NO PICADEIRO DA TRAMA
A vida perdeu a graça
Sem você ao meu lado
Eu me sinto alienado
Naquele banco da praça
Que tristeza, que desgraça
Eu não tenho mais prazer
Vou vivendo por viver
Tão somente nesse mundo
Como um velho vagabundo
Vagando no anoitecer.
Mas eu vivo desse jeito
Infeliz, desatinado
Um alguém é o culpado
Pois me fez esse malfeito
Eu também não sou perfeito
E tampouco quero ser
Aliás, quero esquecer
Quem de mim tanto zombou
Sem razão me abandonou
E muito me fez sofrer.
Todo esse meu sofrimento
Que levo dentro de mim
É doloroso e sem fim
Causa-me entristecimento
Além disso agitamento
Deixando-me mais possesso
Eu me sinto em retrocesso
Perambulando na vida
Sem destino e sem guarida
No mundo afora me ingresso.
E sendo assim lá vou eu
Puxando o próprio destino
Dentro dele um figurino
Tão maltrapilho e plebeu
Por longo caminho breu
Sem saber onde chegar
O que, de fato, esperar
De sombria caminhada
Muito espinhosa e malvada
Está sempre a me cercar.
Qual o motivo e razão
Em mim dessa chicotada?
De repente, assim, do nada
Que me deixou sem o chão
Abalou o meu coração
Fazendo-me entristecer
Sem saber o que fazer
Saí a perambular
Procurando me atinar
Para voltar a viver.
A vida ficou exposta
Como cartaz de cinema
De certo modo esse edema
É uma cruz às minhas costas
Eu interrogo: - A quem gostas
De estar em exposição?
Tal qual um guarda-patrão
Aos olhos de todo mundo
Milésimo por segundo
Procurando alguém em vão.
É assim que eu me sinto
Prisioneiro de mim mesmo
Andando na vida a esmo
À procura dum recinto
Adentro desse meu instinto
Em frente tenho seguido
De punho firme e erguido
Sequer olhar para trás
Sem se importar, aliás,
Com o meu tempo perdido.
De que me adianta agora
Lamentar o que passou
Já foi o vento soprou
Outra vida mundo afora
Pra mim não existe hora
Nem minuto e nem fração
Cronômetro é o coração
Que me diz o que fazer
Que é preciso viver
Ante uma desilusão.
Agora é seguir em frente
Sem muita interrogação
Colocar os pés no chão
Mover-se para o presente
Reconstruir novamente
Coração desfalecido
Ainda está deprimido
Pelo baque que sofreu
Mas hoje reconheceu
O quanto foi iludido.
Embora após atenção
Tão fácil sei que não é
Carece bater o pé
E segurar a emoção
Não cair em tentação
Perante uma insensatez
O arrepender-se talvez
Seja mais amargurado
Fardo fica mais pesado
E haja choro outra vez.
Precisa-se estar atento
Para não se atropelar
Se bem que hoje posso estar
Amanhã noutro momento
Muda-se o comportamento
Tudo pode acontecer
Recaída pode haver
E muito avassaladora
E bem mais provocadora
Trazendo mais padecer.
E mesmo havendo pressão
Eu não poderei ceder
Pode tudo que acontecer
Não aceito provocação
Vou seguir o coração
Custe lá o que custar
Eu tenho que suportar
De que me importa a dor
Preciso me dar valor
E em frente continuar.
Deixa a vida me levar
Seja lá para onde for
Eu só quero paz e amor
Por aí me debandar
Necessito me encontrar
Pra me restabelecer
Ainda sinto doer
O ferrão duma ferida
Ainda bem dolorida
Aqui dentro do meu ser.
Cada dia que se passa
Procuro me equilibrar
Passado pra trás deixar
E meter a mão na massa
Essa mágoa que me assa
Deixo o tempo consumir
Eu vou me reassumir
Com todos os meus direitos
E pra todos os efeitos
A vida reconstruir.
Sei que fácil não será
Mas nada vai me impedir
Tenho que me garantir
À frente desse fuá
Nada mais me assustará
Vou ficar encorajado
Um tanto mais engajado
Ante meu objetivo
Para seguir firme e vivo
E muito mais motivado.
Quanto mais força eu tiver
Mais veloz me recupero
E é o que eu mais quero
Assim venha o que vier
Seja lá o que Deus quiser
Contudo, daqui pra frente
Vai ser tudo diferente
Muita coisa pra aprender
Principalmente viver
E muito mais sorridente.
Tenho que estar preparado
A qualquer situação
Que seja do coração
Seja lá outro babado
Nunca ficar relaxado
Nenhum minuto na vida
Eu preciso dar partida
Impulsionar caminhada
E botar o pé na estrada
Por enquanto só de ida.
Quanto mais ficar distante
Seja que enigma for
Bom é ser mediador
E menos ser implicante
O melhor é ir adiante
Se preciso a passos lentos
Sem queixumes, sem lamentos
Sequer para trás olhar
Ter dó de mim nem pensar
Tampouco ressentimentos.
Não é justo que eu fraqueje
Se até aqui já cheguei
Careço avançar, eu sei
Mesmo que eu me rasteje
E nem que o corpo lateje
Mundo em mim venha cair
Eu tenho é que resistir
Tentações de minha mente
Viver agora o presente
E para a vida sorrir.
Eu devo ficar atento
Não posso me descuidar
Se não vou me torturar
E adentrar mais sofrimento
Com mais arrependimento
Aflições e tudo o mais
Voltam feitos vendavais
Sufoco será maior
A coisa fica pior
Aí adeus aos meus ais!
A pressão pra mim, aumenta
Isso não posso negar
Mas tenho que suportar
A acidez dessa pimenta
Que é parte dessa tormenta
Que levo nos ombros meus
Por longos caminhos breus
Por zelo dum bem-me-quer
Que fez de mim um qualquer
Deixando ao valha-me Deus.
O tempo é meu aliado
Não há mais ninguém por mim
Nem por isso é o meu fim
Pois encaro esse babado
Muito até bem-humorado
De cabeça erguida sigo
E vai somente comigo
Quem me representa agora
Aquele mundo de outrora
Já encovei num jazigo.
A minha história ficou
Bonita até certo ponto
A personagem do conto
De sua vida me expulsou
Porém a mim só restou
Uma escrita rabiscada
Numa página rasgada
Desse causo assoberbado
Naquele canto largado
Numa estante empoeirada.
Agora daqui pra frente
Será outra a minha história
Que ficará na memória
No seio de muita gente
Tudo vai ser diferente
Do que fui e agora sou
O vento que foi voltou
Trazendo-me mais prazer
Devolvendo o meu viver
Que de mim alguém roubou.
Quem pensou tá me ferindo
Deu foi co’a cara no chão
Daí viu-se em frustração
Quando até me viu sorrindo
Então, a vida curtindo
Adoidado, assim se diz
Sem lembrar nem cicatriz
Melhor eu nunca vivi
Serei o que eu decidi
Hilariante, feliz!
Tristeza chega pra lá
Novamente me encontrei
Viver para mim é lei
Por diante assim será
E chega de blá-blá-blá
O ontem não fere mais
Estou atento aos sinais
Não posso ficar passivo
Quero estar é muito vivo
Que venham os vendavais.
Após a desilusão
Não tenho nada a temer
Do oposto, só me faz crer
Nessa força da razão
Dando-me disposição
Para em frente prosseguir
No direito de ir e vir
Enquanto vida puder
Assim venha o que vier
Pronto estou pra reagir.
E de agora por diante
Quero viver o presente
O passado está no ausente
Pra mim fica inoperante
Dele quanto mais distante
Eu terei menos lembrança
Afinal, menos cobrança
E que a paz venha a reinar
Que eu até volte a sonhar
Sereno feito criança.
E se assim me sinto bem
Assim vou continuar
Não quero mais me queixar
De mim para mais ninguém
Nem sequer ficar refém
Por capricho de ilusão
Tal fedelho bobalhão
Falando sozinho à Lua
Na esquina de qualquer rua
Pro amor rogando perdão.
Não quero mais me iludir
Diante do que já passei
Tamanha dor só eu sei
Quase vim a sucumbir
Eu tive que reagir
Tudo no tempo e na hora
Foi assim que eu dei o fora
Nessa tal de solidão
E agindo pela razão
Desse amor, foi tudo embora.
Agora chegou o momento
De me cuidar um pouquinho
Eu fui um pouco mesquinho
Com meu próprio sentimento
Atirei-me ao sofrimento
Só pensando em ser feliz
Criei uma cicatriz
Que sempre me marcou
À loucura me levou
Mas me salvei por um triz.
No picadeiro da vida
Todo cuidado ainda é pouco
Coração, terra de louco
Amor, fogo sem medida
Ainda deixa uma ferida
Aos poucos vai se alastrando
De mansinho vai queimando
Deixando a alma em chama
Lá no peito de quem ama
Marcas cruéis vão ficando.
FIM.