A PELEJA ENTRE A CIGARRA E O GRILO!!!

Uma cigarra cantora

E um grilo que bem verseja,

Pra ver quem melhor cantava

Entraram numa peleja,

O grilo preocupado

Disse assim: oh! Deus louvado!

Espero que me proteja.

A cigarra também estava

Bastante preocupada,

E disse: Deus me acompanhe

Que a luta vai ser pesada,

Vou cantar no meu estilo

Só pra mostrar a esse grilo

Quem vai vencer a parada.

O grilo disse está pronta

Pra cantar, dona cigarra?

A cigarra disse estou

E já afinei a guitarra!

E eu, o meu instrumento!

Estão está no momento

De começarmos a farra.

A cigarra iniciou

Fazendo afronta e despeita,

Foi logo dizendo ao grilo

Hoje ou você me respeita

Para cantar de improviso

Pois, se não tiver juízo,

Comigo logo se ajeita.

O grilo falou: cigarra

Pra cantar sou preparado,

Além de ser bom na rima

Meu verso é metrificado!

Já você não faz assim,

Pois já disseram pra mim

Que só canta decorado.

A cigarra disse: ou grilo

Isso é boato e lorota,

Pois vou lhe mostrar cantando

Que sequer erro uma nota,

É bom que tome cuidado

Se não for bom de versado

Vai amargar a derrota.

Logo a contenda aumentou

Quando o grilo disse assim,

Cigarra tu canta pouco

E o teu canto é fraco ruim,

Desafinado e sem tema,

E pra fazer um poema

Estás bem longe de mim.

A cigarra disse: ou grilo

Deixa de te pabular,

Pois aqui nessa floresta

Quem escuta o meu cantar

Faz-me elogio e louvor!

Já o teu, é um horror,

Não há quem queira escutar.

O grilo disse: eu vou ver

Se você sabe cantar,

E não fuja da parada

Pois vou lhe desafiar

Se aceitar minha proposta

Terá que dar a resposta

Sem sequer titubear.

A proposta está aceita

Faça a pergunta grilinho!

Não sou de ficar calada,

Nem fico pelo caminho,

Nunca parei na metade

Mesmo se houver tempestade

Pedra cascalho ou espinho.

Então me responda agora

Sem fugir do desafio,

Pra não perder de uma vez

A altivez e o brio,

E sem sair do conceito,

Quem é que habita no leito

E na correnteza do rio?

A cigarra disse escute

Que vou lhe dizer quem é,

A piaba e a traíra,

Lambari, tucunaré,

A piranha e o muçu,

Poraquê, pirarucu,

O cascudo e o jacaré.

O grilo falou: achei

Que respondeu muito bem,

Vou lhe perguntar de novo.

Porque assim me convém,

E quero a resposta exata,

Da bicharada da mata

Você tem medo de alguém?

A cigarra respondeu:

Tenho, e lhe explico a razão!

Pois muitos são predadores

E atacam sem compaixão,

Preciso andar prevenida,

Pois a fera mais temida

Por mim é o camaleão.

O grilo disse a cigarra:

Achei bom seu respostar,

E acho que está na hora

De invertermos o lugar

Pra continuar no lance,

Estou lhe ofertando a chance

De você me perguntar.

A cigarra agradeceu

Toda aquela gentileza,

E preguntou para o grilo

Quero saber com presteza

Qual é a ave canora

Que habita aqui nessa flora

E canta com mais beleza?

O grilo disse: cigarra,

Todos cantam muito bem,

O campina e o concriz,

O azulão, o vem-vem,

Gosto até do carcará!

Mas é para o sabiá

Que dou minha nota cem.

A cigarra disse assim:

Sua resposta foi boa,

Vou perguntar outra vez

E não quero resposta atoa,

Então responda sem falta

Qual é a ave pernalta

Que habita aquela lagoa?

Dou-lhe a resposta na hora

Pra resolver a questão,

É ave muito sabida!

Chama-se pássaro carão,

Sem aparelho moderno

Da chegada do inverno

Ela faz a previsão.

A cigarra disse ao grilo:

Eu fiquei bem satisfeita,

Se a pergunta foi exata

A resposta foi perfeita,

Acho bom quando a cantiga

Finda, sem que haja briga,

E um ao outro respeita.

O grilo por sua vez

Disse: também achei bom,

Você cantou afinada

Sem sequer sai do tom,

Por isso vou lhe aplaudir,

E tenho que admitir

Que pra cantar trouxe o dom.

A bicharada aplaudia

A cantoria animada,

Que começou logo cedo

E só findou de madrugada

A cigarra disse ao grilo

Você cantou bem tranquilo

Gostei da sua toada.

O grilo disse: eu também

Adorei nossa cantiga,

E já que não houve alarde,

Nem causou nenhuma intriga,

Nem uma mágoa aparente,

Quero que daqui pra frente

Você seja minha amiga.

E assim findou a contenda

Desse casal trovador,

Da cigarra e nem do grilo,

Ocultei qualquer valor,

E fiquei bem convencido

Que aqui não houve vencido

Como também vencedor.

Carlos Aires

27/06/2020