UM POETA AMADOR (A Saga de Mucuim)

Eu me chamo Mucuim,

Sou um poeta amador,

Se não gostarem de mim,

Perdoem-me, por favor!

Sou pequeno no tamanho,

Mas sou grande na moral,

Tenho os meus olhos castanhos,

Da mesma cor do pardal.

Certa vez lá nuns festejos,

De mim ninguém teve dó,

Chamaram-me com gracejos,

Tamborete de forró.

Não me zanguei, nem fiquei triste,

Segui com minha cultura,

Não se mede um homem que existe,

Apenas pela estatura.

Outro dia eu ouvi,

Passando por um caminho,

“O Mucuim vem ali,

Filhote de passarinho”.

Sorrindo olhando pra mim,

Como se eu fosse um palhaço,

Mas eu sou o Mucuim,

Pequeno, mas não pedaço.

Certa vez lá na feira,

Eu fui comprar meu feijão,

Lá ouvi tanta besteira:

“Chegou Mucuim anão”.

E eu pensei cá comigo:

Ô povo de preconceito!

Não tem medo de castigo,

Parece sem fé no peito.

Chegando à barbearia,

Fizeram-me um papelão:

Disseram: “Vixe Maria!

Tem cabelo de varrão!”

Na padaria também

Onde pães eu fui comprar,

Disseram: “Não vi ninguém,

Só voz estamos a escutar”.

Mas abaixo do balcão

Tem um homem de verdade,

Que vive com o coração

Sem pensar em falsidade.

Na praça fiz uma prece,

Disseram: “Veja o tamanho,

Digam só se não parece

Caçote depois do banho!”.

Mal a ninguém eu desejo,

Seja lá qual o tamanho,

A quem fica com gracejo,

Eu penso: Vai tomar banho!

Mas sou Mucuim Legal,

Não ligo para essas lorotas,

Quem tenta me fazer mal,

São pessoas idiotas.

Na missa eu estava a rezar,

Pra Deus e Nossa Senhora,

Alguém começou a me olhar,

Como me mandando embora.

Mas sou um homem de fé,

A todos sempre respeito,

Aqui na casa do Pai, é ,

Eu também tenho direito.

Teve um grande alvoroço

Pras bandas do ribeirão,

Com água no pescoço,

A mãe d’água era paixão:

“Traz o Mucuim pra mim,

Com ele quero banhar,

Vem pra cá, meu Mucuim,

Contigo eu quero estar!”.

Mucuim foi ver o mar,

Com todo amor e carinho,

Porém, ao chegar lá:

“Olha o filho do peixinho!”.

Um casal assim falou

Quando viu o Mucuim,

E este logo pensou:

Oh! Meu Deus, hoje é meu fim!

E pra zona leste ele foi,

E lá ficou bem quietinho,

Disseram: “Não veio o boi,

Mas veio o seu bezerrinho.”

Mucuim foi a uma barraca,

Pra tomar água de coco,

Falaram: “É uma paca

Ou um leitão que cresceu pouco?

Mucuim se retirou,

Com a paciência sem fim,

E gritaram: “Se afastou

A semente de gergelim!”.

Atravessando a avenida,

Para então ele ir embora,

O Mucuim de saída,

Partiu logo sem demora.

Ao passar numa esquina,

Mais uma ofensa verbal:

“Olha a pepita da mina,

Olha um bichinho animal!”.

Numa loja de armarinho,

Só se ouviu brincadeira:

"Olha o Mucu bonequinho,

Ponham-no da prateleira.

Coloquem uma etiqueta

De preço no bonequinho,

Botem nele uma jaqueta,

Vai ficar bem o bichinho".

Mucuim foi a um banco,

Seu saldo verificar,

Uma mulher de tamanco,

Disse: “Nesse grilo eu vou pisar!”.

Nas festas de Ano-novo,

Durante uma festinha,

Disse logo aquele povo:

“Vejam só essa bombinha!”.

Mucuim não é tão feio,

Só é pequeno demais,

Parece até nó de arreio

De prender os animais.

Mucuim foi tomar banho

Nas águas de um grande rio,

Zombaram do seu tamanho,

Ouviu-se tanto assobio.

Passando num pedregulho,

Fizeram-lhe humilhação,

“Parece até ser gorgulho

Passeando no feijão”.

Com muita calma, Mucuim

Seguiu logo sua estrada,

Mas gritaram logo assim:

“Ei sapinho de enxurrada!”.

Passando num povoado,

Mais uma vez, gozação:

“O preá desesperado

Procura a vegetação.”

Mucuim estava parado

Olhando uma escultura,

Falaram: “Olha o danado

Do piolho da mucura!”.

Mucuim não cheira mal,

Mas depressa se afastou,

Viver bem é tão legal,

Problema de quem falou.

Indo a um casamento,

Mucuim feliz ficou,

Mas disseram nesse momento:

“Camundonguinho chegou!”.

O Mucuim foi pescar,

E ao chegar ao Ribeirão,

Disseram: “Vai começar...

A isca chegou, então.

Quiseram pegar o Mucuim,

Pensando que era minhoca,

Pra pescar o peixe e, enfim,

Assá-lo junto à mandioca.

Mucuim saiu correndo,

Nem para trás ele olhou,

E os pescadores dizendo:

“A isca agora escapou”.

Ao passar num arvoredo,

Na sombra ele parou,

Uma voz disse: “Ô medo!”.

E Mucuim se assustou.

Ele saiu de fininho,

Sem chamar muito a atenção,

Foi quando um passarinho

Piou alto, era o cancão.

Um sabiá mais além,

Mostrando sua melodia,

Mucuim disse: “Estou bem,

Vou fazer mais poesia.”

A um baile o Mucuim,

Foi e lá ficou dançando,

E logo falaram assim:

“Milho pipoca pulando”.

Um dia para uma festa

Mucuim foi convidado,

Disseram tão sem modéstia:

“Olha o coelhinho pintado!”.

Mucuim no restaurante,

Comendo devagarinho,

Disseram: “Pintinho errante!

Como come esse pintinho!”.

Outra vez, com ironia,

Disseram: “És o primeiro

Campeão na categoria

Alpinista de cupinzeiro!”.

Mucuim olhando a Lua,

Foi logo surpreendido:

“Olha esse seixo de rua,

Um grãozinho aqui perdido!”.

Mucuim foi ver um jogo,

E ao passar por uma linha,

Disseram: “Vai pegar fogo,

Pois já chegou a bolinha!”.

Gritaram na arquibancada:

“Ô bolinha pequeninha!

Não aguenta uma pancada,

Vai ficar logo murchinha”.

Chegando lá na fruteira,

O amigo Mucuim,

Disseram ali de primeira:

“Veio comer fruta o vinvin!”.

Mucuim foi beber água,

E ao chegar ao bebedouro,

Disseram sem deixar mágoa:

“É um filhote de besouro!”.

Já outro ali indagou,

Nem alto, nem tão baixinho:

“E por aqui já chegou

Esse bicho bacorinho?”.

"Esse filhote de gato,

É pequeno, é Mucuim.

Ele é menor que um sapato,

Não presta pra tamborim!”.

Tão minúsculo, quase nada,

Sei que não vai mais crescer,

Mas Mucuim segue a estrada,

E tão feliz vai viver.

"É um mosquito anão

Esse tal de Mucuim,

Mas tem um grande coração,

Ser pequeno não é o fim!”.

Assim falou um profeta,

Ao vê-lo então passar:

“Tem conduta bem correta,

Mucuim vai prosperar!”.

Formiga que não cresceu,

É maior que Mucuim,

Mas até hoje ele viveu

Sem fazer coisa ruim.

Numa estradinha de terra,

Mucuim seguiu viagem,

Com paz e longe da guerra,

Foi contemplando a paisagem.

Tudo o que fazem comigo,

É pensando em maltratar

Este coração amigo

Que nasceu só para amar.

Mas na vida sei que tem

Todos os tipos de gente.

Na guerra entre o mal e o bem,

Vence sempre o inteligente.

Cansar, sei que não vão,

Pois querem mesmo é zoar,

Com toda má intenção,

Vivem sempre a me afrontar.

Mesmo com tanta humilhação,

Mucuim nunca reagiu,

Quem manda é o seu coração,

Pra ninguém jamais mentiu.

Meus olhos castanhos são

Da cor de mel com terra,

Ser feliz é minha missão,

Quero paz, não quero guerra!

Sou o Mucuim famoso!

Meu tamanho é o pivô,

Satirizam o generoso

Pequeno que tem amor!

Sou Mucuim cabra macho,

Muito forte é minha raiz,

Sou calmo como um riacho,

Sou pacato e sou feliz.

Uma obra de ficção.

Autor: Edimar Luz.

Picos-PI, dezembro de 2010.

Edimar Luz
Enviado por Edimar Luz em 29/06/2022
Reeditado em 03/07/2022
Código do texto: T7548875
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