As beleza da róça

Dou um corrupi no corpo...

Inchergo a roça de frente

Nas costas está a capitá

Nun tô inchergano gente;

Só vejo as beleza naturá

Qui Deus fêz pra mim oiá

Tudo aqui no ambiente.

O tropé do meu cavalo

Rinchando dano bom dia

O sabiá lá na gaia

Cantano de alegria

Aqui gaiola não há

Os passarin voa no ar

Cantano suas melodia.

Cada quá cum seu trabaio

Qui Deus colocou no lugá

Os sapin vévi no brejo

Fazeno o seu coaxá,

Os pitin atrás da galinha

Seguino a sua mãezinha

Não parano de piá.

João de Barro no riacho

Trás no biquin a lama

Vai construino seu nin

Devagá e num recrama,

De quantas viage vai dá,

No seu pra lá e pra cá

Constrói o nin pra sua dama.

Na matinha as maritaca

Faiz suas algazarra

Qui de cá fico suntano

Como é lindo suas garra;

Se juntano cum otros mais

Chega mais animais

Pra ajudá fazer a farra.

E de cá da minha tapera

Outra vez fico a oiá

Na sombra da siriguela

O galo a se coçá,

E na areia quente

Eu vejo na minha frente

Os garnizé se espojá.

O sór já vai pro poente

As galinhas pro pulêro

Agora reina silêncio

Nas gaias do cajuêro;

Já escurece na roça

E eu aqui na minha paioça

Boto gáis no candeeiro.

Mais tarde atrás da serra

A lua vem cum seu clarão

Tão arva qui inté parece

Cum a fror do argodão,

Eu na minha jinela

Perco ora oiano préla

A rainha do sertão..

Pôco a pôco vai subino

Pra clariá cá imbaxo

Qui refleti sua beleza

Nas águas lá do riacho

Dá inté pra gente oiá

As taboa a balançá

Sortando semente dos caxo.

Já é tarde o sono vem

No rancho silencioso.

Ao som do piá da curuja

Eu pego o sono gostoso;

Enquanto lá fora no clarão

Curiango faz serão

Cum seu cantá majestoso.

Amanhece lá na roça

O galo cumeça a cantá

A lua despede da noite

Mais um dia vai chegá;

Bem longe no horizonte

Vem o sol atrás do monte!

Já cumeça a clareá.

sabiadamata
Enviado por sabiadamata em 09/11/2007
Reeditado em 09/11/2007
Código do texto: T729944