A BELA E A FERA

Era uma vez um príncipe

Jovem, muito vaidoso,

Que apesar de ser bonito

Era muito presunçoso

Nunca praticava o bem

Não ajudava a ninguém

Era mesmo impiedoso.

Esse príncipe vaidoso

Durante uma tempestade

Viu bater em sua porta

Uma senhora de idade

Exposta á chuva e ao vento

Lhe suplicando aposento

Pedindo por caridade.

Mas o jovem por maldade

Vendo a velhinha sofrer

Negou-lhe apoio e guarida

Sentindo imenso prazer

Pois sua maior alegria

Era ver a agonia

De plebeu a padecer.

Quem maltrata por prazer

Comete grande besteira

Quem semeia tempestade

Não espere pasmaceira

Pois só colhe tempestade;

A velhinha, na verdade,

Era uma feiticeira.

Vendo do jovem a asneira

Por prazer e gozação

A feiticeira zangou-se,

Lançou-lhe uma maldição

Que a partir daquele dia

Em fera transformaria

O príncipe sem coração.

Pra acabar a maldição,

Quebranto ou seja o que for

Era preciso uma jovem

Abandonar seu pavor

Da fera descomunal

E, de forma natural,

Lhe desse um beijo de amor

Assim o príncipe ficou

No seu castelo isolado

Oculto entre calabouços

Infeliz, envergonhado,

Sem prazer, sem alegria,

Sofrendo sem regalia

E em fera transformado.

Bem próximo do seu reinado

Havia um comerciante

Pai de uma linda moça

Educada e elegante

Bonita por natureza,

Sua esplêndida beleza

Valia mais que um brilhante.

Seu pai, o comerciante

Amava a filha donzela

Como bom pai que ele era

Fazia tudo por ela

Sua beleza fazia

Jus ao nome que trazia

Porque se chamava Bela.

O pai da jovem donzela

Precisava viajar

Perguntou a sua filha

Se ela queria ganhar

Dele um bonito presente

Que ele, alegremente,

Fazia questão de comprar.

Ela para agradar

Ao pai que lhe tinha amor

Respondeu-lhe com carinho:

«Meu presente é o senhor

Que eu espero voltar,

Mas, se acaso encontrar,

Traga pra mim uma flor!

O pai então viajou

Sempre a negociar

Mas quando estava voltando

Algo o impede de chegar,

Um tremendo temporal,

Uma chuva torrencial

Alaga tudo por lá.

Impedido de andar,

Faminto e no desabrigo

Estava quase congelando

Parecia até castigo

Uma castelo ele avistou

Para lá se deslocou

Afim de encontrar abrigo.

Sempre pensando consigo

Na filhinha e no presente

Encontrou uma porta aberta

Entrou naquele ambiente

No escuro nada avistava

E cansado como estava

Adormeceu de repente.

O tenebroso ambiente

Que ele entrou sem pressentir

O perigo que corria

E até conseguiu dormir

Era a toca verdadeira

Da fera da feiticeira

E ninguém entrava ali.

Logo cedinho ao sair

Viu aberta uma janela

E embaixo dela um jardim

Flor branca, azul, amarela

Ele lembrou do presente

E foi colher, inocente,

Algumas flores pra Bela.

Porém naquela janela,

De repente viu surgir

A tal fera furiosa

Que não o deixou fugir

Violento o segurou

E logo lhe perguntou

O que ele fazia ali.

Comerciante a sorrir

Do outro se desvencilha

Disse que ia passando,

Viu aquela maravilha

Flores tão maravilhosa

E quis colher umas rosas

Para Bela, sua filha.

«Porém essa maravilha

- Disse a fera no embalo -

É minha propriedade

Não é pra qualquer vassalo

Elas são o meu alento

Por isso. neste momento,

Eu terei que assassiná-lo.»

«Mas eu não sou seu vassalo,

Eu sou um comerciante

Moro pelas redondezas

Aqui sou só um passante,

Sei que não tenho razão

Por isso peço perdão

Por ser tão ignorante.»

Disse a fera nesse instante:

«Perdão tá indeferido

Terei mesmo que matá-lo

Isso é fato decidido,

Trate logo de rezar

E antes de lhe matar

Ainda concedo um pedido.»

Comerciante comovido

Resolve então lhe pedir

Pra que ele concedesse

Da filha se despedir

A fera lhe disse: «Pois

Se não voltar mato os dois!»

Então deixou-o partir.

Comerciante ao sair

Chegou em casa chorando

Contou para sua filha

O que estava se passando

A grande fera encontrou

E à morte o sentenciou

Quando ele estava voltando.

Bela foi lhe perguntando

Como era esse animal

Comerciante respondeu,

«É um bicho descomunal

Que era mau quando foi gente

E agora, diferente,

Ficou fora do normal.

A minha vida afinal

Ao fim já está chegando...»

Ela disse: «Eu vou contigo»

E saíram conversando

O pai com a filha abraçado

Chorando descompassado

No castelo foram entrando.

Quando eles foram chegando

A fera os viu chegar

Desceu com todo furou

Para com o homem acabar

A moça se antecipou

E lhe pediu por favor

Para a ela escutar.

«Para o senhor não matar

Meu pai, eu vim lhe pedir

Deixe que ele se vá,

Eu fico morando aqui

E lhe faço companhia.»

A fera com alegria

Mandou o homem sair.

A moça ao se despedir

Chorava feito criança

Por ver seu amado pai

Livre daquela matança

Ela ficou no local

Vivendo com o bicho mau

Mas viva e com esperança.

Com muita perseverança

Ela soube se fazer

Juntos a Bela e a Fera

Começaram a se entender

E viveram, na verdade,

Uma grande amizade

Um com o outro a conviver.

Conviviam com prazer,

Com caráter, com pudor,

Ela nunca se zangava,

Ele sempre a respeitou

E com essa convivência

Ele, sem experiência,

Por ela se apaixonou.

Algum tempo mais durou

Esse relacionamento

A fera apaixonada

Achou que era o momento

De um assunto mais sério

E foi com esse critério

Que a pediu em casamento.

Ela achou atrevimento

E recusou o pedido

Mas continuou com ele

Que estava arrependido

Sofrendo esse dissabor,

Pois se existisse amor

Ela tinha concedido.

Bela lhe fez um pedido

Abatida e comovente

Queria visitar o pai

Que estava muito doente

A fera lhe concedeu

O pedido e ainda deu

Sete dias de presente.

Uma semana ausente

Da fera e quando voltou

Bela encontra o monstruoso

Sobre um canteiro de flor

Quase morto de saudade

Por ter dado liberdade

A ela, seu grande amor.

Bela então o levantou

E o ajuda a caminhar

Sentindo forte emoção

Sem querer acreditar

No que estava acontecendo,

Como por um ser horrendo

Ela foi se apaixonar?

Mas o fato estava lá,

Ela mesma comprovou

Na convivência com a fera

A sua vida mudou

Também o comportamento

Daquele ser violento

Com o tempo se transformou.

Para o castelo o levou,

Lentamente, com cuidado,

Deitou-o, deu-lhe um beijo

E o encanto foi quebrado,

O beijo o desencantou

E a fera se transformou

Em príncipe desencantado.

O príncipe vil e malvado

Tinha acabado também

O homem agora pensava

Somente em fazer o bem

Aquele ser arrogante

Rancoroso, petulante,

Não atacou mais ninguém.

Agora sendo do bem

Pediu Bela novamente

Em casamento e ela

Aceitou alegremente

Casaram, foram felizes

Sob novas diretrizes

E em um novo ambiente.

Esse fato claramente

Mostra um exemplo de vida

Uma moça tão bonita

Com a convivência vivida

Mesmo sem ter liberdade

Se apaixona de verdade

Sem escolha definida.

Uma história parecida

Foi noutro cordel narrada

Como a Princesa e o Sapo

Que a deixou apaixonada

E quando ao sapo beijou

Em príncipe o transformou;

Era outro conto de fada.

Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 05/11/2021
Código do texto: T7379396
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