O Sertanejo e o Diabo

Uma história sertaneja

Sem receio eu vou contar

Um pobre peão na peleja

Esse fato foi passar

Vinha vindo da roça

Era noite de luar

Passando numa palhoça

Vejam quem foi encontrar

O diabo lhe apareceu

De medo o homem tremia

Seu cachorro enraiveceu

Sem descanço ele latia

O diabo lhe perguntou

Como é seu nome "Filha-da-puta"?

O moço lhe respondeu:

É Florêncio filho da tuta

Disse logo o diabo

Me respeita seu peão

Tu tá vendo esse meu rado

O meu garfo e o facão

To vendo pois não sou cego

Disse o moço sem receio

A rabo eu não me apego

Diabo velho eu corto de reio

O diabo retrucou

Quero ver tu me xispar

Nas palavras cê provou

Ser de bom interpretar

Quero ver nestas palavras

Pobre peão me ganhar

Me faça então nestas paradas

Me bater e me pisar

Eu sou filho do sertão

Jesus Cristo me acompanha

Diabo não temo não

Eu sou firme na campanha

Bate o verso seu diabo

Minhas palavras estão prontas

Venha com garfo, facão e rabo

Pra ver se de mim tu dá contas

Sertanejo é bicho arisco

Eu confirmo e dou fé

Mas mesmo assim eu me arrisco

Eu sei rimar e bato o pé

Bate o pé pois é chifrudo

Não me arredo uma palavra

Sertanejo tá com tudo

Diabo não tá com nada

Diabo não tá com nada

Disse o velho sertanejo

Não ouviu uma palavra

Não me fez nenhum pelejo

Não fiz nenhum pelejo

Nas rimas que Componho

Pois não tens no sertanejo

Este teu rosto tristonho

Sou triste quando quero

Quando quero também rio

Do sertanejo eu espero

Ver o rosto que humílho

Não carrego humilhação

Nem de pai nem de Parente

Tenho brio e educação

Não lhe devo esse repente

Nunca vi pobre ter brio

Nem tão pouco educação

Diabo não sente frio

Nem padece precisão

Se sou pobre tenho orgulho

E não tenho precisão

Nesta vida eu mergulho

Por lhe ter muita paixão

Tem paixão por tua vida

Mas não tem conhecimento

No inferno quem habita

Nunca passa sofrimento

Nunca passa sofrimento

No inferno diz você

Mas vive esperando um momento

Pra vim ver o auvorecer

Pobre tá me infezando

Olha bem que vai dizer

Cê não tá analizando

Quem tá brigando com você

O diabo não me assusta

Nem tão pouco me amedronta

Tu é que nem barulho de fusca

Berra, berra e só apronta

Não vou mais nem discutir

Vou voltar lá pro inferno

No repente a incutir

Eu abotoei o meu terno

Sertanejo é caboclo bão

Tem princípio é decidido

No repente não perde não

Sempre tá aprevenido

Euzebio Alves
Enviado por Euzebio Alves em 24/11/2005
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