A CASA DE PEDRO GOMES

(CORDEL-HOMENAGEM)

 

Há lembranças nesta vida

Que nunca nos deixa a mente.

A casa de Pedro Gomes

É uma delas! Presente

Sempre esteve em meus pensares,

Viva ou de forma latente.

 

Aquela casa pintada

De branco, sempre! Fazia

Que eu desejasse uma igual!

E o meu coração batia

Mais forte quando a adentrava,

Pleno de pura alegria.

 

Ali defronte à Estação

De Trens, aquela morada,

Era a morada mais bela!

Para a menina "danada"

Que fugia pra dançar,

Dando sempre uma "escapada".

 

Às cinco e meia da tarde

Já se ouve o tum-tum-tum...

Do motor na sua tenda.

Também começa o zum-zum

Da juventude agitada,

O que, na idade, é comum.

 

É que é dia de "assustado"

Ou coisa bem parecida

Na casa de Pedro Gomes,

Pessoa mais que querida

Pelos jovens de Montanhas,

Cidade nunca esquecida.

 

Falo dos anos sessenta

Antes da emancipação

Que Lagoa de Montanhas

Era o seu nome de então,

Pertencendo a Pedro Velho,

Terrinha Agreste-Sertão.

 

De quando o divertimento

Da moçada não pedia

Droga, sexo, ou qualquer coisa

Que andasse por essa via,

Se dançava com o respeito

Que a idade requeria.

 

A casa de Pedro Gomes

Nos recebia com o amor

De um casal de meia idade

Que merece o meu louvor

Neste cordel-homenagem

Onde não caberá dor.

 

Seu Pedro e Dona Zefinha,

Casal de muito respeito,

Era naquele lugar

Um par de muito conceito!

Com a juventude dali

Os dois tinham muito jeito.

 

Todo final de semana

Seu Pedro nos convidava

A ouvir música e dançar!

A turma toda aceitava.

Com alegria e com prazer

A moçada se arrumava.

 

Assim que o motor batia

Tum-tum-tum, a moçarada

Pra casa de Pedro Gomes

Já partia em disparada

Sendo ali bem recebida

Na sua porta de entrada.

 

A Radiola ABC

Soltava o som de vinil

"Eu não sou cachorro não"!

Waldic, com voz viril;

Calbí Peixoto, Miltinho...

Boas vozes do Brasil

 

Outros cantores românticos

Mexendo com os sentimentos

Que acendia os corações

Naqueles belos momentos,

Faziam esquecer a hora

Tornando-nos desatentos.

 

Mas, ao primeiro sinal

Que a luz ia se apagar,

Seu Pedro já nos dizia,

Com carinho, pra voltar

Aos nossos lares depressa

Pra nossos pais não brigar.

 

Apagando as luzes, todos,

Numa algazarra sem fim,

Correm depressa pra casa

No "breu", fazendo pantim[i]:

Contando estórias de assombro,

De zumbi, do "bicho ruim".

 

Ninguém tinha namorado,

Ou namorada, só tinha

Uma amizade gostosa

De amiguinho, de amiguinha...

E o meu pensar, com doçura,

Desse tempo se avizinha.

 

Hoje, com setenta e três

Anos de idade, lembrando

Dos meus amigos de outrora

Fico, comigo, pensando:

Como tudo era bonito

Com a inocência no comando!

 

Tenho saudades de todos!

Mesmo não lembrando os nomes.

Dos meninos, das meninas...

Sequer dos seus sobrenomes.

Mas lembro a casinha branca

De Josefa e Pedro Gomes.

 

 

 

 

Rosa Regis

 

Natal/RN

 

2022

 


[i] Pantim – contar notícias aterrantes ou terríficas (Dic. Aurélio)

 

Obs: A casa acima é a verdadeira casa de Pedro Gome, lá nos anos 60.