

Sem nenhum conhecimento Dela iria desistir

Quando chegasse o momento.

Quando eu cheguei em casa

Vi a minha janta pronta

Meu fogão estava em brasa

Eu pensei que estava tonta

Vi que ela não atrasa

Tudo isso entrou na conta.

Eu sentei para o jantar

Ela não apareceu

Eu chamei para escutar

Ela logo me atendeu

Eu lhe disse pra sentar

Ela então me respondeu.

Eu não devo me sentar

Na mesa com o patrão

Cada um no seu lugar

Isso é boa educação

Apesar de trabalhar

Eu não tenho condição.

Eu olhei nos olhos dela

E pedi para sentar

Eu peguei uma tigela

Para os ossos colocar

Na mesa pus a panela

Pra sopa não esfriar.

Quando o bebe nasceu

Eu vibrei de alegria

Não foi como um filho meu

Porem eu o criaria

Sua mãe compreendeu

E de mim nada queria.

Foi tão grande a minha sorte

Que o menino se formou

Se tornou um homem forte

Ao trabalho dedicou

Praticava o seu esporte

E de mim também cuidou.

No final da minha vida

Eu casei com aquela dama

Ela viu minha partida

E cuidou de mim na cama

Eu falei na despedida

Sou aquele que te ama.

Renato Lima
Enviado por Renato Lima em 25/08/2019
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