MEGERA.
Hoje eu sei que
que nada sei,
que nunca soube
de nada,
o que agora eu quero,
é por fim
nesta empreitada.
Você diz que num
me quer,
que eu pago muito
mico,
mas vou ti dizer
uma coisa.
nunca fui para teu bico.
Pode chorar se quiser,
choro num mata ninguém,
sempre diz que tô aquém,
mas sabe que estou além,
sozinha chora por mim,
eu cá, nunca chorei
por minguem,
nós dois tamos mais
distantes ,
de tudo que mora além.
Lembra lá daquele dia,
que fui lá te procura,
e se escondeu de mim,
pra modo de me machucá,
curei aquela ferida,
que me doeu pra daná,
com a reza da benzedeira,
e suco de maracujá.
Eu jurei naquele dia,
pela santa madalena,
que num piscar de zóio,
de sumir de tal dilema,
eu ia me libertar,
dessa cachaça danada,
que é viver por você,
me corroendo por dentro,
tirar do meu pensamento
era minha obsessão.
Se não tirar vou beber,
essa vai ser minha sina,
vou virar maltrapilho,
por causa desta menina,
vou beber querosene,
cachaça de garrafão,
pra esquecer essa dor
que corta meu coração.
Acredite se quiser,
eu tenho o meu caminho,
onde eu passo quase sempre,
vento faz redemoinho,
varre todas minhas dores,
varreu essa dor também,
hoje sinto aliviado
da dor que causou meu bem.
Pulei cerca e pinguela,
pra fugir desta desgraça,
o sorriso que hoje tenho,
este olhar cheio de graça,
a leveza que hoje tenho,
é voo de borboleta,
voando sobre abismos
de rio em correnteza,
me livrei dessa megera
lhe afirmo com certeza.
Fui criado lá na roça,
como um bicho lá do mato,
o destino me lascou
me jogando na cidade,
perde todo o vigor
de minha santa mocidade,
descobre que a paixão
é faca bem amolada,
sangra o peito e a alma,
numa única espetada,
deixa o corpo em pedaço,
mergulhado numa taça.
Vou ficando por aqui,
vou parar com meu lamento,
não sou santo e nem bento,
foi por isso que sofri,
come o pão que o diabo
amassou com o seu rabo,
cai nessa bebedeira,
chorei lágrimas de crocodilo,
ela acha que tô morto,
mas ainda não morri,
um dia ela vai chorar,
neste dia vou sorri.
Vou seguir no meu poema,
vou largar a minha cachaça,
um caboclo do sertão,
tem a alma mais lavada,
seu olhar enxerga o mundo,
numa única bizoiada,
seu coração bate forte,
como firme marretada,
não é a dor de um amor,
que vai enterrar sua alma.
Veja agora que sai deste
minha enrascada,
estou livre pra voar
pra minha velha morada,
como um pássaro que fugiu
das garras do Carcará,
escapando por um tris,
viu seu corpo espedaçado,
pela unha da paixão,
que é uma unha afiada,
corta mais que bisturi,
deixa a carne ensanguentada,
Hoje salvei corpo e alma,
lhe provo neste cordel,
a fruta que era amarga,
está doce como meu,
hoje estou livre
para outras aventuras,
virei tecido cortado
para remendos e costuras,
mas não perdi minha postura,
de cabra lá do sertão,
Ela hoje me quer,
mas eu não a quero não,
arremato este cordel,
para lhe dar impressão,
que um poeta sofre a dor
que nunca sofreu então,
sofre a dor que muitos sofrem,
para esculpir sua construção,
mas confesso não brinque
com a dor de uma paixão...