A LENDA DO JOÃO DE BARRO

Quando se fala de amor

Já fico emocionado

Pois não há homem que resista

A um coração apaixonado

Muito menos de uma lenda

Que pra mim é estupenda

Ao tema aqui citado

Talvez você já conheça

Mas resolvi relembrar

A lenda: João de barro

Que aqui agora vou narrar

Prepare seu coração

Para esta linda lição

Que conto no versejar

Conta a lenda, há muito tempo

Um jovem apaixonado,

Não aguentou mais segurar,

O sentimento guardado.

A sua amada era bela

E sua paixão por ela

Ao pai foi reportado.

Mas aquele jovem índio

Não sabia do perigo

Quando recebeu o recado

-Que velha falar comigo.

Mal sabia Jaebé

Que o que preparou o pajé

Era um tremendo castigo

Muitos tentaram casar

Com a bela indiazinha

Mas ela era protegida

Assim como uma rainha

Estava sempre cercada

Pela lua era guardada

Nunca ficava sozinha.

O cacique disse assim:

-é você o Jaebé

O índio que então aceitou

Desafio do pajé

Pra casar com minha filha

E vir morar aqui na ilha

Se tornar o meu Mawé

O Pajé lhe preparou

Uma prova complicada

Pois põe sua vida em risco

Completando essa jornada

Mas se você terminar

Minha filha, vou entregar

Como sua esposa amada

Jaebé disse: - cacique,

Um coração apaixonado

Não tem noção do perigo

Nem nega o fardo pesado

Cacique pode mandar

Quem eu tenho que matar

Para eu ser abençoado¿

- Calma não vai precisar

Que você mate ninguém

Só quero mesmo saber

Se tu é mesmo do bem¿

Teve muito pretendente

Mas pra me deixar contente

Ainda não teve esse alguém.

Minha filha é formosa

A Índia que é mais bela

Não há nessa aldeia todinha

Beleza perto da dela

Então pode me dizer,

O que tem a oferecer

Para se casar com ela?

O jovem respondeu assim:

- Cacique Inã, por favor,

Esse tipo de pergunta

Causa-me uma certa dor

O meu amor é verdadeiro

De frente a esse povo inteiro

Mostro a prova do meu amor.

O velho gostou da resposta

Achou o jovem atrevido

E disse: - eu não imaginava

Receber esse pedido

O desafio é duro

Por isso que até lhe juro

Que fiquei surpreendido

O último pretendente

Me prometeu jejuar

Cinco dias, cinco noite

E sem me trapacear

Mas ele já não mais vive

Com quatro dias eu tive

Que o coitado sepultar

Pois o índio deu então um pulo,

Disse batendo no peito:

- Pois muito bem seu cacique

Então vai ser desse jeito.

Que seja como quiser

Pra te-la como mulher

Esse desafio eu aceito.

E ainda digo um pouco mais:

Nove dias ficarei

Garanto minha palavra

Que jamais eu morrerei.

Ficarei ainda aqui nessa ilha

E aí com a sua filha

Depois eu me casarei

Vou fazer esse jejum

E posso assim lhe provar

Que o que sinto por Iara

Nada poderá matar

Meu amor é tão verdadeiro

Que outro igual no mundo inteiro

Ninguém nunca vai encontrar.

Toda a tribo se admirou

Com a coragem do jovem

Pois o amor é um assunto

Que a todos comovem

Há quem tente resistir

Mas só vai conseguir

Enquanto dele não provem

O cacique então ordenou

Que então fosse iniciado.

Enrolaram o rapaz

Num couro de anta pesado

E ali tinha que ficar,

Nove dias jejuar

Sem que fosse alimentado.

A jovem apaixonada

Coitadinha só chorava

E pra proteger o amado

À deusa lua implorava

Os dias iam passando

Ficava se perguntando

“Quanto mais ele aguentava¿”

O tempo tava passando

E ela ao pai foi dizer:

- Cinco dias passaram

Pai! Não deixe ele morrer!

Ele deve estar morrendo

Não aguento ficar sofrendo

Sem saber o que fazer.

O velho disse pra iara:

-Mas foi ele que provocou!

Quando veio até a aldeia

E o chefe desafiou.

Falou nas forças do amor,

Disse que aguentava a dor

E o desafio aceitou.

Vamos ver o acontece

Amanhã mando soltar

Quando o dia anoitecer

Vamos ver no que vai dar

Vamos ver se Jaebé

Aguenta ficar de pé

Pra dizer que quer casar.

No outro dia anoitecendo

Ele deu a ordem que o soltasse

Mas o chefe imaginava

Que o jovem nem aguentasse

Que ninguém aguentaria

Depois daquela agonia

Muito menos levantasse.

Quando tiraram o couro,

Jaebé pulou ligeiro.

E seus olhos brilharam,

Igual à luz de um candeeiro,

Aceso na escuridão,

Que deixou um belo clarão

Visto pelo povo inteiro.

O corpo de Jaebé

Tinha um perfume gostoso,

Seu sorriso tinha luz,

Era algo misterioso.

Porém foi a luz do luar,

Que foi proporcionar,

Algo mais esplendoroso.

Quando viu sua amada,

Toda linda a lhe esperar.

Jaebé tal qual um pássaro,

Então começou a cantar.

Jaebé se transformou,

Num pássaro e então voou

E o amor se pôs a chamar.

E quando a luz do luar

Na jovem também tocou.

Num lindo João-de-barro

Ela então se transformou.

Voou atrás de Jaebé

Que ela com muita fé

Por muito tempo esperou.

E felizes para sempre

Esse casal foi viver.

Pois o desafio do amor

Só o amor pode vencer.

E esse casal tão bonito,

Viverá todo infinito,

Que o amor tem a oferecer.

O nosso João-de-barro

Merece esses holofotes

Pois todos eles já nascem

Lindos e cheios de dotes

Todos eles são pedreiros

E também são cavalheiros

Protege esposa e filhotes.

Eu reescrevi esta lenda

Pra você caro leitor.

Para que você se lembre

De que somente esse amor

É capaz de transformar

E que vai te acompanhar

Onde quer que você for.

Vou ficando por aqui

Tenho que me despedir

Meu muito obrigado a todos

Que dispuseram a ouvir

Mais uma vez obrigado

Mas, antes deixo um recado

Pra quem pensa em desistir:

Lembre-se de Jaebé

Que mesmo largado a sorte

Nunca perdeu sua fé

Manteve-se Sempre forte

E Mesmo sentindo dor

A força nasceu do amor

E foi ainda maior que a morte.