ACREDITO NO DOUTOR OU ESCUTO O PRESIDENTE?

Estamos literalmente

Entre a cruz e a espada,

Ou num beco sem saída

Ante a fera esfomeada,

O que sai pra trabalhar

Está sujeito a pegar

Esse vírus que consome!

E aquele que não sair

Nada vai adquirir

Ficando a mercê da fome.

O presidente diz: saia

Vá pra rua, produzir,

O doutor diz: fique em casa

Precisa se prevenir,

Esclareçam por favor!

Eu obedeço ao doutor

Ou, vou pelo presidente,

Que pensa na economia

E acha que a pandemia

É um resfriado somente?

O doutor diz que a doença

Vai matar gente de eito,

Porém nosso presidente

Não pensa do mesmo jeito

Incentiva e insinua

Que o povo saia pra rua

E pra o vírus não dê bola

Porque não vê atrapalho

Tendo o povão no trabalho

E as crianças na escola.

O presidente acredita

Em autoimunização,

E diz que essa gripezinha

Não vai derrubá-lo não!

E disso está convencido

Pois se for acometido

Sabe que não passa mal,

Terá um bom tratamento

Num pomposo apartamento

De um luxuoso hospital.

Mas, o coitado da plebe,

Se contrair, tá lascado!

Entra num hospital público

Que está desestruturado

Pra receber tal mazela;

Triste daquele ou daquela

Que ali internado for

Em busca de tratamento

Morre sem medicamento

E por não ter respirador.

O doutor diz que em casa

Estarei bem amparado,

Não irei contaminar

Nem serei contaminado

E em justa recompensa

Se não pegar a doença

Não passarei pra ninguém

E se não fugir da norma

Agindo assim dessa forma

Poderei ir mais além.

O presidente contesta

Essa determinação,

Diz que o vírus só ataca

O idoso, o ancião,

Afirma que a juventude

Que contém boa saúde

Pode e deve trabalhar

Porque existe a tendência

De o país ir a falência

Se assim continuar.

Então fiquei eu aqui

No mais completo dilema,

Sem encontrar a saída

Pra resolver o problema,

Ir pra rua é arriscado

Mas, em casa confinado,

Irá faltar alimento

Essa incerteza me arrasa!

O que faço, fico em casa,

Ou vou buscar suprimento?

Lá na rua eu adquiro

Essa virose cruel,

Porém não posso parar,

Tem água, luz, aluguel,

Pra fazer o pagamento,

E dinheiro para o sustento

Do remédio e da comida,

Como é que vou arranjar?

Parado e sem trabalhar

Sei que a causa está perdida.

Eu procuro e não encontro

O ponto “X” da questão,

O presidente está certo

Ou o doutor tem razão?

O doutor pensa na plebe

Que de fato é quem recebe

O impacto da pandemia,

Ao presidente, no entanto,

O que está causando espanto

São os rumos da economia.

Carlos Aires

26/03/2020