FOIÊTE DE POEMA MATUTO

FOIÊTE DE POEMA MATUTO

ROBERTO COUTINHO DA MOTTA

( BOB MOTTA )

N A T A L – R N

2 0 0 7

JÁ SAÍ DO SERTÃO HÁ MUNTOS ANO

E O SERTÃO INDA TÁ DENTO DE MIM...

Munto tempo vivendo in Natá,

meu querido sertão, vô lhe dizê,

qui cuntigo a sonhá no amanhincê,

sinto o chêro gostôso do currá.

Muntas vêis eu aqui na capitá,

chorei munto aguando o meu jardim.

O prefume qui sai do meu jarmim,

é o mêrmo da mata, seu fulano,

JÁ SAÍ DO SERTÃO HÁ MUNTOS ANO,

E O SERTÃO INDA TÁ DENTO DE MIM...

Num isqueço ais festa de apartação,

nem ais pega de jegue ô de boi.

Meu passado feliz, qui já se foi,

cum amô, guardo no meu coração.

Mêrmo sem eu tê mais o meu gibão,

inda sinto seu pêso sôbre mim.

Minha calça de campo, levô fim,

se eu vortá aigum dia, eu corro “in pano”,

JÁ SAÍ DO SERTÃO HÁ MUNTOS ANO,

E O SERTÃO INDA TÁ DENTO DE MIM...

Tenho máica de ispíin de quixabêra,

qui prá mim, vale mais qui um tisôro,

fora um furo, no meu chapéu de côro,

de uma ponta de pau de caatinguêra.

Fecho uis zóio e me vejo na cochêra,

misturando farelo cum capim.

Puramá meu passado, tanto assim,

eu m’axtrêvo a sonhá e a fazê prano,

JÁ SAÍ DO SERTÃO HÁ MUNTOS ANO,

E O SERTÃO INDA TÁ DENTO DE MIM...

Inda ôiço o fole de oito baixo,

o pandêro e a batida do melê,

e uis istralo duis bêjo qui você,

dava in neu lá na bêra do riacho.

Arrelembro ais caçada à luz de facho,

lá na fêra, uis buneco de aifiníin.

O cachorro acuando o guaxiníin,

ais gaitada duis bêbo e duis insano,

JÁ SAÍ DO SERTÃO HÁ MUNTOS ANO,

E O SERTÃO INDA TÁ DENTO DE MIM...

A zuada do má, aqui me inlude,

cum ais ôindia revôrta a se quebrá,

seu eterno e incessante chaquaiá,

faiz lembrá a sangria de um açude.

E se Deus premití qui ainda eu mude,

p’ru meu véi Carirí, eu vorto, sim.

E num tem cara feia nem pantíin,

qui me faça temê uis disingano,

JÁ SAÍ DO SERTÃO HÁ MUNTOS ANO,

E O SERTÃO INDA TÁ DENTO DE MIM...

MONÓLOGO DO CARRO DE BOI

Eu sô o carro de boi,

qui auxilia o fazendêro.

Derna do Brasí colonha,

qui se ôice o meu berrêro.

Tudo eu agüento, sô forte,

e in matéra de transporte,

no mundo, eu sô pionêro.

Já fiz transporte pesado,

mais tombém fiz divéição.

Nais varêda duis céicado,

nais istrada do sertão.

Cuma se fosse um gimido,

sortei lamento sufrido,

puras bôca duis cocão.

O carrêro cum o ferrão,

arrochava uis boi no grito.

Num precisava buzina;

meu gimido era o apito.

Passava sêbo e caivão,

entre o eixo e uis cocão,

prumode eu gemê bunito.

Quanto mais eu carregado,

mais bunito e arto eu gimía.

Ia p’ro mato bem cêdo,

vortava no fim do dia.

Pesado e gemendo forte,

leste a oeste, sul a norte,

cum meia légua se uvía.

Nuis tempo de sêca grande,

e de grande padicê,

dais queima de ispíin p’ruis côxo,

munto rodei, pode crê.

Chêi de xique xique assado,

e macambira p’ro gado,

de fome, num perecê.

E nuis tempo bom de inverno,

duis santo Antôin, Pêdo e João,

truve a lenha dais fuguêra,

prá fazenda do patrão.

Dispôi de discarregado,

era barrido e incostado,

na latada do oitão.

Dispôi de limpo e incostado,

bem quetíin no meu lugá,

de noite eu apriciava,

um animado arraiá.

E o fole de oito baixo,

num sussegava o seu facho,

num parava de tocá.

No mêi daquela festança,

nuis namôro, foi num foi,

uis cabra arrochava ais dama,

rebocava ela, adispôi;

e chegava aos “finaimente”,

disavéigonhadamente,

dento do carro de boi.

E hoje, aqui, matutando,

meu passado no presente,

vi amô de cabra véio,

e tombém, de adolescente.

De muié nova e coroa,

sei qui sô lembrança boa,

na vida de munta gente!...

O CREDO DO MATUTO

Creio in Deus Pai Adorado,

acima do sufrimento,

do sertanejo sedento,

passando a quage água e pão.

Qui Êle, de nóis, num s’isquece,

qui sempre manda prá cá,

mode ais coisa amiorá,

relâmpo, chuva e truvão.

Creio no amanhincê,

creio no trabáio braçá,

na sariema a cantá,

no linguaja puro e rude.

Creio, Sinhô; no matuto,

qui isbanja sabiduria,

na viola, na canturia,

e na sangria do açude.

Creio no suó pingando,

da quentura e só a pino,

do côipo do nordestino,

c’á sua inxada nais mão.

Creio no ispíin queimando,

p’ru gado se alimentá,

mode a sêca atrevessá,

nais caatinga do sertão.

Creio no xique xique assando,

no sertanejo sufrido,

qui prá lá de dirnutrido,

de mago, quage se some.

No pranto qui êle derrama,

quando um quixó, vai aimá,

mode pegá um preá,

mode num morrê de fome.

Creio tombém na cáiga d’água,

de barrenta, quage prêta,

dento de quato ancurêta,

pindurada na cangáia.

Creio no jegue qui carrega,

do barrêro prá uma jarra,

quage sem fôrça, na marra,

de tanto qui êle trabáia.

Creio na luz do candinhêro,

no fugão de aivenaria;

de menhã, na vacaria ?!

Creio nais vaca leitêra.

Creio nuis barrão, nais póica,

nais uvêia, nais marran;

e no sábo de menhã;

creio no carro da fêra.

Creio no cavalo bom,

no faro de uma boiada,

na sombra de uma latada,

no aboio do vaquêro.

Creio no latido avisando,

numa noite inluarada,

qui a caça tá acuada,

purum cachorro perdiguêro.

Creio no gimido do fole,

no ripique do zabumba,

no triângo, na ritumba,

da batida do pandêro.

Creio na vazante do açude,

na iscassêiz, na fartura,

creio in cada cubertura,

de um bode pai de chiquêro.

Creio nais nuve se fóimando,

creio no só s’iscondendo,

cuma quem surrí, dizendo;

tem boa nova no á.

Creio qui a boa nova é a chuva,

qui cumeça librinando,

adispôi vai aimentando,

e vira torrenciá.

Na oração do irmão matuto,

qui aís vêiz nem sabe rezá;

mais, qui in seu modo de orá,

agradece ao Criadô.

No vaquêro istrupiado,

qui diz no finá do dia,

na hora da Ave Maria:

OBRIGADO, MEU SINHÔ!...

O MATUTO MUTILADO

Um sujeito era noivo,

munto bem apessoado,

pobre, mais bem educado,

bom papo, bom cumpanhêro.

Fugindo da sêca braba,

do interiô nordestino,

êsse cabra, seu minino;

foi p’ro Ríi de Janêro.

Lá no Ríi, bem impregado,

certo dia, dispricente,

sofreu um grave acidente,

no quá, ficô mutilado.

Foi uma grave fratura,

num vortaria ao normá.

Teve êle, lá no hospitá,

a perna e o pé amputado.

Mais, forte qui nem um tôro,

matuto, cabra da peste,

ao seu povo no nordeste,

nunca mandô avisá.

Pensô; eu só vô contá,

a minha situação,

quando vortá p’ro sertão,

no dia qui eu fô casá.

Cunvaliceu totaimente,

butô prótese muderna,

adonde num tinha a perna,

no lugá da amputação.

Nosso querido matuto,

in grante cuntentamento,

no dia do casamento,

viajô inté de aivião.

Dispôi da recepição,

fôro prá lua de mé.

A noiva, lá no hoté,

foi logo a rôpa, trocá.

Êle, intonce, tirô a perna,

butô debaixo da cama;

meu amô, seu bem lhe chama;

venha logo se deitá!

Butô, no iscuro, a mão dela,

adonde só tinha o catôco;

e falô prá ela, já rôco:

Diga, minha fía; qui tá ?

Ela dixe: É de lascá!

Coisa grossa é minha sina,

mais, cum jeito e vasilina;

pode inté dá prá entrá!...

MISCELÂNEA SERTANEJA

Num liquidificadô,

coloque felicidade,

amô, ispontaneidade,

um bode pai de chiquêro;

um forró de chão batido,

uma cabôca fogosa,

um poeta, mote e glosa;

e um matuto presepêro.

Uma galinha poedêra,

um vaquêro aboiadô,

um jegue reprodutô,

um candinhêro, um pavíi;

um minino bem safado,

café torrado no caco,

um véi chêrando tabaco,

e uma égua no cíi.

Um caçadô mintirôso,

trêis véia bem fofoquêra,

cunfusão de fim de fêra,

uma póica e um barrão;

um carro de boi cantando,

um rádio in tôda artura,

garapa de rapadura,

misturada cum limão.

Uma pega de jumento,

uma queima de ispíin,

um buneco de aifiníin,

um açude sêco, arrombado;

uma burrinca rodando,

uma peda aimando um quixó,

um arremedo de mocó,

e um passadiço quebrado.

A fía do fazendêro,

a professorinha da escola,

um açaprão, uma gaiola,

uma quenga do cabaré;

um muleque de recado,

um cachorro de preá,

um jôgo de caçuá,

e uma garrafa de mé.

Quato ancurêta d’água,

um fazendêro inxirido,

qui no iscuro, iscundido,

véve atráis da empregada;

paiáço de pasturí,

qui sacanage é seu nome,

qui é qui nem peito de hôme,

pruquê num presta prá nada.

Uma panela de quaiáda,

quêjo no gáifo, inrolado,

um banco, um pilão deitado,

um guiné, frango, um capão;

ajunte tudo isso e ligue,

qui a mistura e o resurtado;

eu já sei de ôi fechado;

isso é iguá ao meu sertão!...

O BOLO DA FELICIDADE

Vô lhe dá uma receita,

na poesia populá.

Cum certeza, quem prová,

vai aprová, na verdade.

Anote uis ingridiente,

qui agora eu vô lhe dizê:

Vô insiná prá você,

o bolo da felicidade.

Coloque num panelão,

uma pução de amizade,

ôta de sinceridade,

mais ôta, de bem querê.

Doze xica de sussêgo,

doze de cumpreensão,

dezôito, de união;

mais dezôito, de prazê.

Uma jarra de humirdade,

o bem da muié amada,

uma arrôba de presepada,

duas ô trêis, de isperança;

a isperiença do idoso,

na sua totalidade,

pureza e a sinceridade,

de um surriso de criança.

Quanto ao custo dêsse bolo,

pode ficá assussegado.

Você, no superméicado;

num vai gastá um tustão.

Tudo isso da receita,

você tem in quantidade;

franco, de graça, à vontade;

dento do seu coração!...

ORGÚIO DE SÊ NORDESTINO

Eu sô nascido na praia,

criado no Carirí,

e nêsse poema aqui,

meu orgúio s’isbandáia.

Sô vidrado na gandáia,

derna qui eu era minino.

Lua cheia ô só a pino,

afirmo, sem sê insurto;

eu sô poeta matuto,

me orgúio in sê nordestino.

Entre a praia e o Carirí,

edifiquei meu vivê.

Crepúsco e amanhincê,

faiz eu chorá e surrí.

O cantá da jurití,

imbalô uis sonhos meus.

Tenho é pena duis ateus,

qui ao vêre tanta beleza,

da nossa mãe natureza,

inda duvida de Deus.

Currí atráis de boi brabo,

levei queda de burrinca,

joguei à vera e à brinca,

peguei jegue pelo rabo;

in inxadéco, butei cabo,

butei póica cum barrão,

jumenta cum garanhão,

amassei muié facêra,

me divirtí nais fuguêra,

duis santo Antôin, Pêdo e João.

Quando, ais vêiz, eu, bem cêdíin,

de ressaca me acordava;

p’ro currá já disabava,

chega ia ligêríin.

Me assentava no banquíin,

tirava o leite ispumante,

gostoso, revigorante,

dispejava goela a dento,

logo adispôi, num momento,

tava nôvíin, num instante.

Eu vivi nêsse cenáro,

gostôso, sufrido e doce.

Ôxente, vôtes, danô-se;

é do meu dicionáro.

Tão rico vocabuláro,

me faiz chorá de emoção.

Ais festa de apartação,

cum meu passado se foi,

e ais pega de jegue e boi,

nais caatinga do sertão.

Lambo uis beiço quando vejo,

numa mesa abarrotada,

pamonha, cuscuz, quaiáda,

pôico, panelada e quêjo.

Macássa, arroz sertanejo,

rapadura cum café,

chôriço, sarapaté,

frango caipira, uma beleza;

pirão, e de subrimesa,

rapa de quêjo cum mé.

Nuis pé de pinha, de quixába,

nais sombra duis juazêro,

nais gáia duis imbuzêro,

êsse poeta se acaba.

Nuis pé de jabuticaba,

a lembrança inté me dói.

A sodade me corrói,

do oiá de uma cabôca,

do doce da sua bôca,

debaixo duis avelóis.

Nuis forró de chão batido,

vendo ais cabôca bunita,

nuis seus vistido de chita,

num ai quem num fique inxirido.

Sendo fã do seu mixido,

dento e fora do salão,

pego ela pura mão,

sem um tico de pudô,

vô p’ro campo e pegue amô,

sob o luá do sertão.

É essa ais minha raíz,

faço questão de dizê,

p’ro mundo intêro sabê:

Sô nordestino e feliz!

E sô eterno aprindiz,

inquanto Deus me dé vida.

Quando eu tivé de partida,

meu caixão vai, na verdade,

intupido de sodade,

da minha terra querida!...

CORAÇÃO DE POETA

Tudo o qui se faiz na vida,

a gente tem uma meta.

E para qui minha obra,

um dia, seja cumpreta;

sem quaiqué era uma vêiz,

quero amostrá prá vocêis,

o coração de um poeta.

O coração de um poeta,

é difíce sê domado.

Num se doma, se acustuma,

pois é munto istabanado.

P’ru quaiqué coisinha apronta,

amando fora da conta,

qui nem muleque safado.

Daquêle qui desce o morro,

numa fôia de bananêra,

dêxando rasto na areia,

alevantando puêra.

Chêíin de arranhão nuis braço,

juêi fartando pedaço,

mode ais suas brincadêra.

É qui nem minino rim,

nuis tempo de adolecença,

quando o sangue, mais ligêro,

tira sua paciênça.

Do qui fica o dia intêro,

trancado lá no banhêro,

fazendo ais sua indecença.

Êsse coração muleque,

minha fía, é tôdíin tezão.

Qui ama tudo nessa vida,

sem quaiqué inibição.

É o centro de um universo,

qui eu amostro in cada verso,

qui decramo p’ro povão.

E o meu; todo remendado,

num faiz véigonha a quem vê.

Se êle isprudí, num sai sangue;

sai verso e amô, pode crê.

E é êsse véi coração,

qui incoloco in sua mão;

e ofereço a você!...

RECEITA PRÁ MUIÉ FRIA

Um sujeito andava triste,

e seu cumpade notô.

Dêle, se cumpadicendo,

p’ro sujeito, assim, falô:

Meu cumpade, me arresposte,

cum sinceridade a mim.

Puro qui eu lhe cunheço,

você num tá bem; tá rim.

Intonce, meu véi amigo;

pode se abrí cumigo;

pruquê táis tão triste assim ?

Cumpade; e dá prá notá ?

O causo é minha muié.

Num mexe, num vira uis zóio,

acredite se quisé.

Quando vai fazê amô;

parece inté um robô;

fria, qui nem picolé.

Ôxente ?! Isso é bronca besta;

vô lhe insiná um remédio,

mode ela fica no grau,

e percurá seu assédio.

A receita é de premêra;

juro, num é brincadêra;

ela vai saí do tédio.

Mande ela tumá um bãe,

butá pó, se prefumá,

butá musga no quarto,

cum pôca rôpa, deitá.

Iscuricê o ambiente,

qui você veja sòmente,

sua sombra a lhe chamá.

Você tombém tome o seu,

caprichado pru intêro.

Passe bucha, faça a báiba,

saia nôvíin do banhêro.

Chegue prá ela, chaimôso,

bunito, limpo e cherôso,

qui nem fíi de baibêro.

Quando você se achegá,

cum caríin, acenda o facho.

Bêje ela no pescôço,

acoche ela num abraço;

adispôi, vá murdiscando,

tirando a rôpa e bêjando,

da cabeça inté in baixo.

Qui é isso, meu cumpade ?

Sei qui tenho qui í à luta.

Mais, resguardando uis limite;

zelando pura cunduta.

Se assim, tu tá me insinando;

meu cumpade tá pensando,

qui a minha muié é puta ?

Não, cumpade; só amostrei,

o qui a salução indica.

Mode ela fica no ponto,

seu cumpade deu a dica.

Se assim, você porcedê;

puta, ela pode nem sê;

mais garanto qui ela fica!...

BENVINDO À NATÁ

Meu caro irmão visitante,

quero in verso lhe saudá.

Você é munto benvindo,

à capitá potiguá.

Receba uis verso qui faço,

junto cum êles, o abraço,

da cidade do Natá.

Quem fô meu cumpatriota,

sob o céu de azul anil,

arrecebo cum caríin,

cum meu coração a mil.

Nuis verso, vai meus afago,

da cidade duis Reis Mago,

no nordeste do Brasil.

E uis irmão qui fô de fora,

êsse poeta lhe diz:

Leve meu fraterno abraço,

ao povo do seu país.

Diga qui apesá de tudo,

do Brasí eu num me mudo;

nóis sofre, mais é feliz.

Natá num tem Pão de Açúca,

nem aipinirmo profundo.

Tombém num tem Cóicovado;

qui é premêro sem sigundo.

Entretanto, cumpanhêro;

nóis tem aqui um cajuêro,

qui é o maió do mundo.

O Pico do Jaraguá,

tombém num tem puraqui.

Tem o Forte duis Reis Mago,

entre o Má e o Potengí.

Nóis num tem ais Arterosa,

mais tem ôtas coisa gostosa,

herança do Índio Poty.

Num tem Ponte da Amizade,

nem tombém Camburiú.

Bêra Ríi nem Ríi Guaíba,

do Ríi Grande do Sul.

Prá você se divirtí,

tem Ridinha, Pirangí,

Ponta Negra ô Muriú.

Tem Barrêra do Inferno,

tem Lagoa do Bom Fim,

tem Búzios, tem Bertióga,

Pium e Porto Mirim.

Tem dromedáro, isquibunda,

de bugre, emoção profunda,

Barrêta e Camurupim.

Nóis aqui num tem cerrado,

nem tampôco pantaná.

Nem ais riqueza de Palmas,

de Goiáis nem do Pará.

Tombém num tem uis colôsso,

qui tem nuis dois Mato Grôsso,

Campo Grande e Cuiabá.

Aqui tem munto, mais tu;

num pode vê nem pegá.

Tu pode apenas sintí;

e é bom; pode acreditá.

Prá você qui nuis visita,

além da terra bunita,

nóis tem munto amô prá dá.

Mais é um amô deferente,

daquêle amô duis moté;

qui é a troca de caríin,

entre um hôme e uma muié.

É amô de irmão prá irmão,

fundido no coração,

você pode fazê fé.

Vortando prá sua terra,

se argúem lhe preguntá,

diga se valeu a pena,

minha terra, visitá.

À irmã turista, ao irmão;

um bêjo no coração;

do poeta populá!...

O PERIGO DA PAIXÃO

A paixão é uma faca,

daquela qui tem dois gume.

Num adianta o indivído,

dizê qui já tem custume.

Na Igreja ô na gandáia,

cum o tá do rabo de saia,

num ai ninguém qui se aprume.

Cum ela tenha coidado,

meu amigo, meu irmão.

Qui nem musquito da dengue,

tráiz pirigo de muntão.

Mais é bom, qui dá arripíi,

meiguiá fundo no ríi,

duis prazê de uma paixão.

Se êsse vírus, intonce,

pegá o cabra de jeito,

sem dá bola p’ro perigo,

o individo mete uis peito.

Basta a muié dá um trato,

faiz dêle, gato e sapato,

e leva o cabra de êito.

Se êle amostrá prá ela,

qui êle tá apaixonado,

perpare mode sofrê,

e sê jogado de lado.

Mêrmo assim, dela, num tem;

mágua e vai mais além;

num diz qui foi disprezado.

Aí, intonce, o sujeito,

totaimente abestaiado,

na mão dela, é um brinquedo,

qui quando tá incostado;

véve triste, pesaroso;

puros canto, disgostôso;

pidindo prá sê usado.

Ela, ciente da fôrça,

qui tem sôbre o camarada,

abasta istralá o dedo,

dá um bêjo ô uma piscada.

Êle bendiz sua sorte;

mais muié é o sexo forte;

de frágil, num tem é nada.

Bota um surriso de isca,

voz de pura sedução,

maciêiz no tratamento,

e adispôi qui o cidadão;

tá cum uis pneu arriado,

pru cumpreto apaixonado,

ela chuta o cidadão.

Se diz qui a muié é farsa,

derna qui nasce surrindo.

Qui bota o hôme no bolso,

qui véve a vida fingindo.

Tombém qui prá cumpretá,

quando vai disincarná,

na certa, morre mintindo.

Se ela é mêrmo tudo isso,

qui êsse pensamento induz,

cum certeza, meu amigo,

ela é uma pesada cruz.

Mais, se assim véve ela a vida,

cuma foi ela iscuída,

mode sê mãe de Jesus ?

Mêrmo cum todo perigo,

digo nêsse verso meu:

Muié, prá mim tu é rainha;

o poeta é escravo teu.

E digo a tôda essa gente:

Te amá é o mió presente,

qui Papai do Céu me deu!...

Autor: Roberto Coutinho da Motta

Pseudônimo Literário: Bob Motta

Da Academia de Trovas do Rio Grande do Norte

Da União Brasileira de Trovadores-UBT-RN

Do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte

Da Comissão Norte-Riograndense de Folclore

Da Associação dos Poetas Populares do Rio Grande do Norte

Da União dos Cordelistas do Rio Grande do Norte

Endereço: Rua Clementino de Faria, 2075 – Morro Branco

CEP: 59.056-485 Natal-RN

Telefone:(0XX84) 3201-2008

Celular:(0XX84) 9965-6080

E-mail: bobmottapoeta@yahoo.com.br

Site: www.bobmottapoeta.com.br

Bob Motta
Enviado por Bob Motta em 03/10/2007
Código do texto: T679337
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