CORDEL CEM PÉ, SEM CABEÇA

Cabeça por vezes é

Tão bem homenageada

Meu cordel tentou fazer

A cabra ser consertada

A última que me chega

Diz: - Ela já foi castrada.

Jumenta desembestada

Que nunca quis atender

Foi preciso capataz

Com um chicote bater

No fiofó desse bicho

Começou logo correr.

O mundo quis entender

Queria botar um nome

Eram os mais esquisitos

Como doido - Passa Fome

Segurança maltrapilho

Mandou chamar - Lubizome.

Pestinha é sobrenome

Reclamando à irmã

Que respeitasse local

E provasse da maçã

Porque somente gostava

Desta tal fruta romã.

É madura, é anã

Sido plantada no mundo

E quem provou dela foi

Sujeito mal, bem imundo

Expulso do purgatório

Que teve ódio profundo.

Todos daquele bom mundo

Nasceram alto falando

Putarias mais escrotas

Foram se comunicando

Os nomes não surgiam

Pois até iam tentando.

Satanás já esquentando

Numa grande luz estranha

Dando sua sugestão

Para tudo ser castanha

A mãe falando ligeiro:

Ela pode ser piranha!

Nesta maligna façanha

Pois, quase perto da cria

Uma parteira maldita

Com olhar de freguesia

Apontava com seu jeito

Foi falando putaria.

Inferno da carestia

Viu parto de pertinho

Mas o cujo não saía

Nesta sala só anjinho

Hipnotizou todo mundo

E saiu do buraquinho.

A barriga do santinho

Com veias aparecendo

Foi coisa pra lá de feia

O filho que vai nascendo

Mas alegrava Demônio

Com isso ficou fervendo.

Logo depois aquecendo

Foram parar num inferno

Que teve como padrinho

Um indivíduo de terno

Que peidava no verão

Chorava no bom inverno.

Este sujeito de terno

Quis agradar a mulher

Se viu sendo levado

Gritando também: Olé

Na fedentina sem fim

Arrastando-lhe cem pé.

Bebendo só o café

Pensou ninguém escapar

Pagaria só pecados

E pra terra quis voltar

Com aquele dito cabra

De novo só quis casar.

E quem é que vai jantar?

Entre capetas e cão

Naquele casal de novo

Ter ódio no coração

O fruto daquele tonto

Vem de longa geração.

Pois, falta compreensão

Pro meu lado de ficar

Eu sozinho no reduto

Contigo poetizar

Criando tão belos versos

Pra mais tarde declamar.

Toda solidão virá

Com essa boa saudade

Eu gravo dentro do peito

Vontade de liberdade

Mas, esta também não vem

Pra matar minha vontade.

Coração sem liberdade

Conversando só contigo

Nestas frases dessa peste

Num confortável abrigo

Confetes sendo jogados

Resolvendo tal perigo.

O poder é inimigo

Só comendo bom alpiste

No plenário deste tempo

Diabo Louco desiste

Linguagem universal

Na luta legal insiste.

Enfermeira vive triste

Enfrenta vil pandemia

O nosso tempo de luta

Acaba pra qualquer dia

Vivendo matando gente

Dissolvendo fantasia.

Bandidagem contagia

Se converte protestante

Pregando com maestria

Fazendo papel amante

No púlpito bem sagrado

Ela se torna pedante.

Inferno mais delirante

Com a sua competência

Corrigindo nosso texto

Porque tem inteligência

Nós vamos ficar em casa

Mãos dadas com a ciência.

Diabo total falência

Um sal amargo de fel

O poema vem fazer

Instante virar um mel

Nas asas deste destino

Viajamos pelo céu.

Assim o nosso cordel

Livra sim, isolamento

Quando ficamos em casa

É bom distanciamento

Pois deixe Coronavírus

Sozinho sem sentimento.

Precisa de sofrimento

Com esse meu trocadilho

Jogando com a palavra

Práxis encontra seu brilho

Mesclado de gentileza

Nascendo tal qual um filho.

Vida não é empecilho

Viva, deixe pra viver

Não saia de sua casa

Tente só compreender

Ame sim, humanidade

Faça bem acontecer.

Meu costume é fazer

Todo mundo cordelista

Isto é fato bendito

Satanás se ver artista

Fazendo declamação

Dançando boa passista.

Decência é ativista

No tempo de pandemia

Viajando no sertão

Na saúde, garantia

Sorrindo cedo no campo

Casou-se pobre Maria.

Estamos em nostalgia

Pelo motivo poético

Espaços ditos de rima

Assim tal e qual um cético

Desacredita da cura

Está ficando patético.

Nosso corpo é atlético

Viés alimentação

Andando com a receita

Da nobre recordação

Nas palavras de conforto

Que saem do coração.

Militar sem ter ação

Porque só vive fardado

Com a roupa do quartel

Coração bem cuidado

Amizade é tão pouca

Povo jamais encontrado.

Capeta desesperado

Ele chamou seu sobrinho

Cordel Cem Pé, Sem Cabeça

Com aquele versozinho

A toada se partia

Naquele bom lugarzinho.

Nosso povo sem carinho

E pensando se vingar

Batendo tanto na vila

Dali mesmo se mandar

Suportava boa vida

Por tudo que fez passar.

BENTO JUNIOR
Enviado por BENTO JUNIOR em 02/04/2021
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