GALDINO E INÊS UM AMOR ACIMA DE TUDO
foi no ano, setenta e sete
bem lá no século passado
No Nordeste brasileiro
Num determinado estado
Aquele caso de amor
Também revelou terror
Num pequeno povoado.
Num quieto vilarejo
Habitava um cidadão
Moço, fino e educado
Querido na região
Honesto e trabalhador
Digno e respeitador
Pra qualquer ocasião.
Ele festejava a vida
Com intensa alegria
Aonde ele estivesse
Tristeza não existia
Era um garoto do bem
Vivia como ninguém
Densamente o dia a dia.
Esse moço pro os amigos
Era versado por Dino
Codinome recebido
Ainda quando menino
E nem imaginaria
O que lhe reservaria
Seu oportuno destino.
Porém esta vida prega
Mil peças no ser humano
É de arrepiar a alma
Até mesmo em desumano
Assim desde pequenino
Que é traçado o destino
Aliás, não há engano.
E foi o que sucedeu
Com esse pobre rapaz
Que ficou preso às rédeas
Da donzela Inês Ferraz
Filha desse Coronel
Gusmão Ferraz de Gurgel
E Ana de Souza Tomaz.
Chegava a maior idade
Galdino seguia estrada
Numa de suas andanças
Já cansado de pernada
De um rancho se achegou
Foi gentil, solicitou
Pernoitar nessa pousada.
O senhor daquele rancho
O aceitou pernoitar
Galdino ficara grato
Queria o remunerar
Mas ele não concordou
Suavemente expressou
Nada aqui tens a pagar.
Galdino lhe deu boa-noite
No seu canto acomodou
Estava muito esgotado
Tanto que peregrinou
Do jeito que ele estava
No cubículo se espojava
Ali mesmo se apagou.
Noutro dia bem cedinho
Pois já estava de pé
Ligeiro juntou seus trapos
Depois fez o ato de fé
Ele em oração pedia
Proteção, Virgem Maria
E também meu São José.
Outra vez agradeceu
Ao amo da hospedaria
Por ele ter lhe acolhido
Nessa sua moradia
Galdino apertou sua mão
Disse-lhe: obrigado irmão
Então, até qualquer dia.
Esporou seu pangaré
Mundo afora ele saía
Nas veredas do sertão
Sem rumo ali seguia
Só o canto da cigarra
Barra após outra barra
Fazia-lhe companhia.
Depois de seguidas horas
Caminhando sem parar
Vencido pelo cansaço
Decidiu ali ficar
Na sombra dum juazeiro
Arquiteta seu poleiro
Para nele descansar.
Pois aquele seu sossego
Pouco tempo demorou
Um tiro de mosquetão
No juazeiro ribombou
O susto foi tão danado
Que seu pangaré coitado
Desacordado ficou.
Galdino ficou sem fala
Do alarme que passou
Fez menção de se erguer
Em seguida tropeçou
De trêmulo que estava
Nem em pé se segurava
Para o chão se inclinou.
Totalmente atordoado
Tentava se levantar
O autor desse disparo
Começou lhe indagar
Moço você de onde vem?
E com a ordem de quem
Nessas terras se arranchar?
Meu caro amigo rapaz
Não me julgue bandoleiro
Eu lhe peço, por favor
Para me escutar primeiro
Pela fadiga fui vencido
Também está esbaforido
Pangaré meu companheiro.
O capataz respondeu:
Para mim nada a contar
Pois essa sua história
Você vai ter que explicar
Para o meu patrão somente
Agora, evidentemente
Porque aqui veio parar.
Galdino obedeceu
Com o capataz marchou
Pelas rédeas também
O seu pangaré puxou
Não tinha o que ocultar
Só a verdade a falar
Porque ali ele parou.
Galdino estava sereno
Diante da intimação
E não tinha o que temer
Por isso não fez questão
Capataz acompanhar
Para se justificar
Com o seu senhor patrão.
O capataz prontamente
Ao patrão comunicou
Que na sua propriedade
Um forasteiro encontrou
E que tinha lhe trazido
Para ser por ele ouvido
Pelo que ele lhe falou.
Bem defronte pra Galdino
Lá estava aquele senhor
Para ele se dirigiu
E de modo ameaçador
Rapaz aqui a que veio?
Responda-me sem rodeio
E ligeiro, por favor.
Com muita tranquilidade
Galdino lhe respondeu:
Não tenho o que camuflar
Só carrego o que é meu
Comigo não tem segredo
Apresento-me sem medo
Já lhe digo quem sou eu.
O meu nome é Galdino
De Pádua Gondim Arrais
Eu sou digno e correto
Bem como meus ancestrais
Não sou nem um vagabundo
Apenas mais um no mundo
Adentro tantos mortais.
Meu caro senhor, me ouça
Peço-lhe até, por favor
Eu só parei por aqui
Por um simples indispor
Meu nanico pangaré
Não ficava mais de pé
De tanta, fome e dor.
Pois muito bem meu rapaz
Causou-me boa impressão
Destemido e astucioso
E comprova educação
Eu vou me apresentar
Pois aqui nesse lugar
Sou o Coronel Gusmão.
Há pessoas por aqui
Falam até mal de mim
Dizem por aí que tenho
Sangue de porco-espim
O que vão ainda lhe falar
Não se deixe impressionar
Eu não sou nenhum Caim.
Dino disse: - Coronel,
Pois não fique preocupado
Eu já estou de partida
Entendi o seu recado
Se o senhor é bom ou não
Não me deve explicação
O que ouvi fica enterrado.
Gostei de sua postura
Disse-lhe: o Coronel
Você é audacioso
Fala como um bacharel
É de boa aparência
Usa-se de inteligência
E demonstra ser fiel.
Pra você tenho proposta
Gusmão diz: ouça-me bem!
Que é do meu interesse
Deve ser do seu também
Refiro-me a serviço
Aqui para o noviço
Diga-me, se lhe convém.
Bem espontaneamente
Galdino diz: - Coronel,
Aceito sim o convite
Trabalhar no seu cartel
E eu quero já saber
O quanto vou receber
Por mês moeda em papel.
Não se atente com isso
O Coronel respondeu:
A partir desse instante
Já és empregado meu
Não importa qual valor
Seja lá que preço for
Recompenso o custo seu.
O Coronel fica grato
Pela resposta evidente
Pra o capataz ordenou
Que apresentasse urgente
Para todo o proletário
Aquele novo operário
O contratado recente.
Galdino era carismático
Aliás, muito eficaz
Desse modo foi ganhando
Crédito do capataz
Por ser muito divertido
Ganhara o apelido
Boa-pinta e bom rapaz.
Ele era muito romântico
Gostava de emoção
Seu anseio acresce mais
Ao despertar a paixão
E veja logo por quem
Coração ficou refém
Foi da filha do patrão.
No momento que ele a viu
E deslumbrado ficou
Ligeiro o seu coração
Num instante o confessou
No mundo primaveral
Nunca vi beleza igual
Diante da qual estou.
Essa donzela formosa
Que chamou sua atenção
A filha do Coronel
O seu temido Gusmão
Além de ser poderoso
Tinha fama de tinhoso
Por toda a região.
Galdino estava aquecido
Borbulhava de paixão
Aquela beleza única
Mexeu com seu coração
Almejava lhe falar
Porém como se achegar
Daquela flor do sertão?
Ferraz era o sobrenome
Daquela linda donzela
E que deixara Galdino
Doido de amor por ela
Como ele mesmo disse
Desde sua meninice
Jamais viu moça tão bela.
A cada dia da semana
Galdino se apaixonava
Em silêncio ele sofria
Por ela ele murmurava
Batia o seu coração
Afogado de paixão
Enquanto nela pensava.
Aquela menina moça
Pela manhã todo dia
Passeava pelos prados
Sempre pela mesma via
E por força do destino
O apaixonado Galdino
Seu curso descobriria.
Para o dia subsequente
Já estava à sua espera
E de repente lá vem
Sua flor de primavera
Ela vinha acompanhada
De sua fiel empregada
A quem muito considera.
Galdino não hesitou
Para ela fez um sinal
E a senhorita Inês
Num gesto bem cordial
Dele se aproximou
Seu coração quase parou
Nesse encontro casual.
A emoção foi tamanha
Que sua fala engasgou
E muito educadamente
Logo a cumprimentou
O meu nome é Galdino
Pra você apenas Dino
Para o seu dispor estou.
Inês se sentiu nas nuvens
Diante do galanteio
Para o senhor cavalheiro
Não demonstrara receio
Pois muito pelo contrário
E sem muito comentário
Ela adorou seu gorjeio.
Mas logo já percebeu
Que ele se emocionou
Ela além disso sentiu
Que seu coração vibrou
Não dando demonstração
Acenou-lhe com a mão
E dali se retirou.
Ele emocionadamente
Pra ela só gesticulou
Com olhos aboticados
Apenas lhe admirou
O seu coração se agita
Nem uma palavra dita
Tão abalado que ficou.
A partir desse encontro
Outros ares do destino
Deram mesmo um empurrão
Para Inês e Galdino
O acaso selava os dois
O que ocorria depois
Tava nas mãos do divino.
Inês ficou pensativa
Após o seu galanteio
Seu coração parecia
Que estava até alheio
E Galdino novamente
Queria vê-lo urgente
No seu próximo passeio.
Inês evidentemente
Diferente se sentia
E percebeu que mudara
Depois desse bento dia
Que encontrara Galdino
Esse gentil figurino
Da mente não lhe saía.
Sua empregada também
Alguma coisa notou
Ela estava mais alegre
Que rola fogo-pagou
Vivia cantarolando
Inclusive até ensaiando
Frases que Dino citou.
Mas parece que o acaso
Dos dois a favor soprava
Galdino ao Pôr do Sol
Meio cabisbaixo andava
E quando tão de repente
Ele vê à sua frente
Quem tanto ele desejava.
E ele por um instante
Não queria acreditar
Assim logo a cortejou
Com voz a balbuciar
Tava muito emocionado
E até desajeitado
Nem sabia o que falar.
Inês logo percebeu
Tamanha foi a emoção
Pois o mesmo ela sentira
Dentro do seu coração
Não sabia o que fazer
Tampouco como esconder
Também a sua paixão.
Eles prendem os olhares
E silenciosamente
Só o céu testemunhava
Esse momento envolvente
Ali a mão do destino
Sagrava, Inês e Galdino
Sob a luz do Sol-poente.
Ali se aproximaram
Trêmulos e emocionados
Pelo impulso da paixão
Ficaram entrelaçados
E Inês por um momento
Perdia-se em pensamento
Nos beijos apaixonados.
Após aquele instante
Ela ficou embaraçada
Com o rosto cabisbaixo
Ainda muito envergonhada
Porque era a primeira vez
Que a bela jovem Inês
Estava sendo beijada.
E Galdino percebeu
Que ela ficara vexada
Disse-lhe: erga a cabeça
Não fique encabulada
Pois quando o coração manda
A gente obedece e anda
Enfrenta qualquer parada.
Com a voz balbuciando
Ainda toda sem jeito
Ela diz para Galdino
Não há segredo perfeito
Estou preocupada sim
Não sei o que será de mim
Quando souber um sujeito.
Inês ficara cismada
Galdino preste atenção
Esqueceste que meu pai
É o rei desse sertão?
O homem mais poderoso
Influente e majestoso
Além disso o seu patrão?
Galdino lhe respondeu:
Você tem toda razão
Seu pai pode ser também
O dono desse mundão
Esqueceu-se, porém, ele
Que nem tudo aqui é dele
Mormente seu coração.
Vamos ter que dar um jeito
Galdino pra Inês falou
Eu não sei como vai ser
Mas assim articulou
A solução é fugir
Se arrume para partir
Ela logo concordou.
Sem medo eles combinaram
E tudo bem direitinho
Já para o dia seguinte
Fugiram e bem cedinho
Somente sua empregada
Sabia da trama armada
De Inês e seu brotinho.
Capataz Chico das Dores
Tinha por obrigação
Que uma vez por semana
Ele fazia inspeção
De porta em porta saía
Fazendo a romaria
Barracão a barracão.
Da cabana de Galdino
Porém ao se aproximar
Ele percebe algo errado
Começa a questionar
Pensou assim o capataz
Será que o bom rapaz
Já acordou e foi trabalhar?
Encerrou a inspeção
Dirigiu-se para o roçado
E quando chegou por lá
Não foi Galdino avistado
Indagou Chico das Dores
Aos outros trabalhadores
Se alguém o tinha encontrado.
Mas a resposta foi seca
Aqui ele não passou
Capataz deu meia-volta
E dali se retirou
Esporou seu alazão
Em busca do seu patrão
Que a poeira levantou.
Senhor Coronel Gusmão
Quando viu o capataz
Parecia que ele vinha
Correndo de Satanás
Pra ele assim perguntou:
Quem dessa vez aprontou?
Desembucha já rapaz.
Senhor quer mesmo saber?
O capataz respondeu:
Galdino até o momento
Na roça não apareceu
Ninguém sabe o paradeiro
Andei todo catingueiro
O homem se escafedeu.
Mas o Coronel Gusmão
Até de surdo se fez
Para o capataz falou:
Oh, mas quanta estupidez!
Porém o que aqui me traz
Já sei de tudo rapaz
Ele fugiu com Inês.
Desse modo o Coronel
Pra o capataz ordenou
Reúna a cabroeira
Vão atrás deles, falou!
E só é para voltarem
Quando os dois encontrarem
Esperando aqui estou.
O capataz e seus homens
Em seguida se reuniram
Ligeirinho à procura
De Galdino e Inês saíram
Uma pista aqui e acolá
Um rastro ali e outro cá
Mundos afora sumiram.
A essa altura dos fatos
O casal de enamorados
Já estavam bem distantes
Mas ainda preocupados
E vigilantes e atentos
Porém em quaisquer momentos
Podiam ser capturados.
Foi naquele mesmo rancho
Que Galdino certo dia
Pediu para pernoitar
Partilhava sua alegria
Com Inês primeiramente
Depois quem teve presente
Naquela hospedaria.
A turma do Coronel
Tomando informação
Procedia em pista certa
Daquele casal fujão
Furava toda barreira
De fronteira a fronteira
Em nome de Seu Gusmão.
Os fujões Galdino e Inês
Pois já estavam sabendo
Que a turma do Coronel
Seus rastros vinham lambendo
Que lhes restavam fazer
Sertão afora correr
Para seguirem vivendo.
Quanto mais se evadiam
Da turma do Coronel
Mais pertos eles ficavam
Das garras desse cruel
Do intimidante Gusmão
O poderoso chefão
Da Fazenda Cascavel.
Senhor Coronel Gusmão
Pelo Agreste nordestino
A prêmio já colocara
À cabeça de Galdino
Pagava-se um bom dinheiro
Pra quem desse o paradeiro
Do intrépido libertino.
Enquanto, Galdino e Inês
Viviam felicidade
Na Fazenda Cascavel
E na sua extremidade
O tema era a premiação
Daquele genro fujão
Com sua cara-metade.
Apesar disso, Galdino
Soube da premiação
Rápido se preveniu
Tomou uma decisão
Ir ao Sítio Cascavel
Pra cobrar do Coronel
A sua indenização.
Inês sabendo quem era
O pai que ela tinha
Disse: - Galdino nem pense
Fazer essa abobrinha
Vamos esperar um pouco
Portanto, não seja louco
Deixa pra lá a picuinha.
Ele contradisse, Inês
De morte já estou jurado
Pois o seu pai não sossega
Até que me veja velado
Porém antes que aconteça
Viro de ponta a cabeça
O sertão e o seu reinado.
Assim Inês respondeu:
Faça uma reflexão
Cabeça é para pensar
Não haja pela emoção
E seja lá como for
Eu lhe peço, por favor
Esqueça a provocação.
Não leve em conta o que ouviu
Isso é mera falação
Porém o que decidir
Tem a minha aprovação
Estou pronta pra aceitar
E com você me embrenhar
Afora nesse mundão.
Com essa declaração
Ele eufórico ficou
Ainda muito comovido
A sua amada abraçou
E disse-lhe assim mulher!
As pazes se seu pai quiser
Também disposto estou.
Enquanto, lá na Fazenda
Cascavel por sua vez
Bochichos continuavam
Pelo que Galdino fez
O senhor Chico das Dores
Alerta os trabalhadores
Vejam! Que dizem vocês!
No mando do capataz
À procura foi em vão
O Coronel resolveu
Lavar também suas mãos
Não fez mais nenhum alarde
Já sabia que mais tarde
Ocorreria o perdão.
Galdino ainda temia
Sobre essa premiação
Por isso não dava bola
Pra não passar por vilão
Precisava estar atento
Porém a qualquer momento
Podia haver confusão.
No entanto, Inês e Galdino
Arrumaram as bagagens
E determinadamente
Marcharam logo em viagens
Em plena lua de mel
Pra Fazenda Cascavel
Retratar suas imagens.
Bem antes deles chegarem
Na Fazenda Cascavel
Alguém dessa redondeza
Informava ao Coronel
Que vira Inês e Galdino
Lá no Sítio Ouro Fino
Do seu primo Ezequiel.
Ao receber a notícia
Ali daquele emissário
Coronel Gusmão apenas
É grato ao signatário
Ali estava sentado
Permaneceu abancado
Não fez nenhum comentário.
Coronel Gusmão estava
Com coração balançado
E só ele entendia
Porque ficara calado
Porém consigo ele disse:
Essa rixa é tolice
Por mim estão perdoados.
Aí o Coronel Gusmão
Sentiu a necessidade
Botar um ponto final
Naquela rivalidade
Ele já estava cansado
Para que remoer passado
Queria tranquilidade.
Finalmente chegou o dia
E a hora da decisão
Ambos, Inês e Galdino
Frente a frente com Gusmão
Assim sem muito rodeio
Eles não fizeram feio
Pediram o seu perdão.
Com os olhos lacrimados
Coronel os perdoou
E disse-lhes: oh, meus filhos!
Bem melhor agora estou
Com vocês aqui comigo
Do meu coração lhes digo
A minha bênção lhes dou.
Além disso completou
Quero esquecer o passado
O mais importante agora
É tê-los aqui ao lado
Como muito que rezei
Até aos céus supliquei
Pra esse dia ter chegado.
Gusmão Ferraz de Gurgel
Um festejo preparou
Pra celebrar com Inês
Com quem ela se casou
Em meio àquela alegria
Num canto alguém se doía
Do que viu nada gostou.
Pois estou me referindo
Ao senhor Chico das Dores
E desde que Inês fugira
Ele ficara aos rancores
Não foi segredo a ninguém
Gostava dela também
Diziam nos bastidores.
Com o Coronel Gusmão
E com Inês e Galdino
Estava às maravilhas
Como manda o figurino
Birras, ódios e rancores
Tudo isso viraram flores
Ante os olhos do divino.
O moço Chico das Dores
Não estava satisfeito
Ligeiro bolou um plano
Se atinando no direito
Separar Galdino e Inês
Pra acabar de uma só vez
Aquele amor-perfeito.
De uma hora para outra
Foram surgindo boatos
O casal Galdino e Inês
Estavam quebrando os pratos
Eternos enamorados
Sequer eram bem-casados
Viviam a gatos e ratos.
Chico não se conformara
Com alegria de Galdino
Porém de tudo ia fazer
Para mudar o destino
Daquele tal casamento
Mais falado do momento
Do Agreste nordestino.
No entanto, esse mexerico
Na região se espalhara
O capataz prontamente
Daquilo se aproveitara
Aos quatro cantos do mundo
Ele fala num segundo
O que ele mesmo inventara.
E estava insustentável
A situação do casal
Por onde eles sobrevinham
O gracejo era total
Tinha sempre uma pessoa
Pra debochá-los na boa
Et cetera, e tal.
Galdino não suportava
Escutar tanta balela
Sua história com Inês
Mais parecia novela
Se dele nada diziam
Fuxicos apareciam
Contudo, falando dela.
Porém Galdino decide
O zunzum desvendar
Chamou Inês e lhe disse:
Boatos têm que acabar
Vou pôr um fim nisso tudo
E quem for o linguarudo
Vai ter que se explicar.
Inês logo o preveniu
Galdino tenha cuidado
Se for quem estou pensando
É bom estar preparado
Só em pensar me arrepio
Da pessoa que desconfio
Meu corpo tá até gelado.
Inês estava segura
Diante da intuição
Juntou as peças do xadrez
Chegando à conclusão:
O senhor Chico das Dores
Era autor dos rumores
Falado na região.
Ante probabilidade
Galdino disse pra Inês
E já não temos mais dúvida
Agora é a nossa vez
Nós vamos desmascarar
O dito-cujo e levar
Direto para o xadrez.
Contaremos pra seu pai
Quem é o autor do fuxico
E quem criou esse clima
Espalhando o mexerico
Por causa desse incréu
Nós fomos até corréu
Por conta desse futrico.
Inês respondeu: - Galdino
Vamos resolver é já
Desvendamos o segredo
E chega de blá-blá-blá
Ele não é confiável
Vai explicar o inexplicável
Por tramar esse fuá.
E Galdino concordou
Com a decisão de Inês
Disse: vamos pôr um fim
Nesse boato descortês
Ao senhor Chico das Dores
Desejo mil dissabores
Pelo mal que ele nos fez.
Ligeiro Galdino e Inês
Tomaram disposição
Foram até ao Coronel
Delataram o vilão
Essa notícia foi forte
O velho quase foi à morte
Ao saber da ingratidão.
Coronel ficou pasmado
Também muito constrangido
Escutara com atenção
O relato dolorido
E disse: - Galdino e Inês!
Garanto para vocês
Ele terá o merecido.
Galdino ali interceptou
Disse: - Coronel Gusmão
Não se atente com isso
Já chega de confusão
Já que sabemos quem é
Pra que mais arranca pé
Esqueçamos o vilão.
Rapaz deixe de tolice
Coronel lhe respondeu:
Como esquecer essa afronta
O que ouvi me doeu
Desconsidero o pedido
Fingirei não ter ouvido
Mediante o rogo seu.
O senhor Chico das Dores
Deve-me explicação
Ele sabe muito bem
O peso da minha mão
Porém tim-tim por tim-tim
Vai debulhar para mim
O porquê dessa invenção.
Assim o Coronel fez
Ao Chico ele intimou
Que imediatamente
O seu chamado acatou
Sem saber do que tratara
Para o encontro marchara
Mas de nada suspeitou.
Na presença de Gusmão
Já estava o capataz
Assim ele lhe indagou
Que novidade me traz?
O Coronel tão somente
Respondeu-lhe calmamente
Saberás já, já rapaz.
Capataz encafifou
Na resposta de Gusmão
E consigo resmungara
Que bicho mordeu o patrão?
De mim nunca fez desdém
E sempre me tratou bem
Está estranho esse gajão!
O moço Chico das Dores
Percebeu que o Coronel
Tava muito impaciente
Feito cobra-cascavel
Confuso e angustiado
Indaga o subordinado
Quem lhe deixou nesse fel?
O senhor seu Coronel
Respondeu pro capataz
Oh, meu caro servidor!
Sempre lhe achei eficaz
O que eu vou lhe perguntar
Você não pode negar
Confirme se for capaz.
E o que foi indagado
O capataz confirmou
Disse: - Coronel Gusmão
Sei o quanto lhe abalou
Traí sua confiança
Agi feito uma criança
Muito arrependido estou.
Respondeu-lhe o Coronel
Você foi longe demais
Não mediste as consequências
Feriste meus ancestrais
Fazendo o que não devia
Criou o que não existia
Propagou nos arraiais.
Coronel continuava
Debulhando seu sermão
Disse: para o capataz
Apunhalou seu patrão
Diante desse despeito
Suas desculpas não aceito
E nem te dou meu perdão.
A partir deste momento
Você está dispensado
Não preciso de você
Aqui como meu empregado
Sinto muito lhe informar
Há alguém no seu lugar
Pra chefiar ao meu lado.
Vou lhe dizer ainda mais
Por justa causa é demitido
Não adianta contestar
E nem fazer alarido
Tu sabes qual a razão
O porquê da demissão
Não banque o desentendido.
O moço Chico das Dores
A cabeça ali baixou
Um tanto contrariado
Mais cabisbaixo ficou
E como quem não quer nada
Só deu uma resmungada
E dali se retirou.
O imperante capataz
Saindo contrariado
Logo idealizou
Um plano e já destinado
À Fazenda retornar
Do seu ex-coronel cobrar
O que lhe foi denegado.
Atentos Galdino e Inês
Ficam com um pé atrás
Pois sabiam muito bem
Do que o Chico era capaz
Estavam ante de um louco
Todo cuidado era pouco
Para com o capataz.
Para algumas pessoas
O fato ficou esquecido
E para Inês e Galdino
Nada tava esclarecido
O moço Chico das Dores
Saiu cheio de rancores
Por ter sido despedido.
Com o nome do sujeito
Na Fazenda proibido
Ai quem ousasse falar
Na certa era demitido
Senhor Coronel Gusmão
Na sua jurisdição
Difamara esse bandido.
Aliás, desse episódio
Nada mais se comentava
Até parece que o vento
Para bem longe o levava
Só que pra Inês e Galdino
Desse sujeito cretino
Nada de bom se esperava.
Era alegria demais
Na vida da moça Inês
De repente tudo muda
Ela entristece outra vez
Senhor Coronel Gusmão
Faleceu do coração
Não fazia nem um mês.
A notícia logo ecoa
Quatro cantos do sertão
Mundo afora corria
O aviso de antemão
Se teve quem lamentasse
E também quem debochasse
Da morte de Seu Gusmão.
O senhor Chico das Dores
Sabendo do acontecido
Não se sentiu muito bem
Ficou até entristecido
Apesar da divergência
Teve boa convivência
Com o recém-falecido.
O capataz aguardara
Família se recompor
Pra retornar à Fazenda
O seu fingimento expor
Estava até disposto
Embora de contragosto
Em situação se dispor.
Nas sobrevindas semanas
Capataz se destinou
Pra Fazenda Cascavel
Ligeiramente marchou
Apesar do seu malfeito
Ia cobrar um direito
Que Gusmão lhe sonegou.
Na Fazenda Cascavel
De supetão apeou
Todo mundo ficou pasmo
Quando ele ali chegou
Jamais, Galdino e Inês
Pensaram vê-lo outra vez
Pelo que ele aprontou.
Operários se assustaram
Como vissem Satanás
Ficaram se questionando
Será mesmo o capataz?
Dito-cujo respondeu:
Não se assustem sou eu
Estou em missão de paz.
Galdino e Inês ficaram
Ressabiados demais
Pois aquele tom de voz
Negava as credenciais
Pois sabiam muito bem
Com quem tratavam e também
Confiar nele jamais.
Na presença de Galdino
E de sua esposa Inês
O senhor Chico das Dores
Demonstrava ser cortês
Disse-lhes: fui indecente
Convosco principalmente
Fico a cargo de vocês.
Como Galdino queria
Nesse cujo acreditar
Já sentiu foi pena dele
Queria até ajudar
Diante da condolência
Doeu-lhe na consciência
Com Inês foi conversar.
Inês ainda estava triste
Diante do acontecido
E disse para Galdino
Estás muito derretido
Não evidencie fraqueza
Com agrado não se põe mesa
Não dê ouvidos a gemido.
E ele lhe respondeu:
Veja-me quanto sou fraco
Meu coração é tão mole
Esfarela feito naco
Sou assim desde menino
Cordeiro feito um rabino
Nunca gostei de barraco.
Galdino muita atenção!
Escute-me e fique atento
Que o dito-cujo falou
Não passa de fingimento
Já conheço esse sujeito
Ele é muito do suspeito
Falar de arrependimento.
Assim responde Galdino
Você tem toda razão
Eu não posso fraquejar
Ante a filha de Gusmão
O meu coração é mole
Doce feito um rocambole
Dessa vez fica durão.
Ele logo se explicou
Pois isso não quer dizer
O que eu declarei agora
Realmente venha ser
Longe de ser um lacrau
Tampouco um lobo mau
Valor que não quero ter.
Galdino e Inês decidiram
Não dar bola ao capataz
Eles estavam cientes
Do que ele era capaz
Na Fazenda Cascavel
Seu emprestado papel
Não passou dum leva e traz.
O moço Chico das Dores
Ao saber da decisão
Não foi de fazer alarde
Diante da rejeição
Com mais ninguém comentou
E depois se retirou
Sem deixar explicação.
Inês não se convencia
Da calma do capataz
E disse para Galdino
Ainda não estamos em paz
Nós vamos ficar atentos
Tenho maus pressentimentos
Mormente desse rapaz.
O senhor Chico das Dores
Dissipou da região
Sem saber do paradeiro
Do ex-capataz de Gusmão
O suspense era total
A fofoca era geral
O homem sumiu do sertão.
Corria solto o boato
Por todos os bastidores
A pergunta era uma só
Cadê o Chico das Dores?
O enigma aumentava
Cada vez mais intrigava
Os seus admiradores.
Sumiço do capataz
Tava dando o que falar
Os simpatizantes dele
Não sabiam onde o caçar
Nem uma pista chegava
Suspense continuava
Deixando dúvidas no ar.
Alguns amigos do Chico
Culpam Inês e Galdino
Do sumiço do capanga
Do Agreste nordestino
Pretextos sempre existiram
Por isso os atribuíram
Na condição de assassino.
Enquanto nos bastidores
O boato circulava
O ex-capataz de Gusmão
De saúde até gozava
Lá no Sítio São Tomé
Do seu primo Barnabé
Sereno ali repousava.
E por ordem do destino
Um dos admiradores
Subitamente ele cruza
Com senhor Chico das Dores
Ao vê-lo se espantou
Seu semblante já mudou
Ficando de certas cores.
E muito timidamente
Aquele admirador
Seguidamente o indaga
É você embaixador?
Ele responde ligeiro
Sou eu mesmo companheiro
Seu ex-administrador.
Qual o motivo do espanto?
Desse modo o interrogou
Aquele seu companheiro
Levemente disfarçou
Meu caro e grande amigo
Ah, que bom lhe ver eu digo!
Ainda acanhado o saudou.
Porém já faz muito tempo
A gente não se viu mais
Por onde pisou o amigo?
Que fizestes onde andais?
Já que nós nos deparamos
Ao reencontro brindamos
Tais períodos joviais.
Corre um certo zunzum
Que você virou um encanto
Nesse mundo não se vive
Foste para o campo-santo
Sem querer lhe ofender
Agora dá pra entender
Motivo do meu espanto?
O senhor Chico das Dores
Com ironia gargalhou
Indagando o companheiro
O rumor quem inventou?
Respondeu o seu amigo
A linhagem desse artigo
Não sei quem arquitetou.
Outra vez Chico das Dores
Mais um riso disparou
E que gente mais maluca
Para o seu amigo falou
Não sei se eu tinha morrido
Nem pro céu tinha subido
Agora nem sei quem sou!
Diante desse deboche
Eles caíram em risada
O ex-capataz de Gusmão
Disse: não saber nada
Perguntou para seu amigo
Eu posso contar contigo
Numa básica empreitada?
Seu amigo o questionou
Do que se trata, afinal?
E Chico lhe respondeu:
É uma causa pessoal
Faço questão que você
Esteja nesse auê
E conto com seu aval.
Para que eu lhe diga o sim
Preciso saber o quê?
Primeiramente é claro
Esclareça-me o porquê
Qual o motivo e razão
Minha participação
Lá nesse seu fuzuê?
Caro amigo Paturi
Ouça-me com atenção
Vou abrir o jogo agora
Dizer-lhe a causa e a razão
Vais entender o porquê
Precisamente você
Comigo nessa questão.
Chico das Dores cumpriu
Que havia lhe prometido
Sua versão lhe contou
O que ele tinha sofrido
Além da humilhação
Imposta pelo Gusmão
Depois que foi demitido.
O seu amigo Paturi
Porém sem contestação
Disse-lhe: conte comigo!
Pra qualquer atuação
Você sabe muito bem
Fui humilhado também
Pelo Coronel Gusmão.
E entre ambos os comparsas
Esse pacto foi selado
Só faltou marcar o dia
Para aquele combinado
Era preciso cautela
E agir na sentinela
Pra nada sair errado.
Enquanto isso na Fazenda
Do poderoso Gusmão
A harmonia era total
Entre empregado e patrão
Estavam bem satisfeitos
Por eles tinham respeitos
Não havia reclamação.
Galdino é conhecido
Pela sua gentileza
Era um homem do povo
Não escondia nobreza
Do mais humilde empregado
Ao cargo mais elevado
A mesma delicadeza.
Diante sua bondade
Inês sempre o alertara
Galdino fique atento
Dele a atenção chamara
O que ela lhe dizia
Com carinho ele ouvia
Mas não se preocupara.
A fama de bom patrão
Pelo sertão circulava
Aos olhos dos abelhudos
Seu conceito aumentava
Por ele ser boa-gente
Espontâneo e decente
Em qualquer um confiava.
E Inês mais uma vez
Com a mesma precaução
Caro Galdino me escute
Não seja tanto turrão
Não confie em todo mundo
Tem o bom e o vagabundo
A quem você estende a mão.
Ele respondeu pra Inês
Você tem toda razão
Jamais pensei ter comigo
Ao meu lado um guardião
Já que estás me pedindo
Estarei me prevenindo
Conforme orientação.
Assim Galdino cumpriu
Não sair sem proteção
Para o lugar que fosse
Lá estava seu guardião
Passo a passo vigiando
Atento e observando
Qualquer gesto do patrão.
Porém o senhor Galdino
Com aquela situação
Achara-se incomodado
Não tava gostando não
Quer de noite e quer de dia
A mesma ave-maria
Com o mesmo guardião.
Inês também percebeu
Que ele tava agoniado
E chamou seu esposo para
Diálogo reservado
Disse: - Galdino atenção!
Com a nossa posição
É preciso ter cuidado.
Ela ainda lhe disse:
Importa ficar esperto
Confiar, desconfiando
É o pensar mais decerto
Pois assim diz o ditado:
Se um olho tiver fechado
Outro tem que estar aberto!
Enquanto Inês e Galdino
Tomavam todo cuidado
Aqueles dois companheiros
Já tinham tudo traçado
A hora o dia e o mês
O alvo era a própria Inês
Do sequestro planejado.
Aqueles velhos comparsas
Já sabiam o que fazer
Com o plano já traçado
E sem tempo a perder
Pra Fazenda Cascavel
Falecido Coronel
Saem antes do alvorecer.
O senhor Chico das Dores
No mando da operação
Só pensava na vingança
À família do ex-patrão
Pois o ódio lhe dominava
E quando ele lembrava
Daquela humilhação.
Aos olhos do ex-capataz
Ali finalmente estava
A Fazenda Cascavel
Nem ele acreditava
De onde foi expulso um dia
Por vingança voltaria
Sequestrar quem ele amava.
Num instante refletiu
E consigo murmurou
No entanto, seu coração
Ligeiro o contrariou
O que estava planejado
Seria realizado
Com plano continuou.
Já próximo a fazenda
Os comparsas se amoitavam
Com os olhos bem abertos
Observando ficavam
Movimentação e horário
De todo o proletário
Que saíam e entravam.
Foi chegado o momento
Do que estava tracejado
Quando o vigia deu mole
Logo foi amordaçado
Numa fração de segundo
Aquele crime oriundo
Já estava executado.
Para o dia subsequente
A notícia se espalhou
Por todos os arredores
O que mais se comentou
O sequestro de Inês
Indagaram – E quem fez?
No ar a dúvida ficou.
Desse modo concluíram
Que foi alguém conhecido
Sabia toda rotina
Dela e de seu marido
E é dessa região
Foi essa a opinião
E fica subentendido.
Galdino não se atenta
Quem poderia ter sido
Só pensava em resgatar
Sua Inês do bandido
Mirava um comunicado
Mais um dia é passado
Nem um recado trazido.
Seguintes dias se vão
Nem uma pista assuntada
O silêncio persistia
Vai-se pela madrugada
Galdino disposto estava
Qualquer quantia pagava
Para ter a sua amada.
O pesadelo aumentara
Galdino entristecia
Impetrava a Jesus Cristo
E pra sua Mãe Maria
Ouvissem sua oração
Que tivessem compaixão
Daquela sua agonia.
Todo o seu proletário
Não sabia o que fazer
Por todos os arredores
Saíram a percorrer
Nos quatro cantos do Agreste
Ao Norte ao Centro-Oeste
Nada ficou sem rever.
Enquanto lá no covil
Presa Inês permanecia
Aos olhos do capataz
Dia e noite e noite e dia
O senhor Chico das Dores
Não dava bola aos clamores
Que ela lhe imploraria.
Ele estava doído
Rancoroso e magoado
Dizia que muito a amava
No entanto, não era amado
A vingança sussurrava
Cada vez mais liderava
Coração obcecado.
Por fim, o ex-capataz
Resolveu dar ar da graça
Chamou Inês e lhe disse:
Seja uma boa-praça
Se comporte como tal
Faça-me ser cordial
Com você sem ameaça.
Sendo assim Inês cumpriu
A ordem do capataz
Seu perfil já conhecia
De que ele era capaz
Ela assim se comportou
Fez como ele mandou
Em troca de sua paz.
Pra que tantos guarda-costas
O que me adiantou?
Galdino tinha razão
Consigo ela murmurou
Nas mãos desse assassino
Salafrário e cretino
Encarcerada cá estou.
Seus pensamentos voavam
Aos quatro cantos do Agreste
Meu marido como estar?
Sofrendo feito um peste
Ela mesma respondia
Fitando a estrela guia
No espaço azul-celeste
Aquela estrela distante
Que ela via a brilhar
Era a mesma que Galdino
Estava a contemplar
Oh, estrela radiante!
Diga-me, e neste instante
Onde Inês pode estar?
Faziam quatro semanas
Nenhum contato chegava
Na Fazenda Cascavel
O desespero aumentava
Galdino em sua aflição
Jurou de joelhos no chão
Que sua amada encontrava.
Com sua gente reunida
Ele ali desabafou
Com os olhos rasos d’água
Para seus cabras falou
Pois custe o que custar
Inês eu vou resgatar
E juro por Deus que vou.
Conivente Paturi
Notava uma agitação
Sai imediatamente
De onde estava de plantão
Completamente assustado
No covil chega afobado
Com seguinte informação.
Chico das Dores amigo
Preste-me bem atenção
A notícia que lhe trago
Não é muito boa não
Galdino tá impaciente
Agita amigo e parente
Para uma grande ação.
Melhor a gente sair
Logo daqui e bem ligeiro
Vou lhe dizer algo mais
Estou fora companheiro
Um ditado diz assim:
Quem espera tempo ruim
É pedregulho ou lajeiro.
O capataz discordou
Diante essa sugestão
Disse: caro Paturi
Preste aqui bem atenção
Você é cúmplice meu
Cabeça ao pé se envolveu
Agora é tarde amigão.
Compadre e caro amigo
Muita calma nessa hora
Pois já está decidido
Estou saindo agora
Esse caso é todo seu
Paturi lhe respondeu
Já me considero fora.
Respondeu Chico das Dores
Caro amigo digo eu
Como você diz assim
Que esse caso é todo meu
Você participa sim
Não queira jogar pra mim
Pois o que também é seu.
E Inês presenciava
Toda aquela discussão
O capataz não aceitara
De Paturi o seu não
A sua arma sacou
Em sua direção mirou
Deixando-lhe sem ação.
Paturi disse meu caro
Baixe a arma, por favor
Não vejo nem um motivo
Para agir assim senhor
Que você queira ou não
Já tomei a decisão
De não tomar sua dor.
O capataz não gostou
De ouvir o anunciado
E olhou para Paturi
De um jeito endiabrado
O seu ódio era tanto
Se ali descesse um santo
Seria ele fuzilado.
Porém o Chico das Dores
Contudo, quis ser cortês
E disse para Paturi
Perdão pela insensatez
Esqueça esse episódio
E já passou o meu ódio
Aperte minha mão outra vez.
O comparsa Paturi
Curvou-se ao seu pedido
Dizendo: está tudo bem!
Não estou mais ofendido
Nós estamos juntos nessa
Assim sendo ajas depressa
Pra não ser surpreendido.
No entanto, o ex-capataz
Tava mal-intencionado
E pensou: hoje dou fim
Nesse cabra que é safado
Bem na hora da comida
Aplico-lhe inseticida
Ele morre asfixiado.
Paturi deixou de ser
Para Chico uma arruaça
O tirou do seu caminho
Como se tira uma traça
E se vendo ameaçado
O capataz foi forçado
Liquidar o seu comparsa.
Pois se encerrara assim
Lá naquela sepultura
O vínculo de amizade
Dele com tal criatura
A partir desse momento
Capataz ficou atento
A qualquer ação futura.
Aos fatos sobrevivendo
Tudo Inês presenciava
E entontecida pela
Cena que testemunhava
Para Deus ela pedia
Livrá-la da tirania
Do perigo que a cercava.
Após o ato praticado
O moço Chico das Dores
Voltou-se pra Inês e disse:
Faço assim com traidores
E ninguém zomba de mim
Você sabe que sou ruim
Nunca neguei meus rancores.
Ela assim o respondeu:
Oh, meu caro capataz!
E para que tanto ódio
No seu coração rapaz?
Dê uma chance a sua vida
Cicatrize essa ferida
Que atormenta sua paz.
Ele assim a rebateu:
Minha paz você tirou
Desde que lhe conheci
Meu coração desandou
Por um afeto proibido
E jamais correspondido
Por você se apaixonou.
Você agora está aqui
Que deboche do destino
Bem diante dos meus olhos
Porém pensando em Galdino
Nada de mim lhe importa
Sou sempre urtiga-morta
Neste Agreste nordestino.
Diante declaração
Inês, então, se assustou
Aquele seu tom de voz
Em nada lhe agradou
Parecia estar disposto
Enfrentar com muito gosto
Que o destino o reservou.
O silêncio era total
O instante decisivo
O dito-cujo estava
Realmente apreensivo
Com aquela reação
Inês tem forte impressão
Daqui não sai ninguém vivo.
Galdino com sua gente
A essa altura dos fatos
Botam os pés na estrada
E sumiram feitos ratos
Entre pedras e espinhos
Sobem e descem caminhos
Iguais aos bichos nos matos.
Pista aqui a outra lá
Mais um dia que se ia
O sertão cada vez mais
Parece até que crescia
Quanto mais se aprofundava
Mais distante ele ficava
Mais padecer lhe trazia.
Debaixo de um Sol ardente
Comboio sertão afora
Galdino irrequieto
Não via chegar a hora
De resgatar sua amada
Que estava encarcerada
Nas mãos daquele caipora.
Em pausas bem vigiadas
Pouco tempo ele dormia
Mesmo estando cansado
Repousar não conseguia
Era sempre o primeiro
Acordar o companheiro
Antes do nascer do dia.
O autor dessa façanha
Galdino já imaginava
O senhor Chico das Dores
No seu crânio já soava
Outro não tinha sentido
O nome desse bandido
Cada vez mais estrondava.
Enquanto lá no refúgio
O capataz cauto estava
Sabia-se que a qualquer
Momento se deparava
Com Galdino e sua gente
Então dali para frente
Qualquer duelo enfrentava.
O moço Chico das Dores
Parecia ter razão
Já estava na hora de
Botar o pé no estradão
E não tinha mais sentido
Estar ali escondido
Esperando uma invasão.
Diante daquela cisma
Sair dali resolveu
Chamou Inês e lhe disse:
Nosso tempo aqui já deu
Eu não quero ter surpresa
Seu Galdino com certeza
Já está no encalço meu.
Inês nada questionou
Apenas lhe obedeceu
Com coração apertado
De medo ela tremeu
Murmurando diz consigo
Que Deus esteja comigo
Antes ele do que eu.
O Chico e sua refém
Dessa toca despistaram
Por entre os espinheiros
Por sertão afora andaram
E na grota do morcego
No Sítio Limão-galego
Os dois ali se amoitaram.
Como já havia previsto
Capataz se preparou
E para si mesmo disse:
Aqui eu seguro estou
Pra Galdino me achar
Terá muito a cavalgar
Bem cínico gargalhou.
Porém esse cabra estava
Completamente enganado
Galdino tinha uma pista
Onde ele tinha passado
Alguém a bem poucos dias
Avistou duas companhias
Cruzando o seu roçado.
Com essa pista valiosa
Galdino seguia em frente
Ele estava destemido
Mais ainda sua gente
O sertão tava pequeno
Não havia mais terreno
Pra o capataz insolente.
Galdino cada vez mais
Ficara, então, ansioso
Cada minuto para ele
Era muito precioso
Esse sujeito pacato
Agora era um insensato
De coração furioso.
Galdino mesmo estando
Totalmente destemido
Ainda desconfiava
Da fúria desse bandido
Contudo, se preocupava
Sabendo de quem tratava
Nada estava garantido.
Não se deixou abater
Diante da conclusão
Ele seguia as ordens
Escutando o coração
E diz: custe o que custar
Inês eu vou resgatar
Das garras desse leão.
Galdino também estava
Decidido a duelar
Sua fúria era tanta
Não via a hora chegar
O mal que o capataz fez
O bem que queria a Inês
Faria ele avançar.
Mas o capataz sabia
Que o rival e sua gente
No seu encalço já estavam
No entanto, dali pra frente
O encontro era real
Um lapso era fatal
Disso ele tava ciente.
Estava também Galdino
Ciente do que podia
Vir acontecer com ele
A qualquer hora do dia
Para ele todo cuidado
Mesmo estando preparado
Por Inês ainda temia.
No entanto, não fraquejou
Caminhou sertão afora
No rastro de sua presa
Saía feito uma caipora
E pedindo proteção
Ao santo de devoção
Também a Nossa Senhora.
E a grota do morcego
Enfim, foi localizada
Ali era o esconderijo
Onde estava a sua amada
Galdino não acreditava
De alívio até chorava
Por concluir a caçada.
Reúne ali sua tropa
E lhes falou brevemente
Disse-lhes: caros amigos!
Fiquem aqui atentamente
Asseguro-lhes e digo
O resto agora é comigo
Porém daqui para frente.
Porém ninguém concordou
Com a sua decisão
E disseram-lhes: - Galdino,
Ouça nossa opinião
Nós estamos decididos
Mesmo sendo proibidos
Vamos onde for patrão.
Galdino ficou sem jeito
E consigo resmungou
Dizendo-lhes: tudo bem!
Reintegrá-los eu vou
Porém numa condição
Não quero intervenção
Enquanto a duelar estou.
Ninguém ali se atreve
De Galdino discordar
E todos lhe responderam:
Atentos vamos ficar
Só podemos intervir
Se caso você pedir
Para a gente lhe ajudar.
Sendo assim ficou sabido
E esse acordo tratado
Ele e seus companheiros
Num gesto bem arrojado
Cercam aquele covil
Como uma cobra sutil
Golpeando invertebrado.
Ali na boca da grota
Galdino se afoitara
E desesperadamente
Por Inês ele gritara
Uma bala de repente
Foi a resposta evidente
Que o rival enviara.
Galdino ligeiramente
Feito um gato pulou
Por trás de um pedregulho
Logo se acomodou
O tiro que ali zuniu
Por sorte não lhe atingiu
Num alívio suspirou.
Diante aquele estampido
Ele não se intimidou
E muito pelo contrário
Mais furioso ficou
Assim da mesma maneira
Dali daquela pedreira
O disparo revidou.
Logo os seus companheiros
Ficaram de prontidão
Estavam só esperando
Qualquer sinal do patrão
Ninguém se manifestava
Silêncio continuava
Lá no núcleo do grotão.
Galdino soltou um berro
Insultando o capataz
Disse-lhe: - Chico das Dores
Saia da toca rapaz
Você não é tão valente
De Lampião é parente
Desafie-me se é capaz.
O capataz respondeu:
Aceito seu desafio
Quando estiver pronto diga
Oh, meu caro senhorio!
Com muita satisfação
Vou lhe dar uma lição
Seu xexelento vadio.
Galdino em cima da bucha
Desse modo o respondeu:
Essa sua valentia
Em nada amedronta eu
Uma coisa eu lhe garanto
Você vai sentir um tanto
Da força do braço meu.
Inês de dentro da grota
Ouvia-lhes com atenção
Rogava a todos os santos
Pra interferir na questão
Sabia ela muito bem
Que Galdino era ninguém
Com uma arma na mão.
De onde ela estava
Deu um grito alarmante
Parem! Com esse duelo!
Besta e insignificante
Escutem-me, por favor
Nada disso tem valor
A vida é mais importante.
Porém ninguém dá atenção
Àquele apelo seu
Eu já estou decidido
Galdino assim respondeu:
Pois fique tranquila Inês
O capataz dessa vez
Muito mal ele se deu.
Inês com essa resposta
Ficou foi mais assustada
Olhou para o céu e disse:
Meu santo Anjo da guarda
Livrai meu amado Galdino
Das mãos desse assassino
Não lhe aconteça nada.
Com ou sem consentimento
De Inês Ferraz de Gusmão
O combate teve início
Na grota do morcegão
Galdino logo atacou
Capataz só desviou
Sua desastrosa ação.
Dito-cujo gargalhava
Daquela vil circunstância
Apenas se divertia
Com tanta deselegância
E disse para Galdino
Parece mais bailarino
Fazendo-me insinuância.
Ele assim o retrucou
Chico das Dores sujeito
Eu vou lhe mostrar quem dança
Nessa grota de trejeito
Quem aqui vai rebolar
Se apronte para bailar
Saracotear direito.
Capataz imediato
Pois assim lhe respondeu:
Foi você quem se enganou
Quando disse que sou eu
Digo que quem vai dançar
Agora eu vou lhe mostrar
Que o rebolado é só seu.
Galdino de arma na mão
Foi para cima do tal
Muito furioso ficou
Do desaforo verbal
Disse: capataz se apronte
Você vai sentir na fonte
A ponta do meu punhal.
O capataz novamente
De Galdino debochou
Com sua arma empunhada
Em busca dele avançou
Disse: você sabe orar
Pois é melhor começar
A sua hora já chegou.
Naquele momento ali
Golpeá-lo ele tentou
Galdino rapidamente
Quão um leopardo pulou
Foi um salto tão audaz
Que o valentão capataz
Quando viu se assustou.
Galdino com rapidez
Já ficou de prontidão
Disse: para o capataz
Assustou-se valentão!
Não dê bobeira comigo
Saiba que eu sou um perigo
Com uma arma na mão.
Chico logo rebateu
A afronta de Galdino
Diz: vou mostrar pra você
Quem é aqui masculino
Mostrarei também quem manda
Que é o mesmo que desmanda
Nesse Agreste nordestino.
Vamos deixar de lorota
Que a luta nem começou
Você vai saber agora
O que eu fui e o que sou
Capataz feito um leonino
Foi pra cima de Galdino
Outro golpe lhe aplicou.
Continuava atacando
Sem dó e sem compaixão
Capataz cada vez mais
Rugia feito um leão
Tão forte era seu rugido
Parecia um estampido
Estrondando no grotão.
Pra cada golpe aplicado
Galdino se defendia
Inês tremendo de medo
De novo pro Anjo pedia
Rogando-lhe proteção
Com um rosário na mão
E o duelo prosseguia.
O capataz percebia
Que Galdino já estava
Sem forças e já cansado
Nem dele mais caçoava
Sem nenhuma piedade
Com muita ferocidade
Mais golpes lhe aplicava.
Galdino sentiu cansaço
E não deu o braço a torcer
Disse: para o capataz
Melhor você se render
Decidindo se entregar
Sua vida vai poupar
Se contestar vai morrer.
Dizendo isso avançava
Pra decidir o combate
Ligeiro como um felino
E deu-lhe um xeque-mate
Golpeando fortemente
O capataz insolente
Quase ele foi ao abate.
Capataz cambaleou
Para trás e para frente
Ele estava ferido
Porém ainda consciente
Para Galdino falou
Ainda não me matou
Eu estou vivo e presente.
Com a arma empunhada
De raiva esbravejou
Dizendo: - Galdino agora
Nossa luta começou
Se prepare cavalheiro
Hoje é seu dia derradeiro
Nesse mundo que o criou.
Galdino assim lhe responde:
Oh, meu caro capataz!
Não vou deixar de existir
Mas você seu ineficaz
E se não quiser morrer
Procure se defender
E se você é capaz.
Chico das Dores gargalhou
Debochando de Galdino
Disse: mas que ousadia
Desse metido a grã-fino
Para você vou mostrar
Quem de galo vai cantar
Nesse Agreste nordestino.
Seu Galdino se prepare
Pra dar adeus ao sertão
Pra Cristo se recomende
Rezando peça perdão
Ouça o que vou lhe dizer
De você eu não vou ter
Um tico de compaixão.
Dito-cujo esbravejava
De ódio no coração
Mesmo estando ferido
E sem qualquer condição
No combate prosseguia
De raiva e dor gemia
Espumando feito um cão.
Naquele momento ali
Outra vez Inês gritou
Parem! Com esse duelo!
Valentia se provou
Todo o ódio foi dito
Desarmem-se desse atrito
Esqueçam o que passou.
Galdino ligeiramente
A sua Inês contestou
Como assim esquecer?
Muito mal ele causou
A luta assim continua
Até chegar outra lua
Magoado ainda estou.
E para surpresa dele
Capataz contrariou
Oh, meu caro não ouviu
O que ela nos implorou?
Rendo-me ao seu pedido
Por mim está concedido
Aos pés dele a arma jogou.
Galdino ficou pasmado
Diante da rendição
Até indagou-lhe o gesto
Ainda de arma na mão
Ele se sentiu humilhado
Também desmoralizado
Por aquela decisão.
O capataz respondeu:
Já me cansei dessa briga
E confesso-lhe meu caro
Chega dessa tola intriga
Pra esquecer disposto estou
Porque nada se provou
Porém só me deu fadiga.
No entanto, faço o mesmo
Não fique encabulado
Inês tem toda razão
É um duelo quadrado
Não banque o teimoso
Sinta-se vitorioso
Já me sinto derrotado.
Vamos arriar as armas
Não vale mais duelar
Eu não vejo mais sentido
Da briga continuar
Se ontem fomos inimigos
Já podemos ser amigos
Não custa a gente tentar.
Galdino lhe respondeu:
Você pode estar certo
Vou ouvir o seu apelo
Porém de olho bem aberto
Não banque o espertinho
Ou você vai rapidinho
Virar horto no deserto.
No entanto, está avisado
O recado já lhe dei
Lembre-se foi por Inês
Que, de fato, concordei
Não esqueça que sua vida
Foi por ela decidida
Por mim usaria a lei.
O dito-cujo lhe disse:
Galdino eu lhe fico grato
Também lhe peço perdão
Por lhe causar um distrato
Reconheço que fui mau
Agi feito um lacrau
Além disso sou um ingrato.
Estou muito arrependido
Digo-lhe de coração
Pode até me caçoar
E lhe dou toda razão
Porém é pura verdade
E não tem leviandade
Nessa minha afirmação.
Porém sei que é difícil
Você confiar em mim
Depois de tantas que eu
Só lhe fiz coisa-ruim
Sei que errei em excesso
Modestamente lhe peço
Uma chance mesmo assim.
Eu sei também que você
Tem um grande coração
Essa sua qualidade
Inveja qualquer patrão
Tens índole e boa-fé
Por isso que você é
Bem falado no sertão.
Eu não estou lhe pedindo
Pra você ter piedade
A decisão é só sua
Portanto, fique à vontade
Há razões pra me odiar
Compreendo e vou respeitar
Não querer minha amizade.
Galdino queria crer
No gesto do capataz
Mas ficara realmente
Muito com o pé atrás
Porque o Chico das Dores
Não tinha lá seus valores
De mentir era capaz.
No entanto, disse pra ele
Outra chance eu vou lhe dar
Aliás, preste atenção
Pra dessa vez não errar
Pois qualquer deslize seu
Para você digo eu
No xilindró vai mofar.
Porém para isso eu quero
Assine esse documento
Na presença dessa gente
E aqui nesse momento
Pra ficar testemunhado
Batido e sacramentado
O seu comprometimento.
De fato, Chico das Dores
A exigência acatou
Lá na grota do morcego
O documento assinou
E num aperto de mãos
Diante dos cidadãos
Seu testemunho selou.
A partir desse momento
Despediu-se de Galdino
Afora seguiu sem rumo
Cabisbaixo sem destino
Amargurado da vida
Saía em marcha perdida
Pelo sertão nordestino.
Sendo assim o capataz
Num retiro se isolou
O preço daquela trama
Muito alto ele pagou
Convivia capiongo
Triste feito um camundongo
Do feito que praticou.
Enquanto isso na fazenda
A famosa Cascavel
Uma festança era dada
Num bonito coquetel
Três dias rolou o festão
Forro, xaxado e baião
Bebes, comes a granel.
Todos estavam contentes
Com a volta dos patrões
Vivas, aplausos e abraços
Entre inúmeros peões
Num céu todo estrelado
Num ressoo musicado
Ecoavam os foguetões.
E felizes para sempre
Enfim, Inês e Galdino
Por um longo e bom período
No Agreste nordestino
Viveram eternamente
Com toda a sua gente
Sob as bênçãos do divino.
Mesmo persistindo luta
Entre o mal e o bem
Não há vitória do mal
Diz a história além
Estar, porém, comprovado
Só o amor constrói, amém!
FIM