A FILHA DE DONA EDITH

A filha de Dona Edith

Quase não pisa no chão;

Quando passa lá na rua

Estica o pescoção

Com o bumbum empinado

Não olha pra nenhum lado;

A ninguém dá atenção.

Tá certo que ela é faceira

E é lindo o seu andar;

Está com certeza entre

As mais belas do lugar;

Também muito inteligente

Mas não é isso somente

Que vai mais interessar.

Muito menos interessa

Se ela é bem de vida;

Se tem casa boa, carro;

De empregados é servida;

Se é uma fina burguesa;

Anda esbanjado riqueza;

Tem fortuna construída.

Não interessa se ela

Só anda bem arrumada;

Com penteado estiloso

Joias e bem maquiada;

Sapato alto pisando;

Ou se quando vai passando

Deixa a rua perfumada.

Não interessa se ela

Fala um inglês fluente;

Ou francês, ou espanhol

Além da língua da gente

Com muita facilidade;

Ou se ela na cidade

É pessoa influente.

Se só frequenta os melhores

Clubes, restaurantes, bares;

Se só anda acompanhada

Com outros ricos, seus pares;

Conhece o Brasil inteiro;

Tira férias no estrangeiro;

Se veleja pelos mares.

Pouco interessa também

Se ela é toda orgulhosa;

Conhece aqui todo mundo

Mas passa e nem tira prosa;

Se tranca em sua “armadura”

E mantém sua postura

De “dondoquinha” “imperosa”.

O que interessa é que ela

É gente igual a gente;

Que é feita de carne osso;

Que tem cara, boca e dente;

Que pensa, sofre e chora;

Que em uma ou outra hora;

Também se sente doente.

Interessa que o pensar

Que ela tem, nós também temos;

Se enxerga com os olhos

Do mesmo jeito nós vemos;

Se tem mãos para pegar;

Tem pernas pra andar

Do jeito que nós corremos.

Interessa que ela sente

Sede e se alimenta;

Se apaixona, se entrega

Às vezes é ciumenta;

Nasceu como nós nascemos

E vai pra onde iremos

Talvez lá pelos setenta.

Então se é de carne e osso

Para viver se alimenta,

Com água ela mata a sede

Morrerá lá pros setenta...

Então eu faço uma aposta

Que ao cagar a sua bosta

Também é bem fedorenta.

Benildo Nery

Um poeta de Montanhas