CORDEL DO AMOR QUE SE FOI - TÃO PERTO, TÃO LONGE

CORDEL DO AMOR QUE SE FOI

- Segunda Parte

TÃO PERTO, TÃO LONGE

Tantas vezes eu passei

Na frente da tua casa!...

Meu peito aberto se abrasa

N’este amor qu’eu apaguei

Nas cinzas do que sonhei!...

Tantas vezes... Que me arrasa

Te perder quanto me dei.

Como esquecer quem ausente

Mais presente ‘inda se faz?

Como, enfim, estar em paz,

Enquanto dentro da gente

Um turbilhão inclemente

Põe-me a olhar para trás

Ao invés de seguir em frente?...

É triste te olhar nos olhos

E n’eles me ver menor...

Porém, não os ver é pior

Do que os espiar por ferrolhos

Ou andar como se d’antolhos

Nada visse ao meu redor,

Senão d’amor os restolhos...

Porque saber-te tão perto

Fez más as boas lembranças,

Que me trazendo esperanças,

Tornou-me o caminho incerto,

Sonhando embora desperto,

Nas solitárias andanças

Pelo meu próprio deserto.

Porque saber-te tão minha,

Muito embora me deixando,

Vem me assombrar vez em quando:

Quando a noite se avizinha,

Cogito se estás sozinha

Ou mesmo se em mim pensando

Meu desejo te adivinha!...

Porque saber-te tão linda

A meia hora de distância

Apenas m’enchera de ânsia

Diante d’uma história finda...

Finda, mas que mexe ainda

Na minha total errância

À espera de tua vinda...

Contudo, nossos caminhos

Se afastavam, divergentes,

Co’os deuses indiferentes

A tanto afã por carinhos...

Decerto foram mesquinhos

Em não nos querer contentes

Para deixar-nos sozinhos.

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