SE O POBRE FOSSE RICO E O RICO FOSSE POBRE. Francisco Luiz Mendes
SE O POBRE FOSSE RICO
E O RICO FOSSE POBRE.
Se eu fosse dono do mundo
Tanta coisa eu mudaria
Entre o rico e o pobre
Os papéis eu invertia
O pobre vivia rico
E o rico pobre vivia.
Havia na mesa do rico
Broa de caco e café
Pra ele sentir na pele
Manhã de pobre como é
Em vez de banha no pão
Era óleo de catolé.
Só filé o pobre comia
E o rico roía o osso
Água de pobre cristal
Do rico água de poço
Pobre com três refeições
O rico só um almoço.
No pescoço com a corda
Assim o rico vivia
Limpa em casa de pobre
Era o rico quem fazia
Ainda na sua mansão
Trabalhava de vigia.
Quem saía era o rico
Logo pelo amanhecer
Ao supermercado a pé
A sua feira a fazer
E debaixo de garoa
No lombo a mesma trazer.
Para cada filho seu
O pobre presenteava
Um carro zero do ano
À vista ele pagava
Enquanto o milionário
Num jegue perambulava.
O transporte predileto
De pobre era avião
O rico tinha por sorte
A viagem de busão
Ou de carona com amigo
Puxando um carroção.
Um bom colchão pobre tinha
Pra seu corpo repousar
O rico por sua vez
Tábua para se deitar
E dava graças a Deus
Ter ponte pra pernoitar.
Caviar pela manhã
O pobre se deleitava
E lá na mesa do rico
Um pão se saboreava
Com o resto de manteiga
Que do vizinho sobrava.
O pobre lá na ginástica
Para um atleta parecer
Então o esporte do rico
Logo pelo amanhecer
Todo dia da semana
Lá no parquinho correr.
Em lazer o pobre sempre
Sem ter preocupação
As viagens a negócios
Eram sua distração
O rico só era visto
Indo para o mercadão.
Muita gente fina o pobre
O rico um joão-ninguém
Pobre de limusine
Quanto ao rico só de trem
Bem apertado no vagão
No sovaco de alguém.
Rico no armazém comprava
Pra pagar no fim do mês
O pobre ia ao shopping
Gastava de uma só vez
O rico na vizinhança
Taxado de mal freguês.
Em inglês nome de pobre
Logo era conhecido
O abastado dentre os seus
Chamado pelo apelido
O pobre era o educado
O rico era o enxerido.
Era escolhido o pobre
Um cidadão de estado
E o rico só prestava
Pra maloque de recado
O pobre era o patrão
O rico seu empregado.
Bem trajado pobre andava
Paletó e calça de linho
Com o sapato engraxado
Cabelo bem penteadinho
Rico pra sair de casa
Emprestava do vizinho.
Num jatinho pobre voava
Indo direto pra França
Pra na bolsa de valores
Aplicar sua poupança
O rico que o ganhava
Mal pagava sua fiança.
Em festança o pobre sempre
Sua vida era agitada
Pra todos os coquetéis
Com família convidada
Rico só ia a uma festa
Se liberasse a entrada.
Bebes, boa pobre degustava
A melhor marca da praça.
Rico tinha só licor
E garrafa de cachaça
O pobre por piedade
Dava-lhe uma de graça.
Calçado de rico látex
De pneu de caminhão
Pois o pobre só usava
Sapato cromo alemão
Feito pelo sapateiro
E o melhor da região.
Sabão de rico o xampu
De banha de animal
Pobre tinha do melhor
Do tipo, Paris L´Oréal.
Rico pra se contentar
Usa marca nacional.
No arraial festa de rico
De pobre num cruzeirão
Com orquestra renomada
De bom gosto e afinação
Um benfazejo aos ouvidos
E também ao coração.
Alcatrão licor de rico
De pobre vinho bom gosto
Hobby de pobre viagem
De rico pagar imposto
Pobre só tinha alegria
Rico somente desgosto.
Tira gosto era o petisco
De rico na refeição
O pobre após a sua
Variava a opção
Rico se satisfazia
Com batida de limão.
Para o sacolão ia o rico
Mas o pobre não saía
Por meio de Internet
A sua compra fazia
Rico ficava torcendo
Achar a sobra do dia.
E não latia cão de pobre
Porque fome não passava
O do rico era nervoso
Até com próprio rosnava
Dividia sua boia
De guarda ainda ficava.
Doava a mulher do pobre
O que estava na sobra
A do rico ia para fila
Feito piolho-de-cobra
Para receber doação
Do brechó meia dobra.
Em obra ralava o rico
Pra bandas do cafundó
Pobre só em escritório
De gravata e paletó
Curtindo o bem-estar
Desatando a vida em nó.
Em brechó sempre o rico
Quando em liquidação
Pobre em loja de grife
E a melhor da região
O rico só tinha o gosto
De olhar do calçadão.
De segunda mão um relógio
Era o rico que usava
O do pobre tinha marca
Rolex não lhe faltava
Do rico nem por um dia
No seu pulso funcionava.
O pobre só consumia
Cosméticos importados
O rico por sua vez
Usava os mais variados
De batom a pó de arroz
Eram todos procurados.
Os caracteres trocados
Foi pura imaginação
Pobre continua pobre
Abocanhando feijão
Rico cada vez mais rico
E será sempre patrão.
FIM.