EU SEM ELA, ELA SEM EU

Tá vendo aquela "mulé"

Sentada acolá sozinha?

Ela já foi mulé minha

Comeu da minha "culé",

Mas só vivemos até

Deu certo, quando não deu

Eu peguei o que era meu

Deixei o que era dela

Saí, bati a cancela

E hoje aqui estou eu.

Sem ninguém, mas bem feliz

Tranquilo igualmente um monge.

Tudo porque eu tô longe

Daquela pobre infeliz.

É como o ditado diz

Isso eu tenho bem gravado:

Não é bom ficar largado

Sem chamego, sem carinho,

Mas é melhor tá sozinho

Do que mal acompanhado.

Ela até que era uma

Dona de casa decente.

Sorria, era contente,

Me dava amor de ruma.

Só que ela desapruma

Com a febre do ciúme.

Não há diabo que aprume

Fica toda malcriada

Percebe que tá errada

Mas seu erro não assume.

Quando de casa eu saía

Ficava aperriada.

Sentava lá na calçada

Numa tremenda agonia.

Enquanto ela não via

Eu voltando não entrava.

Quando em casa eu chegava

Tome a reclamação,

Xingamento, palavrão

Como o satanás de brava.

Pergunta era um milhão

Que a desgraçada fazia:

Se eu conversei com Maria

Filha de Seu Bastião.

Ou se eu fui com Valadão

Lá pra rua lá de cima,

Onde fica o "Bar das Prima"...

E parecendo uma insana:

- Tu tava tomando cana

Com essa história de rima!

- Tu é mesmo sem futuro

Bicho velho imprestável

Eu fico aqui toda amável

Todo dia dando duro;

Cultivando um amor puro

E tu arrumando intriga.

Parece gostar de briga

Porque senão não saía

De casa assim todo dia

Com bando de rapariga.

Eu só ficava escutando

Calado, sem dizer nada.

Dava fé as bordoada

Que ela vinha me dando

Doendo, mas aguentando

Todo aquele desaforo.

Uma caninga, um agouro

Que só fez alimentar

A decisão de deixar

O lar, meu maior tesouro.

Hoje vendo ela assim,

Sozinha e abandonada,

Má vestida, embriagada

Na mesa de um botequim...

Dá uma agonia sim

Uma dor bem dentro d'eu

Sinto que nós dois perdeu

Com nossa separação,

Mas tá bom assim patrão

Eu sem ela, ela sem eu.

Benildo Nery,

Um poeta de Montanhas