Maristela - Sonhos

Lá nos sertões, tempo de seca,

As plantações morrendo e o sol esquentando,

Voavam para longe os pássaros,

Água não tinha para beber...

Vivia a minina Maristela

Sonhos dentro do coração, coloridos;

Ela não tinha lápis de cor mas pintar ela pintava na imaginação.

Maristela, Mãe e Avó moravam juntas,

Todos os dias mesma rotina,

Lida da casa, cuidar do pouco que tinham...

A vó trabalhava e prosiava,

Falava dos deveres das mulheres,

Mulher tem que ser dona de casa, prendada e obediente ao marido, nada de a voz erguer...

- Como assim essa minina só quer desenhar?"

Vida de Maristela, em nada era bela, estudar, ler, era para fios de dotô, trabalhar sempre, era esse seu viver;

"Essa minina não tem educação minha fia"

"Vive lenta, faz tudo errado, não vai casar, se casar marido não vai querer, vai inté devorver..."

- Maristela, Maristela nada de livros ler,

O dinheiro mal dá pra pagar seu Jaquim,

Vem vamos vender essas poucas roupas que cumadi Palmira trouxe pra mim ajudar.

Viver ali não era fácil, Maristela via verde onde não tinha, Voava com uma vassoura na mão a varrer o chão e o coração indo longe, tão longe...

Maristela sonhava muito, ouvia a vó dizer que moças tinham que ser bonitas pros rapazolas achar bonitas,

Maristela não queria casa, não queria marido, não queria a mesma vida da avó e da mãe, ela queria estudar, queria ler, queria ter professores...

Um dia cansada de ouvir comparações com as primas, todas bonitas, sabendo cuidar bem de casa e obedientes,

Maristela vestiu seu vestido de algodão,

Precata no pé, o sol forte a queimar-lhe o rosto,

Não despediu, Mãe e Avó estavam lá dentro di casa fazendo renda pro vestido da Romilda, Mãe e Avó diziam sempre: - Você deveria ser como a prima Romilda... tão boa minina, nem fala em casamento, trabalhadera dimais, vai logo se ajeitar.

Maristela, Maristela olhe pelas vielas, lá vem um caminhão, quanto tempo não passava um por essas bandas, com poucas coisas na sacola, subiu a minina na carroceria, o motorista era um sinhô respeitoso, mundo perigoso, Maristela sabia, mas ela com 20 anos completos queria voar, queria tentar...

O caminhão foi embora, Maristela também,

Viajou, trabalhou onde deu, fugiu de quem percisou,

Minina direita, ela quiria estudar, conheceu Manoela, Mulher viúva que acolheu-lhe e ajudô,

Maristela não esqueceu da mãe e da avó, mas foi estudar,

Estudou até ser professora, trabalhando sempre,

O mundo é mal dizia Manoela, você tem que se destacar...

Todos oiavam a moça, diziam não aos seus apelos de serviço, épocas de crises, ela não era sofisticada, simples desde sempre, trabalhava sem ser na sua área,

Tinha diploma e currículo, mas o preconceito era fatal,

Falava errado a Maristela, seus olhos não eram bonitos,

Pros outros ela não serviria pra sala de aula, a moça tentou, lutou, mas sentiu na pele o sabor salgado do peso das aparências.

Maristela voltou quando deu pra casa, despediu da Manoela numa manhã, voltou pro sertão com tristeza, o mundo não a podia entender...

Continuava trabalhando, mais madura a Maristela,

Mas Avó e Mãe não a conheciam,

Sempre tinham algo para machucar seu coração de Flor...

Maristela não encontrou o amor, muitas vezes durmia chorando porque seus sonhos ainda não eram dela,

Dava aula pra uma ou outra criança quando os pais pidiam, ela ajudava sempre que possível...

Maristela, Maristela, olha o Amor

: - Não mais me serve essas histórias, não quero saber de contos de fadas, casamento não ajuda!

Os rapazes muito belos brincaram com os sentimentos de Maristela, dois namorados teve, pura ilusão, não teve casamento, só decepção, coração despedaçou...

Amadurecer e entender, Maristela anda com a Fé, pessoas não entendem das profundidades do coração,

Oiam por fora e vivem a julgar...

Mas Maristela vive ainda e segue seu distino, não nasceu pros memo caminho que a famia quis ditar,

Não por sua curpa, sua história tem muitas linhas, teceu-as com sensibilidade, fez tudo certo e não se perdeu de si mesma... O sofrimento e a sequidão do sertão não apagô sua poesia, ela é sozinha, mas tem livros, aprendeu a escrever, hoje tem os lápis certos e as tintas para pintar a tela da sua vida, Maristela é poesia, cercada pelas flores e espinhos do sertão não murchô...

Vem Maristela...

Maristela, Maristela,

Sua sala de aula é diferente mas você pode dar suas aulas, você é professora, o mundo não pode dizer que você não conseguiu, lenta não és, tem seu tempo e nele fez seu mior, todos temos identidade, temos nossa própria linha em branco para escrevinhar, não se pode silenciar a voz dos nossos sonhos, não se perca para imitar vida alheia, voe com suas próprias asas, vai cortar o céu doce Maristela...

Cada um tem seu amor, não é necessário Maristela do sertão ser bela como as moças das passarelas deste mundão afora para ser filiz, não precisa mais promessas de amor, os homens não estão preparados para uma Flor da liberdade, cujo coração tem poesia e muita intensidade dimais para que pessoas vazias saibam ler,

Maristela tua aparente solidão é mior que flores mortas pintadas de amor e acolhida, são ilusão, basta um pouco para que elas sejam o que verdadeiramente são...

Maristela, Maristela tu és Bela...

É mundo que na cegueira não consegue te enxergar,

No sertão e nas cidades, nas multidões ou no seu quarto, não estás sozinha e tens Fé...

Mãe e Avó não podem ler tua alma poesia, mas você se descobre a cada dia, trilhando sua própria história;

Rita Flor
Enviado por Rita Flor em 27/05/2021
Código do texto: T7265273
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