Minha Poesia. JOSÉ AIRES DE MENDONÇA Dos “Poemas Nordestinos”, Ceará, 1976.

Minha Poesia.

Minha poesia é toda

pobre, mas é brasileira.

Contendo o perfume rústico

das flores da quixabeira,

tem o matiz desses campo

que a luz da aurora prateia

com o clarão da lua cheia

tão bela e tão feiticeira!

Meus versos são todas feitos

de coisas do meu sertão

de penas de passarinhos,

de sopros da viração,

de flores da gitirana,

da neve branca da serra,

da alegria que enche a terra,

nas noites de são João

São versos feitos do orvalho

que brilha pelas campinas,

do canto das cachoeiras,

do veu das espumas finas,

da sombra dos arvoredos

nas horas do meio dia,

quando a cigarra assobia

na matagal das colinas.

são versos feitos da luz

que surge pela manhã,

do capinzal da lagoa,

do grito da jaçanã,

do verde capim da planta,

da ribanceira dos rios,

desses grutilhões sombrios

onde se escuta a acauã…

Eu colhi estes versinhos

na mansidão dos regatos,

na margem desses ribeiros

que a gente encontra nos matos,

na candura dessas garças

no calmo vôo das gaivotas,

nos riachos e nas grotas

desses lugares tão gratos...

Estes versinhos que eu fiz

num linguajar sem beleza.

Achei-os na tona d’água

boiando na correnteza...

encontrei-os nessas tardes

langorosas e tristonhas

e nessas manhãs risonhas

cheias de luz e grandeza

Acheio-os dentro das matas

onde canta a jurití,

no silêncio desses bosques,

na voz da pitiguarí…

na verde relva dos campos,

nas flores das gitiranas,

nas galhos das umburanas

onde canta o bem-ti-vi.

Eu tirei estas estrofes

da fonte da inspiração

dos prados, dos taboleiros,

das várzeas, da solidão,

da brisa que beija as folhas,

que canta arejando as matas,

do fragor dessas cascatas,

do meu querido Sertão.

Zé Berêba
Enviado por Zé Berêba em 19/02/2020
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