UMA VOLTA NO TEMPO

VOLTAR NO TEMPO É PRECISO

POIS RECORDAR É VIVER

VOU RELATAR ALGUNS FATOS

QUE EU TENHO PARA DIZER

SOBRE A MINHA TENRA IDADE

SE TIVESSE OPORTUNIDADE

EU VOLTAVA COM PRAZER

LA IA EU MEU IRMÃO

MEU PAI, A MÃE E A AVÓ

MUNIDOS DE FERRAMENTAS

CORTANDO MATO E CIPÓ

PRA FAZER A PLANTAÇÃO

DE MILHO ARROS E FEIJÃO

BATATA AIPIM E E JILÓ

O MEU VELHO, IA NA FRENTE

HOMEM FORTE VIGOROSO

ELE NOS ENCORAJAVA

COM SEU ESTILO BONDOSO

EU ERA APENAS UM MENINO

E ERA UM TANTO FRANZINO

E O TRABALHO ERA CUSTOSO

DERRUBÁVAMOS A MATA

E ESPERÁVAMOS ELA SECAR

MEU PAI FAZIA O ACEIRO

PARA A COIVARA QUEIMAR

NÃO HAVIA RECLAMAÇÃO

COM FUMAÇA OU POLUIÇÃO

NEM CELULAR PRA FILMAR

AS NOVE VINHA O CAFÉ

MEU APETITE ERA VORAZ

EU TINHA SÓ ONZE ANOS

MAS ERA FORTE E AUDAZ

COMIA FEITO UM LEÃO

BANANA FRITA COM PÃO

AQUILO ERA BOM DEMAIS

SENTADOS ALI NO CHÃO

A FAMÍLIA DESCANSAVA

E DEPOIS DE SACIADOS

AO TRABALHO RETORNAVA

O MEU PAI PASSAVA O EITO

E NÓS COM TODO RESPEITO

O SEU LADO TRABALHAVA

AMOLAVA AS FERRAMENTAS

O PAI FUMAVA O PALHEIRO

FEITO DE FUMO DE CORDA

QUE ACENDIA COM ISQUEIRO

E ENQUANTO ELE FUMAVA

A FOICE VELHA RONCAVA

CORTANDO MATO RASTEIRO

A TARDE A GENTE VOLTAVA

BUSCAVA A VACA NO PASTO

PARA A MÃE TIRAR O LEITE

QUE SERVIA PARA O GASTO

DE LONGE OUVIA O CINCERRO

EU IA ATRAS DO BEZERRO

LOGO AVISTAVA SEU RASTRO

A NOITE A JANTA MODESTA

PEIXE FRITO COM PIRÃO

CANSADO ÍAMOS PRA CAMA

NAQUELE VELHO COLCHÃO

EM ESTADO MALTRAPILHO

FEITO COM PALHA DE MILHO

COM A MANTA DE ALGODÃO

MEU PAI LIGAVA O RADINHO

QUE ANIMAVA O FIM DO DIA

OUVINDO TONICO E TINOCO

A FAMÍLIA ADORMECIA

E AS PULGAS ALI DO CHÃO

PASSAVAM PARA O COLCHÃO

MAS A GENTE NEM SENTIA

CEDINHO O GALO CANTAVA

NO AMANHECER DO DIA

A CRIAÇÃO ACORDAVA

NOSSO CACHORRO LATIA

ACUANDO NUM GAMBÁ

NUM VELHO PÉ DE ARAÇA

E COM MEDO NÃO DESCIA

A MÃE NO FOGÃO DE LENHA

SOPRAVA ALI UNS GRAVETOS

TINHA DE FAZER O CAFÉ

PRA SACIAR O QUINTETO

FAROFA DE OVO CASEIRO

E TAMBÉM LA NO BRASEIRO

TINHA LINGUIÇA NO ESPETO

AINDA ESTAVA ESCURO

A LAMPARINA ILUMINAVA

NÃO HAVIA ELETRICIDADE

AONDE A GENTE MORAVA

EU SEPARAVA A TERNEIRA

PRENDIA A VACA LEITEIRA

AONDE A MÃE ORDENHAVA

VOU FALAR DOS APETRECHOS

QUE POR NÓS ERAM USADOS

O BALAIO E O SAMBURÁ

ENXADA FOICE E MACHADO

MANGUAL PRA BATER FEIJÃO

TEAR PARA O ALGODÃO

JUNTA DE BOIS E ARADO

BATEDEIRA PRO ARROS

MÁQUINA DE PICAR RAÇÃO

PAIOL PRA GUARDAR FARINHA

PRA MOER MILHO O PILÃO

E DEPOIS DA TRABALHEIRA

O BANHO ERA NA BANHEIRA

OU ENTÃO NO RIBEIRÃO.

ISSO É SÓ UM RESUMO

QUE EU TRAGO BEM GUARDADO

MUITA COISA EU NÃO FALEI

PRA NÃO TE DEIXAR CANSADO

ENTÃO ME PEGO A PENSAR

SE EU PUDESSE OPTAR

EU VOLTARIA AO PASSADO

FIM

Pedrão Cordelista
Enviado por Pedrão Cordelista em 13/08/2021
Reeditado em 05/09/2021
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