O TREM DA SAUDADE!!!

Que saudade eu sinto de um outrora

Conservado nalgum lugar da mente,

E tentar transportá-lo pra o presente

Já começo a fazê-lo desde agora,

E sei bem, muita gente rememora,

Desse trem que tão bem cumpriu a sina

Mas sanha do tempo é tão ferina

Que deu cabo daquele trem querido

Apagando-o, deixando-o restringido,

Aos arquivos da história de Carpina.

Quatro horas em ponto da matina

A partida era dada fielmente,

E o trem deslizava indo em frente

Pra cumprir mais um dia de rotina,

O sininho tocava e a buzina

Seu apito sonoro ressoava

Muita gente vizinha se acordava

Com o barulho que o velho trem fazia

Mesmo assim a viagem prosseguia

Só as nove da noite retornava.

Lembro ainda de quando ele chegava

E parava em frente a estação,

Cada porta se abria e nessa ação

Todo o povo ali desembarcava

Era o ponto final que já se dava

Do trajeto cumprido e certamente

A limpeza era feita e finalmente

Já estava asseado e bem varrido

E em silêncio ficava recolhido

Pra cedinho ir embora novamente.

Mas que pena! Já não se faz presente,

Esse bem de imensa serventia,

Os gestores que tem alma vazia

O excluíram sem dó radicalmente,

Desse trem que servia a tanta gente

Resta a história bonita e seus legados

E os trilhos, que ainda estão fincados,

Permanecem expostos sobre o chão

E no prédio da antiga estação

Seus aspectos também foram mudados.

Nem ao menos deixaram preservados

Os depósitos e o velho girador,

Como algum objeto sem valor

Um a um foram sendo derrubados

Simplesmente já foram descartados

Sem que houvesse um motivo aparente

É a história morrendo lentamente

Sem que haja nenhuma transparência,

Ou se toma alguma providência

Ou veremos o fim literalmente.

Trens famosos que vinha antigamente,

Como o trem “Asa Branca”, o “Trem da Feira”,

Ainda tinha a antiga “Cambiteira”

E o “Trem do Forró” cheio de gente,

Nada mais disso existe atualmente

Só na mente de alguém que está lembrado,

Quem viveu essa época no passado

Com certeza jamais vai desistir

De lembra-la pra não deixar sumir

Pelo ralo do esgoto esse legado.

Eu, a muito aqui estou radicado,

E adoro demais esse lugar

Onde tudo que pude conquistar

Foi aqui nesse chão abençoado,

Mesmo sendo um filho adotado

Já conheço tão bem a tua história

E preservo-a guardada na memória

E não aceito que seja destruída

Tudo eu faço para manter com vida

Esse outrora que foi cheio de glória.

O triunfo, a conquista e a vitória,

Desse trem, não devia ter morrido,

E não deve jamais ser esquecido

O percurso da sua trajetória

Mesmo estando em uma fase inglória

Que se deu num período bem recente

Não deixemos que morra essa semente

Que no ontem já teve um bom sentido

Mas no hoje está sendo reduzido

A o trem da saudade tão somente.

Carlos Aires

25/11/2020