Presente do Destino

prestem muita atenção

no que agora vou contar

eu sou filho do sertão

e jamais deixei meu lar

sonhava em ser doutor

pra vidas poder salvar

deixei de ser lavrador

fui pra cidade pra estudar

estudei na faculdade

passavam dias, passavam noites

perdi a mocidade

nas costas o açôite

certo dia me formei

muita alegria tive então

logo após me casei

amarrei meu coração

do casamento veio um filho

pra alegrar o meu viver

tantos anos teve brilho

meu sorriso a proceder

dezoito anos logo fez

de maior ele já estava

dei-lhe um carro neste mês

o carro que ele sonhava

viagens ele fazia

era belo o teu viver

para longe ele ia

no seu carro a correr

certo dia uma viagem

pra muito longe ele fez

era tempo de estiagem

mas tava frio naquele mês

no meio do caminho

vejam o que aconteceu

um homem ia sozinho

quando meu filho nele bateu

meu hospital lá na cidade

era de grande movimento

era um dia de claridade

mas fazia muito vento

na sala da secretária

o telefone logo tocou

angustiada comissária

no meu consultório ela entrou

me disse logo meio branca

preste atenção seu doutô

na tal lagoa santa

seu filho se afogô

seu carro caiu na água

da lagoa da cidade

dei-lhe o carro e tive mágoa

perdeu sua mocidade

hoje choro ao relembrar

dessa história seu moço

meus sonhos a embalar (...)

um foto em meu pescoço

do filho tenho saudade

das brincadeiras que eu fazia

morando aqui na cidade

só tive desalegria

estudei pra ser doutô

pra vidas poder salvar

mas meu filho se afogô

e eu nem pude ajudar

hoje sinto tanta mágoa

vem de dentro do coração

quando pego um copo d'água

meu pranto molha o chão

Euzebio Alves
Enviado por Euzebio Alves em 08/11/2005
Reeditado em 07/11/2005
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