A SOLIDÃO É UMA NAVALHA AFIADA
POR JOEL MARINHO
 
A solidão é espinho
Uma navalha afiada
Penetra forte o espírito
Deixando a alma sangrada
 E faz o machão chorar
Igual criança assustada.
 
Eu até que gosto dela
Porém dentro do limite
Momento pra refletir
Sem ninguém me dá palpite
Mas logo eu quero gente
Com barulho, acredite!
 
Porque nenhum ser humano
Nasceu pra ficar sozinho
Pois desde os primeiros homens
O grupo era o caminho
Pra caçar e se proteger
Precisavam dos “vizinhos”.
 
Em toda luta de “classe”
Que tivemos na História
E em todas as grandes guerras
Que temos como memória
Ninguém conseguiu sozinho
Chegar a grande vitória.
 
Solidão é bicho feio
Tem a cara carrancuda
Quando você está sozinho
É aquele deus nos acuda
É dor de dente a noite
Daquelas dores agudas.
 
Percebe-se que até os bichos
Considerados mais brutos
Geralmente andam em bando
E tem os seus estatutos
Até um leão sozinho
É só um leão fajuto.
 
Porém vejo entre os humanos
Um forte distanciamento
Nos últimos cinquenta anos
Cresceu o descontentamento
De um povo como grupo
Trazendo dor e tormento.
 
Ficamos muito reféns
Da tal tecnologia
Nosso contato mudou
Tornou-se mecânica e fria
Cada um no seu quadrado
Cresceu a nossa agonia.
 
Até a famosa fofoca
Ficou um pouco distante
Cada um da sua casa
De forma deselegante
Passa o dia fuçando
A vida do semelhante.
 
E com a velocidade
Que tem a informação
Pode tornar um inferno
A vida de um “irmão”
Pois escondido é mais fácil
Causar a destruição.
 
E assim somos isolados
Um do outro loucamente
Moramos no mesmo prédio
Mas parece tão ausente
Porque não mais conhecemos
Nosso vizinho da frente.
 
É aí que mora o perigo
De algo que vem crescendo
Ansiedade e depressão
Tornou-se “bichos” horrendos
Leva os humanos a loucura
Eis que tem muitos morrendo.
 
Seria demais pedir
Um pouco mais de amor
Por mais carinho e amizade
Porém com muito calor
Olhando olho no olho
Pra diminuir a dor?
 
Pois quando nos isolamos
Em nosso individualismo
Tornamo-nos menos humanos
E despencamos no abismo
O outro se torna número
E nós no nosso ostracismo.
 
Assim igual para o outro
Somos um número também
Perde-se o elo da vida
Pois somente o que convém
É o eu triste e solitário
No desgovernado trem.
 
Sei que ainda dá tempo
De pormos o trem no trilho
Eu sou humano e acredito
Entre nós ainda tem brilho
Sei que o meu sonho é
Como eu um andarilho.
 
Um dia ainda teremos
Luz pra essa escuridão
Essas décadas ofuscadas
Com o monstro da solidão
O crescer do individualismo
Causando separação.
 
Somos seres sociáveis
E precisamos de gente
Se ficarmos isolados
Anulamos a corrente
Que dá força e traz a vida,
Pois sozinhos somos carentes.
 
Um abraço e uma conversa
Debaixo de uma mangueira
Ou na calçada do vizinho
É uma grande maneira
De nos tornarmos mais fortes
E sem muita choradeira.
 
Talvez uns desavisados
Chame-me de comunista
Só porque falo de grupo
Mas deixo a eles a pista
Se me furarem um olho
Ainda conservo a vista.
 
Sou apenas um sonhador
Em ver um mundo melhor
Com amor e humanidade
E pra desatar esse nó
Precisamos acreditar
Que juntos somos “maior”.
 
Como disse, ainda acredito,
Que podemos melhorar
Quando nós, seres humanos,
Quisermos de fato mudar
Acabar com o pessimismo
Deixar o individualismo
E como grupo lutar.