TERCEIRO CAPÍTULO

VIVA JACKSON DO PANDEIRO

Viva Jackson do Pandeiro

Neste belo centenário

Em agosto aniversário

Deste grande forrozeiro

Para o povo brasileiro

É assim que seu Estado

Deixa tudo isso marcado

Feito um coco macaíba

Desta terra Paraíba

No xote, baião e xaxado.

Alagoa Grande é a cidade

Que nosso Jackson nasceu

Com o pandeiro que foi seu

Cantou o sonho e a liberdade

Espalhou samba e felicidade

Porém, o povo paraibano

No passar de cada ano

É a música do pandeiro

Invadindo cada terreiro

Pra espantar o desengano.

NESTE DIA DOS NAMORADOS

MEU MAIOR PRESENTE É VOCÊ

Minha mulher de tanta história

Pedaços de trilhas e caminhadas

Vidas tantas compartilhadas

Vivas na minha memória

Construtoras de minha glória

De sonhos e de prazer

Juntos nós dois num só viver

Como seres apaixonados

Neste dia dos namorados

Meu maior presente é você.

Que ainda possamos passar

Muitos dias entrelaçados

De atos destemperados

Vivendo na incerteza do falar

Entre os vícios do gostar

Eu, filhas, o mundo e você

Um quinteto de sangue ferver

Somos presente, futuro e passados

Neste dia dos namorados

Meu maior presente é você.

NA PENEIRA DA FARINHA DE MANDIOCA

PLANTEI BANANEIRA DA MINHA INFÂNCIA

Oh, que saudade louca

Rompe a memória da espera

Não tenho idade para ser fera

Nem tampouco beijar outra boca

Meu sentimento é coisa pouca

Como a luz acesa da ignorância

A poesia é a minha substância

Venha correndo e saia da toca

Na peneira da farinha de mandioca

Plantei bananeira da minha infância.

Me lembro de antigamente

Das casas que eu conhecia

Cada uma me pertencia

E eu ficava muito contente

Brincava de delinquente

Vida cheia de abundância

Saudade da minha elegância

Feito siri na sua loca

Na peneira de farinha de mandioca

Plantei bananeira da minha infância.

QUEM PASSA LÁ EM CAJÁ

TEM TAPIOCA DO IRMÃO

Oh, Deus tão cuidadoso

Com as coisas da divindade

No Senhor tem a verdade

De um ser bom e amoroso

E isto nos deixa esperançoso

Na voz intimista do coração

Que nos fala em oração

Firmino se foi pra não voltar

Quem passa em Cajá

Come tapioca do Irmão.

Hoje teve a ocorrência

Deste fato lamentável

Daquele senhor tão amável

Que tinha competência

Fazendo da tapioca uma ciência

E nós aqui em compaixão

Tentando entender a razão

Porque Firmino aqui não está

Quem passa em Cajá

Come tapioca do irmão.

QUANDO PENSO NA TRISTEZA DO EXISTIR

EU VIVO CADA VEZ MAIS DA CONSCIÊNCIA

Quando nasci um galo cantou

Anunciando quem vinha vindo

E eu no ventre ainda sorrindo

Dando risada de puro amor

Livrando a família daquela dor

Sabia que eu era fruto da ciência

E minha mãe com tamanha paciência

Num imenso prazer que veio sentir

Quando penso na tristeza do existir

Eu vivo cada vez mais da consciência.

Abri os olhos de tanta alegria

E minha mãe depois do parto

Não queria sair daquele quarto

Na família já era mania

Rezar um terço para Maria

E viver através da efervescência

Esperar mais um na decência

Foi assim que veio o surgir

Daquele dia até aqui

Quando penso na tristeza do existir

Eu vivo cada vez mais da consciência.

NA SAUDADE DO TEMPO DE OUTRORA

MORA EM NÓS A SAUDADE DO HOJE VIVIDO

Eu não sei por quanto tempo ainda

Eu preciso respirar este aroma

Multiplicando toda a minha soma

Agarrado na matemática que não finda

E assim penso que a vida é linda

Por razões que tenho me permitido

E conclamo o nome do desconhecido

Em cada página que eu vejo agora

Na saudade do tempo de outrora

Mora em nós a saudade do hoje vivido.

Nos cinquenta anos do Castelo

São nomes que apontam uma história

Gravada no inconsciente da memória

Estampada no peito verde e amarelo

Transformada em ouro pra lá de belo

A AMCAB elogia e dá sentido

Num viver muito mais colorido

É pensamento de chegada a hora

Na saudade do tempo de outrora

Mora em nós a saudade do hoje vivido.

SOU TEU ETERNO SOLDADO

PARAÍBA MEU POMAR

Na vida de sonhos surgiu o poeta

Que foi movimento na tua loucura.

Amei, perdido, quis ser só brandura

Pulei os momentos, fugi de uma festa

Que estava tocando uma linda seresta

Nesta Paraíba que me faz, feliz cantar

E eu sorrindo sempre quero te amar

Trago alegria neste lindo Estado

Que me amou, sente comigo calado

Sou teu eterno soldado

Paraíba meu pomar.

Quando eu era pequenino

Minha avó sempre me dizia

Que fui batizado numa pia

E depois fui crescendo, menino

Fiz eu meu próprio destino

Na Paraíba eu sempre quis ficar

Pois aqui o verso vem me guiar

É este pedaço que me acolhe cansado,

Sou teu eterno soldado

Paraíba meu pomar.

CORDEL QUE É PORTUGUÊS

NO BRASIL VIROU NORDESTE

Meu pedaço de verso

Gravado na consciência

Na matéria da ciência

É cordel que foi impresso

Por favor Deus eu te peço

Sou um cabra da peste

E se erro não me deteste

E vou dizer mais uma vez

O cordel é português

Mas no Brasil virou Nordeste.

Tenho tanto pra contar

Mas não sei se agora devo

Porque eu não me atrevo

A este fato narrar

Não me deixe se gabar

Feito filme em faroeste

Com artista lá do oeste

Eu conto de um até três

O cordel é português

Mas no Brasil virou Nordeste.

Na Bahia o cordel chegou

E se espalhou pelo Brasil

Numa tarde de abril

Ele teve um grande leitor

Que leu o tema de amor

Tinha ódio e muita peste

Num cordel lá do Sudeste

O leitor leu mais de uma vez

O cordel é português

Mas no Brasil virou Nordeste.

O mote é a representação

Nesta história verdadeira

Personagem brasileira

Tem Maria e tem João

Esta arte é da Nação

Da Europa à Região Leste

Pouca gente pouco investe

É como dizia Santa Inez

O cordel é português

Mas no Brasil virou Nordeste.

O desabafo quando aperta

Solto um grito de alegria

Canto alto na folia

E deixo minha porta aberta

Não tem essa de alerta

Deixo entrar a lei do Mestre

Não tem ninguém que me conteste

Dois, mais dois, mais dois é igual a seis

O cordel é português

Mas no Brasil virou Nordeste.

A Saudade dói no peito

E não há nenhum remédio

A distância causa tédio

E me deixa sem efeito

Com dor aqui no peito

Enfrento a solidão e a peste

E ele que me deteste

Porque não me importo com vocês

O cordel é Português

Mas no Brasil virou Nordeste.

Meu pensar me atormenta

Só de falar fico cansado

A tristeza tem me achado

E a solidão toda se arrebenta

Quando a alma não enfrenta

A cor que era azul celeste

Mora lá no lado do leste

E eu sofrendo outra vez

O cordel é Português

Mas no Brasil virou Nordeste.

Vou fazer aquele verso

Que vai marcar o coração

Nele faço de emoção

Dentro de um papel impresso

Em troca nada te peço

Do litoral até o agreste

Nunca me fiz de cafajeste

Porque respeito às leis

O cordel é Português

Mas no Brasil virou Nordeste.

Diga agora que me entende

No meu pensar desajeitado

Sei que estou desacostumado

Porque por tudo você se vende

E ainda diz que pretende

Ir comigo pra o Sudeste

E sobre mim você investe

Talvez por eu ser camponês

O cordel é Português

Mas no Brasil virou Nordeste.

O verbo é inconstante

E deixa a gente tristonha

Porque quando a cabeça sonha

Morre o corpo num instante

E alma só quer um calmante

Feito cavalo no faroeste

Pisando gente no teste

Igual filme polonês

O cordel é Português

Mas no Brasil se fez Nordeste.

O cordel vem das antigas

No Brasil ou lá em Portugal

Chega aqui e bota sal

No tempero destas brigas

Que faz repente das intrigas

É inferno que mata qualquer peste

Como bem falou velha Celeste

Feito costume que vem de vez

Que se conta de um até três

O cordel é Português

Mas no Brasil se fez Nordeste.

Não queria tomar a iniciativa

De quem só anda na linha

Feito galo atrás de galinha

Que vive em cadeira cativa

Igual a uma alternativa

Corrompendo o povo de Budapeste

Que muito na educação investe

É por isso que canto outra vez

O cordel é Português

Mas no Brasil virou Nordeste.

SE SAUDADE É SOFRER

NÃO DEIXAVA SOLIDÃO

Se acaso eu me chamasse Virgulino

A famosa majestade do cangaço

Que dançava conforme o compasso

Eu mudaria por completo meu destino

Me transformava num bom menino

Aconselhava o cangaceiro Lampião

Com seu tão bondoso coração

Pra deixar Maria Bonita viver

Se a saudade é sofrer

Não deixava solidão.

Sinto falta daquele abraço

Que minha avó sempre me dava

Sinto o cheiro que emanava

Do seu rosto aquele traço

Que me guiava no seu compasso

Era carne de sol dentro do feijão

E eu tão pequeno de calção

Perambulando pela sala do viver

Se saudade é sofrer

Não deixava solidão.

Quando criança a gente sente

Que não há tempo pra mentir

Foi o melhor momento pra sorrir

Só quem perde é quem mente

E o coração mais adiante sente

Depois de grande entra em ação

Uma famigerada desilusão

Que estraçalha o nosso viver

Se saudade é sofrer

Não deixava solidão.

TODO CORDELISTA É UM POETA

NEM TODO POETA É CORDELISTA

Nos pergaminhos da memória

Entre a lenda e a verdade

Da virtude e sinceridade

Meu papo se enche de glória

No trafegar desta história

Em cada roda sou artista

Quando escrevo sou ativista

Ao chegar não faço dieta

Todo cordelista é um poeta

Nem todo poeta é cordelista.

Cada estrofe que se escreve

É rima por conseguinte

Na rua tem mais pedinte

Numa fala pra lá de breve

O que se pede nunca serve

A literatura fica sendo pacifista

E jamais se faz pessimista

Neste cordel sigo na linha reta

Todo cordelista é um poeta

Nem todo poeta é cordelista.

As sextilhas da minha vó

Se perderam pelo caminho

Por ela nutro muito carinho

Vendo-a como se fosse pó

Trago a sina e dou o nó

Nesta morena passista

Que vive na minha lista

Meu cordel é minha meta

Todo cordelista é um poeta

Nem todo poeta é cordelista.

Cada tema que eu leio

Eu logo vejo o seu valor

Mesmo me trazendo dor

Eu brinco como um recreio

E perambulo neste meio

Quem quiser me assista

Chegue ao final e não desista

Aponte o relógio nesta dieta

Todo cordelista é um poeta

Nem todo poeta é cordelista.

SAUDADE QUE DÁ NA GENTE

RASGA GENTE DE PAIXÃO

Por onde passa cada olhar

Neste caminhar profundo

Um caminhante vagabundo

Não consegue se firmar

Entre o erro de acertar

Já viveu só de ilusão

Massacrando o coração

Como cantiga de repente

Saudade que dá na gente

Rasga gente de paixão.

Já distante do meu mundo

Pude ver a cor do manto

Tão distante quase um santo

Vi ao longe um doer profundo

Me senti um moribundo

Pensamento na ocasião

Eu me despi pela emoção

Tomei todas, fui valente

Saudade que dá na gente

Rasga gente de paixão.

Me encontrando tão sozinho

Feito pássaro em gaiola

Uma ficha de radiola

Ou vaca pelo caminho

Me sinto só no caminho

Bato asas como o perdão

Que não perdoa nem o irmão

Eu vou ficar angustiadamente

Saudade que dá na gente

Rasga gente de paixão.

ENTRE O RISO E A MELANCOLIA

SOU EU E ELA NA INVERNADA

Só Deus sabe a dor que carrego

No meu peito trabalhador

Depois da labuta vem a dor

E ao eterno amor me entrego

A um chamado nunca nego

Mesmo com a dor vivenciada

Não largo a mulher amada

Vivo em constante dicotomia

Entre o riso e a melancolia

Sou eu e ela na invernada.

Só Deus sabe a dor que carrego

No meu corpo de criador

Na cena da vida sou ator

E às maldades eu renego

Sou madeira fácil de bater prego

Caindo cantares de uma passarada

Passando tangentes com uma boiada

Puxei à minha santa avó Maria

Entre o riso e a melancolia

Sou eu e ela na invernada.

Só Deus sabe a dor que carrego

Na minha visão de condutor

Nunca consegui ser cantor

Mas as palavras eu emprego

Não sou surdo e nem cego

Gosto de viver bem criado

Como meu pai tem ensinado

O som da harpa e a magia

Entre o riso e a melancolia

Sou eu e ela na invernada.

Só Deus sabe a dor que carrego

No meu semblante professor

Trocando o giz e o apagador

E eu só me sossego

Quando eu o amor pego

O inverno se foi com a cachorrada

Tentei ser da noite a calada

Vida noturna não tem garantia

Entre o riso e a melancolia

Sou eu e ela na invernada.

HOMEM SANTO MILAGREIRO

NESTA TERRA NORDESTINA

Vou começar versejar

Esta décima que prometo

Vou falar deste quarteto

Que já foi canonizar

Em Roma deve estar lá

Foi este o que se destina

Da casa que tem batina

Da força e fé do brasileiro

Homem santo milagreiro

Nesta terra nordestina.

De Bozanno ele veio

Em Pernambuco terminou

Fez brotar o grande amor

Vivido pelo suor do meio

Na chuva ou no esteio

Frei Damião é luz divina

Na religião tudo nos ensina

Assim fala o povo inteiro

Homem santo milagreiro

Nesta terra nordestina.

Padre Cícero no Ceará

Foi político e religioso

Tinha coração amoroso

A quem fosse ao altar

Com ele pudesse falar

Falando na Palestina

Porque tenho comigo a sina

Padre Cícero aventureiro

Homem santo milagreiro

Nesta terra nordestina.

Ibiapina pro paraibano

Merece ser canonizado

Seu caminho será marcado

Pro povo ir todo ano

E perder seu desengano

Padre tem o saber de menina

Foi da igreja e não se fascina

Ibiapina foi parceiro

Santo de casa é milagreiro

Na terra do nordestino.

Completando o quarteto

De Pernambuco Dom Vital

Entre o açúcar e o sal

Fez errado virar acerto

E de tudo fez conserto

Fez brilhar na clarapina

E perdoou o brabo de Nina

É um santo certeiro

Santo de casa milagreiro

Nesta terra nordestina.

Padre Ibiapina cearense

Na Paraíba se firmou

Aqui muito trabalhou

Esta terra te pertence

Aqui ninguém te vence

Na voz que peregrina

Na genética masculina

Do fiel és um herdeiro

Santo de casa milagreiro

Nesta terra nordestina.

O quarteto no seco Nordeste

Plantou a semente do bem

Deu a vida por um vintém

Na terra do cabra da peste

Viver aqui foi grande teste

Como efêmero desatina

Fala o padre Ibiapina

No nascer da vida foi parteiro

Santo de casa milagreiro

Nesta terra nordestina.

Meu querido Frei Damião

Da Itália veio ao Brasil

E daqui nunca fugiu

Nos amou de coração

Retribuímos com gratidão

Como fez toda retina

Com a raça de assassina

Nosso guia do estrangeiro

Santo de casa milagreiro

Nesta terra nordestina.

Padre Cícero Romão Batista

Nascido em terras do Crato

Com o pobre fez um trato

Transformá-lo em ativista

Ser na vida grande artista

Vencer com gente cretina

E saborear bem sabatina

Raspar bem o papeiro

Santo de casa milagreiro

Nesta terra nordestina.

Meu Padre Frei Ibiapina

Das terras do Meu Padrinho

Com muito amor e carinho

Sua palavra nos ensina

Pra quem o bem se destina

Neste chão de cajuína

Comida feita por Dina

Pra hora acertar ponteiro

Santo de casa milagreiro

Nesta terra nordestina.

Dom Vital santo querido

De Pernambuco para o mundo

Cidadão de amor profundo

Na chegada do sonho perdido

E das agruras do prometido

Trabalhou pra pobre e grã-fina

Com roupa vinda da China

Deixou vitória por derradeiro

Santo de casa milagreiro

Nesta terra nordestina.

NO ESTUDO DO CORDEL

O NORDESTE SAI NA FRENTE

Não quero aqui me gabar

E nem tampouco ser melhor

Cai da testa o suor

E começo com Ribamar

Do Maranhão veio de lar

E começou decentemente

Com amor e com a mente

Obra feita em papel

No estudo brasileiro do cordel

O Nordeste sai na frente.

Literatura de cordel, Antologia

É uma obra espetacular

Pra quem quer pesquisar

O valor escrito da poesia

Como pão quente em padaria

De um texto tão competente

Foi Ribamar Lopes o menestrel

No estudo brasileiro do cordel

O Nordeste sai na frente.

Na Paraíba Chagas Batista

Com amor e com magia

Nos deixou com maestria

A vida de muito artista

No cordel foi ativista

Uma obra porém decente

Lida por muita gente

No bastão do seu pincel

No estudo brasileiro do cordel

O Nordeste sai na frente.

Seu irmão Sebastião Nunes Batista

Escreveu a bela Antologia

Da Literatura de Cordel com poesia

Uma importante revista

Esse é meu ponto de vista

Chagas Batista no verso e no repente

Escreveu a obra tão decente

De quem morreu ou foi pro céu

No estudo brasileiro do cordel

O Nordeste sai na frente.

NÃO QUERO CORRER O RISCO

E NEM TAMPOUCO DEIXAR DE IR

Na ladeira da saudade onde eu moro

Me transformo em cidadão qualificado

Pra subir os degraus do meu passado

Canto e danço e nunca choro

E se lágrima cai eu não imploro

E qualquer dia desse eu vou partir

Agarrado nas algibeiras do meu sorrir

Como galinha que faz o cisco

Não quero correr o risco

E nem tampouco deixar de ir.

Já tentei de todas as maneiras

Aliviar os sonhos que já sonhei

E não consigo porque só reclamei

Das minhas quimeras e brincadeiras

Amarrado no íntimo das bandoleiras

Que usufruíram o ver do meu cair

E deixaram desilusões por vir

Como o saborear de um petisco

Não quero correr o risco

E nem tampouco deixar de ir.

Deixei lembranças de outrora

Bem junto da mulher amada

Que deixou minha alma esquartejada

No sorriso lascivo de uma senhora

Que preciso desabafar agora

Porque se não falo quero fugir

Coisas assim não quero sentir

Um ser que me fez por vezes arisco

Não quero correr o risco

E nem tampouco deixar de ir.

Tenho receios nesta subida

Tão longa e sem direção

Espinhos que cortam uma paixão

E me inibe por completo na vida

Como a esperar a terra prometida

De gente que a quer poluir

E fechando os olhos logo revivi

Melhor seria se eu fosse Corisco

Não quero correr o risco

E nem tampouco deixar de ir.

Corisco me ajudaria na caminhada

E com forças no cangaço eu seguiria

Nas munições que eu possuía

Não seriam jamais utilizadas

E somente seriam enfeitadas

Com uma foto estampada de Bem-te-vi

Cangaceiro mais brabo que já vi

Comedor de centenas de marisco

Não quero correr o risco

E nem tampouco deixar de ir.

O tempo está se passando

E as pernas estão tremendo

O corpo suado está fervendo

Minha mente confusa questionando

A distância entre o tempo que vem passando

É como se tudo viesse a me iludir

Num efêmero passado a destruir

As gravações que tenho num disco

Não quero correr o risco

E nem tampouco deixar de ir.

A saudade é tamanha neste momento

Numa dualidade indefinida

Controlando qualquer medida

Não sou o mesmo de sentimento

Por certo aprendo com o sofrimento

Que não me deixa nunca decidir

E com isto chego somente a refletir

Orando em nome do Papa Francisco

Não quero correr o risco

E nem tampouco deixar de ir.

O tempo é um relógio que não cessa

Minuto a minuto ele dispara

E com isto alimento a minha tara

Como um espectador de uma peça

Que pela atriz principal se interessa

Vasculho os reflexos do meu agir

E não consigo jamais mentir

Porque se eu não for como me arrisco?

Não quero correr o risco

E nem tampouco deixar de ir.

Esta é a verdadeira briga que eu travo

Entre o sim e o não desta peleja

E sendo assim, Deus me proteja

O que lhe protege parece bravo

Tratado por todos como escravo

E eu aqui tenho que assumir

Este amor preciso difundir

Através do meu pequeno rabisco

Não quero correr o risco

E nem tampouco deixar de ir.

A situação é quase um desespero

Como resolver este impasse?

É preciso que eu não fracasse

Só leve comigo carinho e tempero

Mesmo sendo tudo efêmero

Sigo adiante no meu prosseguir

Essa força irá me servir

Como um cuscuz que eu belisco

Não quero correr o risco

E nem tampouco deixar de ir.

A decisão cabe a mim tão somente

Mas parece que fico mais indefinido

Quando conhecer me é permitido

Eu requebro os nervos pra tanta gente

Quem sabe uma dose de aguardente

Eu possa até quem sabe conseguir

E ao encontra-la quero enfim dividir

Não me importa se ela me fizer confisco

Não quero correr o risco

E nem tampouco deixar de ir.

Eu acredito na possibilidade do encontro

E assim ser menos intransigente

Deixar nascer em mim esta serpente

Que por vezes me deixa quase tonto

E chego assim a este ponto

Não importa se erros já cometi

Eu preciso agora o amor sacudir

Na dor física já dói o menisco

Não quero correr o risco

E nem tampouco deixar de ir.

Donatários do povo brasileiro

Diante desta minha complexidade

Não como matar a saudade

E ser na própria terra forasteiro

E sim falar de um amor verdadeiro

Que no caos deixei escapulir

E agora tão recente vem comigo bulir

Prefiro deixar exposto num asterisco

Não quero correr o risco

E nem tampouco deixar de ir.

Meu senhores vou terminando

Esta agonia versificada

Que finda aqui uma jornada

Na ladeira da saudade continuando

A ilusão de quem sempre sonhando

Troca sinônimos do ato existir

Como um cão que sabe somente latir

Passo por ele e com o olhar pisco

Não quero correr o risco

E nem tampouco deixar de ir.

BENTO JUNIOR
Enviado por BENTO JUNIOR em 23/02/2022
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