ONDE NASCE A POESIA?
A poesia não tem hora
De nascer para o poeta
Os versos que nos afetam
Chegam rápidos e vão embora
Tenha caneta e papel
Como se fossem troféus
Numa bolsa ou nas mãos
Pois do jeito que vem passa
É rápido que nem fumaça
Igual chuva no sertão.
 
Carlos Drummond de Andrade
E a pedra em seu caminho
Imagine se sozinho
Tropeçasse numa grade
E se tão desprevenido
Não tivesse ali consigo
Caneta azul e papel
Teria quebrado o dedo
E jamais sabíamos o segredo
Daquela pedra cruel.
 
Quantos versos eu sufoquei
Quantas frases se perderam
Ao silêncio se renderam
Quantas estrofes, eu não sei.
Foi tudo tão passageiro
E voou sem paradeiro
Nas loucas asas do vento
Perdeu-se em algum lugar
Que jamais vou encontrar
Nas ondas do pensamento.
 
Nunca se sabe o momento
Que um clássico vai nascer
Talvez nunca vá saber
E pra não ter sofrimento
Leve as armas em suas mãos
O momento de criação
Vem rápido e rápido parte
Em uma frase ou sentimento
Talvez nasça nesse momento
 Na pedra sua obra de arte.
JOEL MARINHO
 
Cordel inspirado no poema de Carlos Drummond de Andrade “No meio do caminho tinha uma pedra” e na poesia de Esmeralda (Carrossel das ilusões), “O poeta e a aflição de palavras”.

Interação  com o poeta Zé Roberto
Mi lembrei dum cordelzinho 
Qui onti, quagi iscrivia 
Já passô, mi isquici 
Adeus, inté oto dia!

 
Interação com a poetisa Ana Maria Gazzaneo
Tantas vezes noite afora
Um verso me apareceu
Sem material nessa hora
Pela noite se perdeu.
Pela dica do poeta
Eu deixo total apreço
Com papel e com caneta
O verso é preso em cabresto.