Andorinha, os pássaros e os homens

Havia um campo bem extenso

Que durante bom tempo

Tinha sido por todos esquecido

E já que não era cultivado

Árvores ali tinham crescido.

Esse lugar pelo ser humano,

Assim tão abandonado

Tornara-se um belo jardim

Para os pássaros felizardos

Que não achavam nada ruim.

Inúmeras plantas agrestes

Cresceram neste lugar

E os voadores silvestres

Podiam bem se alimentar

Das sementes sem pestes.

Mas alegria de pobre não dura

Como diz o velho ditado

Pois homens vieram à procura

Naquele terreno abandonado

De uma chance de ter fartura

Quando a andorinha

Muito viajada por sinal

Percebeu o que estava por vir

E que o futuro não seria legal

Resolveu às outras advertir.

Ela abriu o bico e falou:

- Vi enxadas e machados

Nas mãos dos colonizadores

Esse teatro já vi encenado

Os santos em outros andores.

Eles já começam a preparar

A semente para plantação

Grãos de juta estão a separar

Logo logo começa devastação

Nossas casas irão despedaçar.

E do linho que vão produzir

Farão cordéis, laços e redes

Armadilhas irão construir

Pois de morte eles têm sede

E nossa raça querem possuir.

Mas a passarada caçoava

E não quisera dar ouvidos

À andorinha que narrava

O que havia percebido

Da desgraça que apontava.

Ela ainda com insistência

Suplicou que se unissem

E fizessem resistência

Atacando a sementeira

Destruindo o mal na essência.

Nada disso valeu

Os outros não se importaram

Seu coração se endureceu

E as armas se multiplicaram

E o pior se sucedeu.

Muitos pássaros caçados

Foram assados e fritos

Os homens bem alimentados

Não ficaram aflitos

E puseram a abaixo todo mato.

As aves nem puderam

Se arrepender de seu erro

Quando ouvir não quiseram

Alertas sobre seu enterro

Que a andorinha lhes dera.

Aprenda leitor ou ouvinte

Que é preciso aprender

Com quem, por conseguinte

Mais deste mundo pôde ver

E lhe antecipa o passo seguinte.

Aberio Christe

Adaptado da Fábula de Esopo