O PADEIRO E A DOR DE DENTE NA CIDADE DE ZÉ DOCA

Gostando de conversar

Sempre vem disposição

Encontro com outro cabra

Que me dá satisfação

Falo do nobre Ribeiro

Um majestoso padeiro

Que faz um gostoso pão.

Ribeiro é contador

De causos bem engraçados

A gente rir dos assuntos

De fatos maravilhados

É um bom conversador

Assim mesmo se mostrou

Para serem publicados.

É que fiquei de pegar

Suas belas narrações

Colocar no meu Cordel

E deixar as tentações

Desta feita já peguei

Nesta noite passarei

Pra minhas anotações.

O que me falou Ribeiro

Não posso desperdiçar

Tenho é que sair correndo

Neste verso popular

E tudo sem mais delonga

A palestra será longa

Então posso começar?

Eu farei todo possível

Para ser fiel no tema

Pro Ribeiro concordar

Sem criar nenhum dilema

O juízo já fervendo

Onde fiquei me metendo

Jamais quero ter problema.

Dezesseis anos nas costas

Nas terras do Maranhão

Ribeiro morava lá

Que tanta complicação

Médico de mês em mês

Dentista de vez em vez

Dá é dó no coração.

Maranhão bom que se diga

Um estado nordestino

De prosperidade tantas

Até mesmo pro menino

- Ribeiro que foi fazer?

Ele logo quis dizer:

- São coisas deste destino!

No município Zé Doca

Ribeiro ficou morando

Este cabra viajante

Ficou mesmo namorando

Destruindo corações

Jovem sem musculações

As donzelas atiçando.

Num certo momento magro

O dente já dolorido

O rapaz com baita dor

Teve como prometido

A falta de ter dentista

- Ribeiro meu, não desista!

O que tem acontecido?

Ribeiro ficou tão puto

Que não soube responder

A boca toda doendo

Que só fazia sofrer

Vasculhou toda Zé Doca

O dente todo pipoca

Se danava pra doer.

Aquela dor condenada

E ninguém quis ajudar

Ribeiro no desespero

Sem ter doutor pra tirar

Aquele maldito dente

Voltar para ser contente

Meteu pau pra procurar.

De repente, só Jesus

Uma casa diferente

Dentro dela já havia

Um cara de boa gente

Ribeiro desconfiado

Por um gentil arrastado

Num local humildemente.

Entrou nessa condição

Para dor escapulir

Fitando pro cidadão

Pergunta se é ali

Aquele desconhecido

Jamais ser bem parecido

Queria por fim, extrair.

Ribeiro ficou com medo

Daquela localidade

Higiene nem falava

Tudo promiscuidade

Injeção deste tamanho

Alicate de rebanho

Numa total crueldade.

Este tirador de dente

Jamais estudou na vida

Pra ser doutor desse povo

De cura desprevenida

No dente botou pomada

O tempo dando mancada

É situação perdida.

Ribeiro ficou confuso

Sentado numa cadeira

Que tinha jeito de monstro

Pensando ser de caveira

O dente só latejando

Grandes dores aumentando

Agulha quase peixeira.

Onde Ribeiro parou

O sangue tomava conta

Aquele falso dentista

No rapaz o bicho monta

A boca toda lascada

Centena de latejada

Cabeça ficando tonta.

O cabra bem esquisito

Querendo tirar o bicho

Empurrava tanto cabra

Nesse lugar quase lixo

O cretino quis ganhar

Ribeiro pra se danar

Correndo só por capricho.

Ribeiro não quis ficar

Boca sob anestesia

Pulou daquela bagunça

Busca qualquer freguesia

A coisa ficava feia

Bem melhor que fosse peia

Só assim faz nostalgia

Aquela dor não parava

Ribeiro sofria tanto

Rezava bem caladinho

Que fosse pra qualquer santo

A boca tanto crescia

O padeiro sofreria

Como num tristonho canto.

Caminhando por Zé Doca

Vai procurar um distrito

Chegando neste lugar

Quis depressa dá um grito

Deu de cara com morena

Moça gentil e serena

Que livrou de ter atrito.

Dizendo que seu papai

Tinha tudo preservado

Um gabinete dentário

Estando tudo guardado

Naquela bendita casa

Talvez se botasse brasa

Nesse senhor respeitado.

Ribeiro ficou pensando

Se seu passado tem volta

Aceitou belo convite

E com a dor se revolta

A moça lhe paquerava

Aquela dor não passava

Quase vez em quando volta.

O senhor pai da menina

Recebeu logo parceiro

Mandando fazer entrar

Este futuro padeiro

Com o seu dente doendo

Bem triste desfalecendo

Mas, se chegou bem maneiro.

Ribeiro dentro da casa

Foi falando dessa dor

Aquele senhor modesto

Dizendo: - Não, por favor!

A minha filha me disse

Extrair dente é tolice

Deixei de ser um doutor.

Ouvindo constantemente

Este não como resposta

Ribeiro ficando triste

Numa dor que ninguém gosta

Baixando toda cabeça

É bom que ninguém mereça

Esta vida quase bosta.

Ex. dentista refletindo

Pedindo para sentá-lo

A filha dá um sinal:

- Na certa quis arrancá-lo!

Dum jeito bem positivo

Como ser tão sensitivo

Prum dente virando calo.

Consultório de valor

Sem prestar atendimento

Odontólogo só quer

Curtir empreendimento

A filha foi responsável

Trazer esse miserável

Sem o seu consentimento.

Só sei que nosso Ribeiro

De fato bem atendido

Recebe dose no troço

Viés estabelecido

O dente já inflamado

- Arrancamos o safado

É descanso merecido!

E que descanso, meu Deus?

Pula sim, grande calçada

Que divide toda casa

Extração tão complicada

- Que tamanho dessa raiz!

É o doutor que lhe diz

De cara bem amarrada.

Ribeiro quase que morre

Com sua má atitude

De manhã logo bem cedo

É sangue sem ter saúde

Depressa noutra cidade

Injeção de qualidade

O rapaz na plenitude.

Findamos este Cordel

Neste drama verdadeiro

Bato palmas com prazer

Para nosso bom padeiro

Que só tem recordação

Das terras do Maranhão

Do seu dente trambiqueiro.

BENTO JUNIOR
Enviado por BENTO JUNIOR em 06/07/2022
Reeditado em 06/07/2022
Código do texto: T7554105
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