Cordel Número 1

Quem escreve por amor

Não vai se arregar

Prosa, poesia ou cordel

Sempre vai se aventurar

Falar de amor e da vida

Lembrar da história esquecida

E fazer a pessoa sonhar.

Não sei qual a métrica

Mas o faço com louvor

Quadra, sextilha, septilha, décima

Não sei dizer, meu senhor

Mas gosto de falar de gente,

De tudo o que se sente

E do mais sublime amor.

Eu que nunca fiz cordel

De cultura vou falar

Engrandecer os trovadores

O escritor sertanejo popular

A narração em versos

Os meus escritos eternos

Num emocionante poetar.

Essa arte nordestina

Encantou todo o Brasil

E até esse paranaense

Está no cordel a mil

Rimando com muita fé

Salve Patativa do Assaré

No país do irmão do Henfil.

Meu padrinho Padim Ciço

A religiosidade do sertanejo

Multiplicidade de crenças

Um ecumênico cortejo

Odoyá minha mãe Iemanjá

Senhor do Bomfim, Inaê, Aiocá

O que sinto e vejo.

Também recordo Suassuna

O Auto da Compadecida

Sejamos todos do Armorial

Nessa vida remida

Chicó e João Grilo

Da farinha um quilo

Nossa Senhora Aparecida.

E tem que falar do lugar

Maranhão, Ceará, Piauí

A Bahia, Sergipe, Alagoas

Sem esquecer daqui

Daqui do Rio Grande do Norte

Pernambuco, povo de sorte

E na Paraíba caí.

O sertanejo é um forte

E o poeta se levanta

Pra falar de bicho e de guerra

Da profana e da Santa

De Guimarães Rosa e Euclides da Cunha

Rimar o dente com a unha

Cobrir o sol com a manta.

E navegar pelos mares

Vencer o longo deserto

Lampião e a Volante

Torcer que tudo dê certo

Cordel e o Nordeste

A sorte que me deste

Poesia sempre por perto.

Assim com o mambo number five

Fiz o meu cordel número um

Hoje já tenho o meu

Pra quem não tinha nenhum

Sigo assim minha carreira

Escrevendo feito uma leira

Nesse universo comum.

Publicado na 3ª Coletânea de Poemas + Sonetos + Cordéis - Páginas 84 e 85

Editora: PerSe (2020)