O BOÊMIO A CIGARRA E A FORMIGA (contos de quarentena)
Assim começou a carreira
De quem largou a vigília
E desprezou a família
Pra viver no submundo
Só queria era sossego
Ele não queria emprego
Era um pária vagabundo
Não pagava suas contas
Era um grande caloteiro
Apesar de ser fuleiro
Usava roupa estilosa
Só andava na boemia
E assim ele perseguia
Uma carreira glamorosa
Na maior loja do chopim
Chegava para animar
Sabia como cativar
Gente de altos padrões
A loja ficava lotada
Daquela gente abastada
Para ouvir sua canções
Usando Ray ban escuro
Se encostava no balcão
E abraçava seu violão
Que acabara de roubar
Tirava o boné judiado
Que colocava ao seu lado
E começava a cantar
Usando roupas coladas
O velho boêmio cantava
O cavanhaque lhe dava
Uma aparência de Raul
Tocava rock pauleira
Também tocava vaneira
Dos gaúchos la do sul
Já à noite no restaurante
Quando o turno terminava
Velho boêmio bancava
Uma suculenta chuleta
Em casa não ajudava
pra família nem levava
O que ganhava de gorjeta
Pegava aquele dinheiro
E dividia com o gerente
Um corrupto indecente
Que enaltecia o seu ego
E ele com a vóz afinada
Dizia pra mulherada
Que delicia.. ai se te pego
E fizeram um contrato
Que durante a pandemia
Ele levasse animação
Pra divertir a freguesia
E agora já contratado
Tinha lugar reservado
Cama comida e estadia
Começava ali a carreira
Desse artista delinquente
Que mudava diariamente
Para não ficar manjado
E com medo do futuro
Preferia andar no escuro
Não queria ser notado
Os casais que ali passavam
Lhe jogavam alguns reais
Uns menos e outros mais
E logo o boné enchia
A grana que lhe sobrava
Finalmente ele gastava
Na zona que ele dormia
Mas o boêmio envelheceu
Foi em busca de guarida
Mas ele se viu sem saída
Nem na zona foi acolhido
Somente por culpa sua
Hoje ele dorme na rua
Teve o troco merecido
Como cigarra da fábula
Reviveu aquela cena
Chegou a dar muita pena
Ao ouvir de sua senhora
Você viveu da cantiga
Como dizia a formiga
Cantavas, pois, dance agora