CIDADE EM DECLÍNIO

Revirando os meus papéis

É estranho o que encontrei

Uma história interessante

Que bem distante passei

Lembro como sendo agora

Escrever sempre esperei.

Naquele sonho enfrentei

Um famoso ditador

Eu rasguei seus medalhões

Ele, de nada gostou

Partiu para uma luta

Nessa fui vencedor.

Quando tudo terminou

Eu naquela flor da idade

Fui atrás de uns cavaleiros

Entrando pela cidade

Meti fogo em carruagem

Somente pela vaidade.

Nesta promiscuidade

Decretei toda prisão

A um maldito salafrário

Que vendia o pobre irmão

Pendurei a cabeça dele

Num poste da Conceição.

De repente a solidão

Montada em seu bom jumento

Ri numa felicidade

Tamanho contentamento

Pegou a sua nobre espora

E fez dela movimento.

Voa alto naquele vento

Aquela águia europeia

Que beliscou o meu cavalo

E eu tive logo uma ideia

Levar adiante o caso

À uma grande assembleia.

Tava lotada a plateia

Muita gente do mundo

Para ver aquele embate

Com o soldado Raimundo

Quem ganhasse aquela luta

Teria o amor mais profundo.

Neste instante um moribundo

Vindo da baixa da égua

Pede pelo mais sagrado

Que a gente desse uma trégua

Foi determinando o tempo

Com aquela sua régua.

Um jumento andou uma légua

E começou a relinchar

A orelha dele cresceu

Fez morto ressuscitar

População em sofrimento

Quis tão somente pensar.

Vocês não vão acreditar

O que este soldado fez

Pegou uma espada brilhosa

E foi falando outra vez

Porque ele já era o dono

Eu dele fiquei freguês.

Galinha que era pedrês

Começou a dizer amém

Que os bichos todos da mata

Cantaram tema do além

A águia triste num canto

Foi chamando mais de cem.

A comida foi xerém

Enchendo o bucho de tudo

Faminto deu logo um tempo

E o viver foi mais sortudo

Vencendo a luta sem luta

Entra em cena o grande entrudo.

Nesta história não me iludo

Tanto mais que verdadeira

Fui ser controlador

Conheci uma bandoleira

Mulher mais linda dali

Me deu logo uma rasteira.

Saí, fui na parteira

Pedi de volta a mulher

Mas o silêncio do parto

Transmitia uma tal fé

Eu peguei o meu escapulário

Fui tomando um café.

Naquele instante o Mané

Responsável na fornalha

Me pegando pelas mãos

E foi subindo na calha

Eu vi toda moradia

Toda coberta de palha.

Falei: - Nada me atrapalha

Eu cumprirei o prometido

Vencer peleja com cão

Isto, enfim, terá sentido

Não posso me acostumar

Com tanto ato pervertido!

Recebi bem merecido

A flor coberta de espinho

Escrita em laço de fita

Uma frase com carinho

Dizendo que eu fosse embora

Esquecesse o meu cantinho.

Quem foi aquele diabinho

Que aprontou a indelicadeza

Porque sou toda promessa

De acabar logo a pobreza

Fazer a população

Vivenciar a riqueza?

Mas, foi tão grande a brabeza

E o povo todo instigando

As vozes vindas das casas

Iam todas misturando

Naquilo surge o perdão

Vai em tudo só atirando.

Fui logo me jogando

Ao cair tantos pedaços

Meu coração só tremia

Na composição dos aços

Uma espada saindo dele

Criava mais embaraços.

Nada disto era fracasso

Tão somente a paciência

Eu peguei os meus documentos

Gritei algo pela ciência

O povo que não me ouvia

Dizendo: - É indecência!

Minha vida penitência

Nas mãos daquele poder

Meu coração se arribou

Muito antes de perder

A cabeça de um jumento

Começando a se mexer.

Fiquei sem nada entender

Só queria ser bem vindo

O povo todo cansado

Das ruas se poluindo

Rio que corta o lugar

Foi bem depressa se abrindo.

Juro que não estou mentido

Verdade tudo que apronto

No rio entraram as moças

E isto foi muito afronto

Davam risadas os jovens

Naquele grande confronto.

Neste ato eu não deixo pronto

Dou vírgula e sei da história

Moças quando nasciam

Se prestavam para a glória

Tantas se debandavam

Pra viverem pela escória.

Neste tempo a palmatória

Era um exercício nato

Na escola sendo aprovado

Bater com força sem trato

Família assinava em branco

Aquele bruxo contrato.

Não discordo, isto é fato

Neste lugar indecente

Onde o valor das ideias

Mata o saber de uma gente

Poder está no patrão

Por ser ele intransigente.

Todo mundo era parente

Eu me senti como estranho

Jesus pegou sua cabra

Saiu num grande rebanho

Dizendo que era pastor

Precisava tomar banho.

Com aquele olhar castanho

De imediato fitei

Aquele espaço tão grande

Que nesse início ignorei

E pensando em criar gado

Num repentino parei.

O que disse eu nunca sei

Numa eterna disparada

Não era mais o meu cavalo

Voava montado em nada

Gritava e ficava triste

Por não ter dado mancada.

A testa estava marcada

Com símbolo da alegria

Nem sabia me expressar

Se soubesse contaria

Num ritual com tanto anjo

As dores suportaria.

Tudo isto num simples dia

Construí um belo canto

Entre o céu no purgatório

Foi dentro de um grande manto

Diabo em traje de bem

E o mal querendo ser santo.

Deitado sonho e levanto

Penso no raciocínio

Enfrentei um bando terrível

Pois, escrevi um latrocínio

Vi esta cidade crescer

E percebi o seu declínio.

BENTO JUNIOR
Enviado por BENTO JUNIOR em 12/02/2021
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