Meu legado é sagrado está registrado no meu trançado

Gente vou te contar.

Quantas coisas eu passei.

Foi muitas lutas e muito sangue.

Que eu nem sei com restei.

As discriminações vão bem além da minha cor.

Elas vêm bem antes do meu tataravô

Negro de senzala quilombola.

Chame do que você quiser.

Eu apanhava nos troncos dos terreiros.

Mas, cada gota de sangue derramado.

Não foi em vão não senhor.

Quebrei as correntes, tirei as mordaças para um dia ser doutor.

Meninos estou aqui por vocês.

Resistir a muitos sofrimentos.

Nos navios negreiros vendidos como escravos.

Foi um palco de sofrimento.

Não desperdice sua juventude.

Atrás de falsas promessas.

No meu tempo não tinha tráfico de drogas, era de gente sim senhor

Os atos eram desumanos.

Isso causava tanta dor.

Às vezes o suor se misturava as minhas lágrimas.

Mas, eu nunca desistir.

Preste atenção meu jovem seu lugar não é aqui!

Olha a sua volta.

Eu sei que não é fácil.

O índice de violência acomete mais o negro.

Isso é fato registado.

Preste atenção meu jovem.

Isso é a escravidão velada.

Ato infracional, criminalidade.

Dê o apelido que você quiser.

Eu só sei de uma coisa.

Você pode ser o que você quiser.

No meu tempo não tive escolha.

Era o tronco, senzala, chicote e o capataz.

A perversidade era tamanha.

Às vezes desejei até a morte.

Mas, antes de mim vieram outros mais.

Que mesmo apanhando no tronco.

Não desistiram jamais.

A sua família é legado sagrado.

É lá que vocês merecem ficar.

Reflitam meninos vocês podem mudar.

Os nossos cabelos são heranças.

Não me envergonho jamais.

Eles me ajudaram a chegar até aqui.

Fiz as rotas de fugas enganei até o capataz.

Cabelo duro De pixaim! Esse meu trançado tem valor.

Quando eu era acorrentado e amordaçado.

Estava no cabelo a resposta da minha dor.

Eu sonhava com a minha liberdade.

Queria ficar igual a um passarinho.

Que voa na floresta sem destino.

Mas, um dia ele faz seu ninho.

O meu não era a senzala, o tronco ou a casa grande.

Eu queria escolher.

Menino olha pra mim!

Mudei meu destino por vocês.

O sangue derramado nas senzalas e nós navios negreiros.

Tudo isso eu sobrevivi.

Vocês são heranças de seus antepassados.

Não desistam no caminho.

Mude sua realidade e retorne ao seu ninho.

As correntes ainda existem.

Em nosso meu social.

Elas rasgam a carne e pisa na alma.

Muitas vezes nas minhas feridas eram colocados até o sal.

Isso me causava muita dor.

Quantas vezes fui chamada de negrinha.

Eu sou negra sim senhor!

A negrinha é pejorativo.

Só aceito se for chamado de meu amor.

O meu trançado deu a liberdade.

A muitos irmãos de cor.

As rotas das fugas estavam registradas nos trançados sim senhor.

Eu poderia até não saber ler e escrever.

Mas as habilidades de registro dos caminhos que me aprisionavam

Esses jamais eu esqueci.

Estava registrado na minha cabeça.

As orientações estavam organizadas para quem queriam fugir.

E assim eu sobrevivi a tantos horrores.

Agora você chega aqui dizendo que não tenho valor.

As mídias registram atos de indignação.

Contar o povo negro, isso nos causa muita dor.

Infelizmente encontramos negros que deveriam contar e regatar a nossa trajetória.

Pois ele querendo ou não, ele faz parte também da nossa história.

Não podemos permitir situações conflituosas do nosso movimento.

Vamos semear a paz para evitar sofrimentos.

O amor deve ser multiplicado.

União, paz e amor já deixei o meu recado.

Elisete Soares Moreira
Enviado por Elisete Soares Moreira em 01/11/2021
Reeditado em 26/09/2023
Código do texto: T7376028
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