UM NEGÓCIO SEM FUTURO
Como diz o Jessier
Quirino grande poeta:
“Não terá como não ser
Coisa de um grande pateta,
Um cabra velho barbado
Já com o fardo pesado
Tendo a idade inimiga,
Cismar que é garotão;
Dar uma de garanhão
Investindo em rapariga.”
Com Jessier eu concordo
Seu argumento é claro;
Muitos exemplos recordo
Já que não é caso raro;
Aqui mesmo na cidade
Cabra de capacidade
Ao invés de tá descansando,
Deixa em casa a “mulé”
Na estrada empurra o pé
Com rapariga “farrando”.
É forró, é bebedeira
E outras coisitas mais;
Ela toda bandoleira
E ele afoito demais;
Às vezes desprevenido
Esquece do comprimido
Azul e da camisinha,
Mas mesmo assim vai em frente
E por se achar potente,
“Tome peia danadinha!”
Quando volta é cansado
Com um, dois dias ou mais;
O bolso esvaziado
Com apenas alguns reais;
Dá fé a quenga ligando
Com voz mansa perguntando
Quando vão sair de novo;
E ele a desconversar
Da mulher a disfarçar
Com a cara de papa ovo.
“Não sei dizer se deu certo
Aquele negócio não;
Tinha muita gente perto
Tá ruim a ligação...”
Só escuta, pouco fala
Da cozinha para a sala
Da sala para o terreiro;
Deixa tudo combinado
Hora e local marcado,
Bem traçadinho o roteiro.
No começo a rapariga
Não faz nem muita questão:
“Quando tu puder me liga!”
E encerra a ligação;
Depois de um tempo passado
É igual chicle grudado
Na roupa do infeliz;
Saiba que essa é a sina
Do cabra que desatina
A viver com meretriz.
Aí começa a seguir
O cabra pr’onde ele vai;
Nadinha vai influir
Se de família ele é pai;
Ela quer é curtição,
Encena a demonstração
Que está apaixonada;
E ele todo lesado
Quatro pneus arriado
Pela sua puta amada.
Em seguida vai pedindo
Um e dois e mais presente;
E ele se iludindo
Feito um adolescente:
Um perfume, roupa nova,
Seu guarda roupa renova,
Joia de ouro e sapato;
Não questiona o apelo
No salão, unha e cabelo;
E ele pagando o pato.
Quando avista o abestado,
Com a família a passear,
Fica com um acenado
Para a atenção chamar;
E a sua esposa coitada
Que já tá desconfiada
Dispara com uma arenga;
Dizendo: “eu vou embora
Para não quebrar agora
A cara daquela quenga!”
E ele todo pomposo
Estufa aquele peitão;
Se sentindo o mais gostoso,
Elegante e bonitão;
Joga a biscate no carro
Lá dentro já tira um sarro
E arranca em disparada;
Passa a noite rodando
Bem longe e só vai parando
Num motelzinho da estrada.
Esse rojão vários meses
Enfraquece o idiota;
Se transava várias vezes
Agora só fecha a cota:
A ereção fica feia,
O dinheiro escasseia,
A quenga já lhe esqueceu;
Vai atrás de outro bundão
E ele pagando pensão
De um bruguelo que nasceu.
Em casa já não tem paz
A mulher não o respeita;
Tudo o quanto ele faz
É motivo de suspeita;
O filho lhe ignora,
Arrependido ele chora
Tal menino desmamado;
A todo instante uma briga
Por causa de rapariga
Ele acabou lascado.
Benildo Nery
Um poeta de Montanhas