A MENTIRA DE ROSELI E A MORTE DE CARLITO (cordel)

Meu amigo, minha amiga

Me preste bem atenção

Pra um caso que aconteceu

Ali numa região

Onde por falta de sorte

Um jovem pagou com a morte

Mesmo cheio de razão

Bem distante da cidade

Era ali que ele vivia

Caminhava pra escola

Seu destino, todo dia

E trabalhando na roça

Descansava na palhoça

Era ali sua alegria

O tempo assim foi passando

Com a sua vida em paz

Era muito respeitado

Aquele jovem rapaz

Mas triste foi sua sina

Por causa de uma menina

De uma atitude mordaz

Ali naquele lugar

Todo mundo o conhecia

Falava com todo mundo

Em qualquer hora do dia

E devido uma serpente

Ainda sua parente

Teve que entrar numa fria

Por Carlito era chamado,

Filho de Zé Alencar,

Um homem trabalhador

Que soube bem lhe educar

Sua mamãe Margarida

Também era bem querida

Por a todos respeitar

Mas ali também morava

Um senhor todo contente

Era tio de Carlito

Que vivia alegremente

Cunhado de Margarida

Um senhor cheio de vida

Seu Renato, homem descente

Era, então, um homem justo

Educado e de respeito

Vivia de suas terras

Sempre foi um bom sujeito

Desaforo não levava,

Ofensa ele retrucava,

Cortava logo o efeito

Sua filha Roseli,

Como se diz a cartilha,

Tratada com muito dengo

Com todo mimo de filha

Pela sua incompetência,

Para jurar inocência,

Tirou o velho da “trilha”

Roseli era elevada

Não gostava do lugar

Chamado Serra da Areia

Lugar bom pra se morar

Sonhava em ir pra cidade

Mas não tinha liberdade

Só via o tempo passar

Se apaixonou por Carlito,

Seu amor do coração,

Carlito se aproximou

Sem chamar muito a atenção

Mas um dia seu Renato

Cortou-lhe logo o barato

Viu os dois na curtição

Mesmo assim ele aprovou

Carlito era um bom sujeito

Ainda era seu sobrinho

Estava tudo perfeito

Carlito sem está afim

À Roseli disse assim

“Pra nosso amor, nada feito”

Roseli inconformada

Com triste situação

Sem poder continuar

Com sua grande paixão

Foi pra casa desolada

Pra ninguém contou mais nada

Da sua desilusão

Ali na Serra da Areia

Como é de tradição

Tem festa do padroeiro

Com quermesse e procissão

Com a bandinha a tocar

Todo mundo do lugar

Participa do leilão

Nesse dia Roseli

Pra sanar sua paixão

Pra se vingar de Carlito,

A sua desilusão,

Ficou lá no escondido

Com rapaz desconhecido,

Vendedor de prestação

O rapaz com Roseli

Começou a conversar

Falando ser prestanista

Gostou daquele lugar

Roseli era mais bela

E simpatizou por ela

Queria lhe namorar

Roseli também falou

- E você me convenceu

Gostei da sua presença

Revelo um segredo meu

Se você for carinhoso

Fizer tudo bem gostoso

Meu coração será seu

Assim a noite passava

Ante um lampião de gás

Com pouca iluminação

Tudo escuro lá atrás

Para que ninguém lhes veja

Foram ao fundo da igreja

E ficaram por detrás

Ali fizeram amor

Na calçada de cimento

Até não se deram conta

Que estavam no relento

Antes do raiar do dia

O prestanista saia

Veloz como pensamento

Porém, no dia seguinte

Foi quando a ficha caiu

O prestanista se foi

E para sempre sumiu

Vendo tudo acontecer

Não sabendo o que fazer

Ela em pranto se esvaiu

- O que foi que aconteceu?

Sua mãe a perguntar

Seu pai ficou furioso

Começou interrogar

Roseli, sem ter saída

Para livrar sua vida,

Começou a planejar

Calculista, ela pensou,

Naquele instante maldito.

“Encontrei a solução,

Nesse plano eu acredito”.

“Pra acabar com a balela,

Não sou mais uma donzela

E a culpa foi do Carlito”.

Naquele instante, porém,

Seu Renato pegou ar

“Aquele cabra vai ver,

Como é que vai ficar”.

Pois se acha que me engana

Ele ainda essa semana

Com Roseli vai casar

Pediu ao filho mais velho

Para o Carlito chamar

Para ter uma conversa

Ali naquele lugar

Carlito sem dar mancada

Botou logo o pé na estrada

Ligeiro sem demorar

Chegou na casa do tio

Pra ver do que se tratava

Renato lhe interrogou

Com a cara muito brava

- Só quero que seja firme

Pois agora me confirme

Se com ela cê ficava?

Vá logo me confirmando

E ficando muito atento

Não quero muito arrodeio

Nem use muito argumento

Eu não quero inimizade

No cartório da cidade

Vou marcar o casamento

Ele disse: não senhor

Isso eu não posso afirmar

Não fiquei com Roseli

Peça pra ela provar

Entre nós tudo acabou

Amizade é o que restou

Nada mais a declarar

E logo se levantou

Dando sinal de partida

Renato lhe ameaçou

- Tenha cuidado na vida

Cabra moleque covarde

Pois antes que seja tarde

Tu vai ter outra saída

Carlito foi para casa

De tranquila consciência

Por ter falado a verdade

Provado sua inocência

Saiu sem medo de nada

Sem pensar em dar mancada

Pois tinha muita decência

O velho ficou zangado

Por toda situação

Aquele cabra maldito

Faltou consideração

Vou pegar ele sozinho

Numa curva do caminho

Ele jura confissão

Numa manhã bem cedinho

Saiu pra feira do gado

Tava puxando na corda

Um bezerrinho apartado

Na frente de um chafariz

Bateu nariz com nariz

Com aquele cabra arretado

Carlito estava com baldes

Em um carrinho de mão

Foi o primeiro a chegar

Pra não ter competição

Nem sequer imaginava

Que sua hora chegava

Sem esboçar reação

Disse Renato a Carlito

- Agora você vai ver

Moleque desaforado

Você vai se arrepender

Deixe agora de enrolar

Trate logo de afirmar

Ou então tu vai morrer

- Não tenho como afirmar

Não afirmo o que não fiz

Não mexi com sua filha

Quero que seja feliz

Não venha me perguntar

Que não vou lhe confirmar

Nem na frente do juiz

Renato nesse momento

Acho que baixou-lhe o cão

Botou a mão na cintura

E saiu de arma não mão

Virando-se na molesta

Acertou no meio da testa

Sem nenhuma compaixão

Carlito caiu na areia

Agonizando no chão

Quem presenciou a cena

Não esboçou reação

O ato de malvadeza

Pegou todos de surpresa

Foi de cortar coração

Renato naquele instante

Quando Carlito caiu

Botou a arma na cintura

Logo apressado saiu

Na pista deu com a mão

Pra Kombi de lotação

Entrou no carro e sumiu

O crime repercutiu

Foi aquela comoção

A justiça da cidade

Decretou sua prisão

Ciente do que aprontou

Renato se apresentou

E saiu de camburão

Roseli depois de tudo

Caiu na desolação

Vendo seu pai na cadeia

Carlito embaixo do chão

Pra acabar com aquele drama

Revelou que sua trama

Nasceu da antiga paixão

Jurou arrependimento

E voltou a insistir

Pediu perdão a seu pai

Que podia garantir

Pela sua honradez

Se arrependeu do que fez

Que jamais ia mentir

Sua mãe foi ao presídio

Ao marido visitar

E falou da novidade

Que ela tinha a revelar

O Carlito era inocente

Nunca teve antecedente

Foi Roseli a apelar

O velho disse: maldita!...

Acabou com a minha vida

Tô pagando sem dever

Tô num beco sem saída

Diga aquela desonrada

Que bote seus pés na estrada

Pegue o beco ou avenida

A velha chegou em casa

Com o coração partido

Triste, pensando na vida

Por todo fato ocorrido

E falou pra sua filha

Tu armou sua armadilha

Aqui não terás abrigo

Roseli saiu de casa

Sem destino e sem dinheiro

Nunca mais se ouviu falar

De seu real paradeiro

Saiu pra jamais voltar

E as lembranças do lugar

Deixou para trás ligeiro

Renato continuou

No presídio encarcerado

Logo foi seu julgamento

O velho foi condenado

Fez o “curso de leão”

Vinte anos de prisão

Vendo o Sol nascer quadrado

Pior foi para o Carlito

Que morreu com a verdade

Jurando sua inocência

Afirmando lealdade

Morreu inocentemente

Por atitude indecente

Da mais pior crueldade

Isso serve de lição

Pra quem gosta de mentir

Não responde por seus atos

Nunca pensa antes de agir

Nós devemos ser capaz

Pois tudo que a gente faz

A gente deve assumir