NÃO SOU MUITO DE CAFÉ
NÃO SOU MUITO DE CAFÉ
Quando pisei no batente
Que dá com a casa dela,
É que deu pra perceber
Quanto sou gamado nela
E a raiva que eu sentia
Deixei pra lá da cancela.
Ainda um tanto sem graça,
Mas de certeza tomado
Relutei alguns segundos,
Ali em frente parado,
Mas sem querer recuar
Dos passos que tinha dado.
Um toc-toc na porta,
Espera, um pouco de calma...
Como não veio ninguém
Toc-toc, palma, palma...
Mais um pouco de espera
E nenhuma viva alma.
Um "ô de casa" bem alto
Já um tanto impaciente;
Uns dois passos para trás
Já descendo o batente.
Quando ouvi um "já vai".
Voltei dois passos pra frente.
Aí deu pra escutar
Um chiado de chinela;
D'onde eu tava já sentia
Aquele perfume dela.
O mesmo que em mim ficava
Quando eu ficava com ela.
Num breve imaginar...
Como ela estaria?
Como que na minha frente
Sua imagem surgiria?
Se estava bem arrumada
E que roupa vestiria?
Dei fé a porta se abre
E ela surge de repente.
Confesso, naquele instante
Quase caio do batente;
Fiquei anestesiado
Tremendo e todo dormente.
Com um sorriso amarelado
Recebi e dei bom dia;
Não sei como descrever
Na hora o que eu sentia,
A não ser a emoção
E imensa alegria.
Depois de “entre!”, entrei
Já um tanto recuperado
Antes que dissesse “sente!”
Eu já estava sentado.
E de modo bem sutil
Ela sentou-se ao meu lado.
O silêncio tomou conta,
Não se ouvia uma fala.
Não sei da vontade dela,
Mas a minha era abraçá-la,
Envolvê-la nos meus braços,
Num longo beijo, beijá-la.
Enquanto idealizava
Esta minha investida,
Ela levantando disse:
- Você quer uma bebida?
Uma água, um café?
Quero um café, querida!
Aí se ouviu da cozinha
Um mexido de panela
E eu sentado na sala
Agoniado, sem ela
Quando no ar se sentia
O cheiro do café dela.
Com isso não aguentei
A tamanha tentação;
Meti os pés do sofá
Fui na cozinha e então,
Lhe envolvi nos meus braços
Com todo amor e paixão.
Ao senti correspondência
A tudo quanto eu fazia;
Aí foi que investi
Fiz tudo o que ela queria;
Feito um mago do amor
Empreguei toda magia.
Nos grudamos um no outro
Em um ato tão feroz,
Que pra nada carecia
O emprego de nossa voz.
Parecíamos dois rios
Buscando a sua foz.
Daí veio a calmaria
Um mar de tranquilidade;
Deixamos de lado as brigas
E abraçando a humildade,
Esquecemos os defeitos
Pra exaltar só qualidade.
A esta altura o café
Já estava esquecido;
Ainda lá no fogão
A nenhum dos dois servido;
Mesmo frio foi a chave
Do amor por nós dois vivido.
Daquele dia pra cá
Muita coisa já mudou;
Uma borracha nas brigas
Eu passei e ela passou;
O meu eu e eu dela
Novamente se juntou.
Quando estamos conversando
Nunca se passa esquecido,
O dia que em sua casa
Após dias sem ter ido,
A história do café
Que nunca me foi servido.
Então como um remake
Eu sempre sou convidado
Para na cozinha dela
Estar com ela colado
E para mim tanto faz
Se o peste ficar gelado.
Benildo Nery,
Um poeta de Montanhas,
Em abril de 2022.