Os negros da Cabanagem
Atenção meus camaradas
Pro que agora vou contar
A História de um povo
Da província Grão-Pará
Que vivia sem direito
De poder participar
A elite da província
Era muito orgulhosa
Vivia explorando o povo
Em sobrados luxuosos
Não permitindo aos nativos
Viver sua própria historia
Muitos viviam da pesca
As margens dos ribeirões
Coletando e caçando
Na floresta e nos grotões
Mas sempre preocupados
Em ser dignos cidadãos
Foi ai que então surgiu
O grande propagador
O homem que acreditava
Em deus e nosso senhor
O padre Batista Campos
Rival do governador
Batista Gonçalves campos
Aqui muito bem lembrado
Fundador de “O paraense”
Jornalista e advogado
Enfrentou o então gestor
Presidente do estado
O povo foi que ganhou
Com sua evangelização
Dos muitos ensinamentos
E das suas pregações
Ensinou que o bom da vida
É livrar-se dos grilhões
Quem mais acreditou nisso
Foram mesmo os desvalidos
Mestiços índios e negros
Que em cabanas viviam
Nas vilas e nas florestas
As margens dos longos rios
Outro padre importante
Na trilha da Cabanagem
Foi o frade franciscano
Um grande missionário
Um pregador ilustrado
De nome Luiz Zagalo
Foi expulso da província
Por ser contra a escravidão
Por ensinar aos cativos
Como tornar-se cidadão
Aprendendo seus direitos
Pra construção da nação
Frei Zagalo de Caiena
O peregrino descalço
O pregador da floresta
Que aqui deixou marcas
O profeta da Amazônia
O professor dos escravos
Aos escravos ensinou
O valor da liberdade
Trazendo da sua metrópole
O conjunto das verdades
Vindas da Revolução
Que transformou a cidade
Frei Zagallo foi expulso
Deixando aqui seu legado
Ensinou que era contra
Homem viver amarrado
Trouxe o exemplo de cristo
Que o libertou do pecado
Outro grande personagem
Que aqui vou lhe mostrar
Antes da independência
A escravidão queria acabar
O jovem Felipe Patroni
O advogado do Grão-Pará
Patroni foi Precursor
Da imprensa na Amazônia
Ciou um grande impresso
Ninguém esquece seu nome
O jornal O Paraense
Um verdadeiro fenômeno
Os negros se animaram
Com os ventos da floresta
Os ares do velho mundo
O povo fazendo festa
Com um rei guilhotinado
E a abolição em processo
Patroni foi incansável
Na defesa do seu povo
Por isso foi perseguido
E deportado de novo
Um ativista Amazônida
Na revolução do porto.
Mas agora quero mesmo
Apresentar pra vocês
Dizer que na Cabanagem
Os negros tiveram vez
Levantaram-se e lutaram
Com honra e altivez
Mas agora quem vos fala
É Francisco de Oliveira
O capitão dos cabanos
O preto lá da pedreira
Que lutou na Cabanagem
Defendendo a cabroeira
O numero é infinito
De pretos forros e escravos
Que viram na cabanagem
O seu lugar de destaque
João Fernandes Carapiunas
Um comandante mulato
Tem o Felix do Acará
O Cristóvão de Caraparú
Tem o preto Manuel dos Anjos
E o Belizário da mundurucu
Tem o André Carapina
E Hilário cafuz de itapecurú
A listagem é muito grande
Dos negros da cabanagem
Forro escravo e libertos
Os que não voltaram mais
Os guerreiros invisíveis
Excluídos dos anais
Joaquim Afonso e Patriota
Merecem nossa atenção
Lutaram na cabanagem
Pensando na abolição
Porem foram fuzilados
Contrariando o patrão
Os negros se revoltaram
Ante tal situação
Criaram um movimento
Contra a forte repressão
Imposta por Angelim
Indiferente à abolição
Angelim se declarou
Inimigo dos escravos
Organiza expedições
E tenta exterminá-los
Temendo perder apoio
Do clero, seus donatários
A resistência dos negros
É um ponto interessante
Naquele momento histórico
Do forro João O Diamante
Que lidera a repressão
Contra o comandante branco
A história é seletiva
E também ideológica
Sua construção implica
Os lados que a provocam
Mas a boa narrativa
Deve ter base e suporte
As marcas da escravidão
Ficaram por toda parte
Mesmo com a abolição
Pouco mudou o aparato
E os negros continuaram
Reféns do anonimato
Belém, 11 de junho de 2020
milton