" UM CORDEL INTERESSANTE- 02".

Já vi muita coisa estranha,

Na vida aqui nessa terra,

Vi galinhas que não ciscam,

Burro que não sobe serra,

Aleijados sem muletas,

Macacos fazer careta,

Menino que come terra.

Já vi peixe ser fisgado,

Sem ter iscas no anzol,

E vi meninos levados,

Usar linha com cerol,

Já corri de brincadeiras,

Encontrei em bananeira,

Um ninho de Rouxinol.

Já fiz muita traquinagem,

No meu tempo de menino,

Também já tomei garapa,

No engenho de Severino,

Joguei com bola de meia,

Também já rolei na areia,

Com João e Marcelino.

Eu já vi bugio cantando,

No alto de uma figueira,

Também em dia de chuva,

De cipó levei rasteira,

Já vi boi lambendo sal,

E cego tocar berimbau,

Sentado em porta de feira.

Eu já fui guia de cego,

Quando eu era criança,

E também morei na roça,

Cercado por abastanças,

Já andei de voadeira,

No enorme rio Madeira,

Já fiz passeio de lancha.

Já naveguei em recreios,

Numa grande hidrovia,

Também já dormi em redes,

Em viagem por três dias,

Já fiz viagem no mar,

Sem o estomago embrulhar,

Ao olhar pra maresia.

Já viajei quinze horas,

No lombo de um animal,

Nessas matas de Rondônia,

Já morei em seringal,

Fiquei três dias perdido,

Em local desconhecido,

Dormindo em oco de pau.

Trabalhei de orelha seca,

Comi peixe com farinha,

Já brinquei de carrapeta,

Com os filhos da vizinha,

Já vi pé furado em prego,

Vi galo ficando cego,

Quando brigava na rinha.

Fui mordido de morcego,

Bem na ponta do nariz,

Vi jogador de peladas,

Quebrar boca de juiz,

Bebi água com caneca,

Já cai de uma bicicleta,

Quando eu era aprendiz.

Já corri quase uma légua,

Nos dias de juventude,

Também já pesquei traíra,

Em represas de açudes,

Fui bom pra jogar peão,

Já comi bolo de pão,

Joguei bolinhas de gude.

Já pulei de amarelinha,

Feita de giz na calçada,

Até já pesquei sardinha,

Com tralha improvisada,

Já comi gongo de coco,

Também já passei sufoco,

Com minha moto quebrada.

Nessa estrada da vida,

Já vivi mais de sessenta,

Esforcei-me e aprendi,

Fazer frango com polenta,

Um peixe pra ser gostoso,

Vai ficar mais saboroso,

Tendo limão e pimenta.

Vi filhotes de macacos,

Passarem o dia agarrados,

Nas costas da mãe macaca,

Nenhum ficar preocupado,

Já vi índios nas malocas,

Fazer flechas de taboca,

Nas esperas entocados.

Vi índios tecendo cestos,

Com palha de tucumã,

Pescando de arco e flecha,

Acetando em Matrinchã,

Nas festas de São João,

Vi gente tomar quentão,

Com sabor de hortelã.

Inventei de pular cordas,

Mas foi uma negação,

Levei lapada nas pernas,

Cai de cara no chão,

Já cacei de baladeira,

Assei milho em fogueira,

E quase queimei a mão.

Eu já vi junta de bois,

Pronta pra puxar carroça,

Também já dormi em racho,

Conhecido por palhoça,

Já fiquei de rosto inchado,

Por ser demais ferroado,

Por marimbondos na roça.

Já comi sopa de inhame,

Em casa em dia de chuva,

Até já fiz uma pesquisa,

Sobre as formigas saúvas,

Já trabalhei com enxada,

Fique de mãos calejadas,

Só porque não usei luvas.

Eu já vi quatimirim,

No topo de castanheira,

Descer apegado ao fruto,

Desprendido da madeira,

Mas antes de tocar o chão,

Solta e se agarra então,

No caule de outra madeira.

No derriçar dos cafés,

Eu já fiz a minhas proezas,

Fiquei de mãos doloridas,

Só pra não deixar despesa,

Embora inchando as mãos,

Fiz a cara uma de durão,

Ali não tinha moleza.

Deixo aqui o meu recado,

Pra vocês caros leitores,

Ao findar mais um cordel,

Para os apreciadores,

Agora já estou saindo,

De vocês me despedindo,

Até ao próximo senhores.

Cosme B Araújo.

24/05/2021

CBPOESIAS
Enviado por CBPOESIAS em 24/05/2021
Reeditado em 24/05/2021
Código do texto: T7263004
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