UM DIA DE FÚRIA

Hoje Tonico acordou

Com toda gota serena.

Bateu na sua mulher,

Na sua filha pequena

Na sua sogra Maria,

E encheu de pancadaria

O seu sogro, Zé de Nena.

Em seguida iniciou

Uma grande quebradeira.

Quebrou as pernas da mesa,

Rebolou a geladeira,

O armário também quebrou

E depois espatifou

Todas as compras da feira.

Quebrou os pratos, panelas;

Arrebentou o fogão;

Na sala quebrou o rack,

O som, a televisão,

Enfeites, porta-retrato,

Do mais caro ao mais barato,

Tudo quebrado no chão.

Deu um chutaço na porta

Que a deixou só os “pedaço”;

O que é vasinho de plantas

Atirou para o espaço;

A casa que era arrumada

A deixou desmantelada;

Foi grande o estardalhaço.

Saiu chutando as galinhas

Que ciscavam no terreiro;

Cortou os beiços de faca

Do pobre pai de chiqueiro;

O que é de cachorro, gato

Vitimou-se neste ato

Do infeliz desordeiro.

E saiu desagregado

Xingando a vizinhança:

Os homens, a mulherada,

Jovem, adulto e criança.

Mesmo quem bem o tratava,

Verbalmente os atacava

Como se fosse vingança.

Chamou Zezin de chifrudo,

Maricota de chifreira,

A filha deles de quenga

Destas que tem bem rameira.

Valadão, que mora ao lado,

Chamou de cabra safado

E batedor de carteira.

Ciço, chamou de babão

Do prefeito da cidade;

De piniqueira chamou

Sua filha, Piedade;

O seu filho de capacho,

Cabra que não honra os “cacho”,

Sujeito sem qualidade.

Na porta de Severino

Fez a maior pativura;

Que quem via aquela cena

Sentia grande amargura

E em respeito a quem ler

Me recuso a descrever

O que fez àquela altura.

Foi aí que o limite

Dom bom senso foi quebrado;

E todos da vizinhança,

Depois de tanto humilhado,

Se armaram de porrete

E baixaram o cacete

Naquele cabra safado.

Quem não tinha um porrete

Ia mesmo com a mão;

Deram tanta da porrada,

Tapa, murro, beliscão...

Que aquele filho da égua

Implorava uma trégua,

Mas ninguém ouvia não.

Eu como sendo da paz,

Avesso a violência,

Apesar de ver e ouvir

Tantos gestos de indecência

Pulei dentro do conflito

Entre voz alta e grito,

Implorei: tenham clemência!

Fui ouvido e a turma

Atendeu ao meu pedido;

Daí levantei Tonico

E entre choro e gemido,

Pode acreditar patrão,

Bateram tanto no cão

Que o deixaram moído.

O levei pra sua casa

E na porta da entrada,

Já dava pra ver a cena

Da casa espatifada.

Mulher e filha chorando;

Sogro e sogra lamentando;

Sem ninguém entender nada.

O que teria causado

Tanta fúria, tanta ira?

Teria alguém inventado

Alguma história, mentira?

Como um sujeito passivo

Passou a ser agressivo

Fazendo todos de mira?

Seria que aquela peste

Drogas teria usado,

Pra ter ficado assim

Em um louco transformado?

Ou será mesmo que ele

Pôs em prática o jeito dele

De cabra ruim e safado?

O deixei lá e voltei

Para minha moradia;

Toda rua se acalmou

Logo a paz reinaria,

Mas o mistério ficando

E ninguém acreditando

No que se viu neste dia.

Benildo Nery,

Um poeta de Montanhas,

Em 09/01/2022.