O Exemplo das Intrigas

TEMA: Desentendimento

ESTROFES 48

FINAL: Uma estrofe em dez pés martelo.

O meu pensamento gira

Como o Globo Universal

Baseando o que é bom

Calculando o que é mau

Como tenho bom pensamento

Descrevo neste momento

Uma história teatral.

Num pequeno povoado

Não muito longe daqui

Vivia um povo constante

Leais como o Rei Davi

Era grande a união

E grande combinação

No modo de se servir

Uns pelos outros doavam

Até mesmo a própria vida

Repartiam o pão diário

Numa união desmedida

Em tudo reinava a paz

Alegria e tudo mais

Que vivência colorida.

E todo ano esse povo

Festejava com firmeza

13 noites de folia

Era festa era beleza

E reunidos somavam

O que na festa gastavam

E repartiam as despesas

Assim passou-se muitos anos

Nessa vivência normal

Pois só reinava alegria

No compromisso anual

Mas, o mundo vai e vem

Atrás do mau vem o bem

Atrás do bem vem o mau!

Mesmo por coincidência

Deram a se desentender

Acabou a união

Que dava tanto prazer

Por qualquer coisa brigavam

E só o que desejavam

E, uns aos outros morrer

Continuaram brigando

Acabou a alegria

Se algum adoecesse

Lhe visitar ninguém ia

Outro dizia vai ter

Se aquele peste morrer

Uma noite de folia.

E assim se separaram

Cada um para o seu lado

Adversários políticos

Cruelmente intrigados

Ninguém se dava um bom dia

Se encontrando se benzia,

Chamando-o de excomungado

Escolheram os dois mais velhos

Pra ser seus representantes

Cada um reinava os seus

Eleitores e atuantes

Só faltavam se matar

Porém tinham que morar

Uns com os outros defrontes.

Passava-se anos e anos

Só reinando confusão

Por zoada dos pequenos

Causava grande questão

E com essa brigaria

Tristeza grande se via

Naquela povoação.

Mais o pai de um dos chefes

Exemplo de gentileza

Vivia contrariado

Por ver tanta avareza

Fazia preces chorando

Dizendo estou me findando,

Por causa dessa tristeza

Chorando dizia filho,

Porque vocês brigam tanto

Você parando a zoada

Pelo o outro eu garanto

Assim não pode ficar

Faça um meio de enxugar

O meu amargozo pranto.

O filho por ser ruim

Ao pai desatendeu

Dizendo papai te amo,

Porque meu sangue é o seu

Pode tudo me pedir

Porém não vai conseguir

Pois que lhe fala sou eu.

O velho lhe disse filho,

Sua natureza é esta?

Pela resposta que me deu

Já vi que você não presta

Pelo que ouvir de você

Sei que quando eu morrer

Tu vais fazer uma festa.

Disse o filho o senhor

Assim está enganado

Não faço festa nenhuma

Porque eu sou educado

Só não quero mais ouvir

É o senhor me pedir

Pra deixar briga de lado.

Pois não vou me rebaixar

Àquele cabra tão ruim

Será grande desaforo

Deixar, ele dar em mim

Se for para não brigar

Com aquele cangambá

Prefiro o mais triste fim.

O velho disse, pois bem

Você bem sabe o que faz

Viva brigando ou não

Eu não vou lhe pedir mais

Pra casa vou regressar

Ao bom Deus vou orar

Para aqui reinar a paz.

Mesmo com esses pedidos

Do seu carinhoso pai

O filho nem comoveu-se

Dizendo ao velho vai,

Fazer sua oração

Mas juro que neste chão,

O meu orgulho não cai.

Nossa briga continua

E nunca vai se acabar

Pra defender minha parte

Eu sou capaz de lutar

O peste de mim não mangue

Porque aqui corre sangue,

Até a terra ensopar.

O outro sabendo disso

Através dos fuxiqueiros

Que tinha de ambas as partes

Acompanhando os roteiros

Disse eu, mato aquele peste

Jogo dentro do agreste

Para os lobos carniceiros.

Nessa questão desmedida

Só não aconteceu morte

Porque as preces do velho

Cada dia era mais forte

Cada dia que passava

As discussões aumentavam

Por um capricho da sorte.

Quando chegava o tempo

Dos festejos todos os anos

Pra ser melhor que ou outro

Cada um fazia planos

E na festa discutiam

Uns dos outros desfaziam

Num regime desumano

No tempo de eleição

Se tornava um caso sério

Ambos rasgavam retratos

Manchando o próprio critério

Todos só buscavam o mal

Só faltava afinal

Ir gente pra o cemitério.

Essa intriga era tão grande

Que desanimava a gente

Ninguém mais tinha o prazer

De ir naquele ambiente

Muitas pessoas que iam

Voltavam tristes e diziam

Ó que povinho indecente.

Passaram-se muitos anos

Nessa desunião crua

Sendo capazes de brigar

Pela beleza da Lua

E com falta de respeito

Só ficavam satisfeitos,

Vendo seus nomes na Rua.

Pois enquanto um sofria

O outro dava risada

Dizendo por mim tu morre

A mim não faltar nada

A morte é quem te consola

Pode até pedir esmolas

Nos batentes das calçadas.

E com essa brigaria

Que esse povo ia vivendo

Só se via era desgosto

E todo o povo dizendo

Se a coisa não mudar

Gente daquele lugar,

Vai terminar é morrendo.

Foi o que aconteceu

Porque o tempo chegou

De Deus tirar um vivente

Que aquela terra criou

O pobre velho inocente

Que derramou prantos quente

Por causa de tanto horror

Pois esse velho sofria

Uma amargura cruel

Vendo seu querido filho

Fazendo um feio papel

Brigando com seu vizinho

No mais cruel desalinho,

Lhe fazendo beber fel.

Porem ele acompanhava

A religião antiga

Fazendo preces a Deus

Em sua grande fadiga

Dizia ó eterno Pai

Com vosso poder ajudai

Que se acabe essa intriga.

E ele continuava

A todos pedindo paz

Dizendo meus bons amigos

Não sejam tão desiguais

Façam reinar a alegria

Porque essa brigaria

Nada de bom nos atrai

Quando foi num triste dia

O sol nasceu bem quente

O velhinho satisfeito

Como um pássaro inocente

Sem prever algum perigo

Foi na casa do inimigo

De seu filho indecente

Quando foi chegando lá

Um da casa o recebeu

Dizendo entre, velhinho

Ele logo respondeu

Dizendo eu vim aqui

Por ordem de Deus cumprir

O maior intento meu.

Pois atempo que meu peito

Tem um desejo profundo

De ver, essa discussão

Se acabar em um segundo

Peço pelo o amor de Deus

Vão dizer ao filho meu

Que vou partir desse mundo

Eu escolhi essa casa

Ora nela me terminar

Porque eu morrendo aqui

Ele tem que vir buscar

Perecendo o meu rosto

Findará o meu desgosto

E vocês vão se abraçar.

Desejo que todos vivam

Na maior combinação

Como antes já viveram

Se abraçando como irmão

Todos deverão orar

De mãos dadas implorar

A Deus pai por meu perdão.

E findando essas palavras

Debruçou numa janela

Sua vida nessa hora

Como se fosse uma vela

Que se apaga de repente

Se acabou aquele ente

Numa morte rica e bela.

O dono da casa olhando

Para ele perguntou

O que foi que tu, sentiu

Mas ele nada falou

Aí foi olhar de perto

Viu os seus olhos abertos

E que o coração parou

Disse o velhinho morreu

O que é que a gente faz

Uma morte como essa

Uma reflexão nos traz

Foi mesmo ordem de Deus

Tudo isso aconteceu

Só para fazermos a paz

E ali saiu correndo

Pra casa do inimigo

Abraçou ele chorando

Como se fosse um mendigo

Pedindo a parte de um pão

Disse, meu mano perdão

Agora sou seu amigo.

O outro lhe perguntou

O que foi que aconteceu

Que ti fez vir me abraçar

Dizer que se arrependeu

Ele disse, meu rapaz

A dois minutos atrás

Teu pai em casa morreu.

Mas, que morte repentina?

O meu pai estava são;

Só pode mesmo ter sido

Um ataque do coração

Ele morreu na janela

Coitado morreu, sem vela

Não deu tempo meu irmão.

O filho do falecido

Desmaiou caiu sentado

O outro lhe segurou

Tendo bastante cuidado

Quando ele se levantou

Chorando lhe abraçou

Dizendo estás perdoado

Reuniram-se as famílias

De uma um se abraçando

Com os corações de luto

Cada um se perdoando

Era muitos desmaiados

E outros agoniados

Gritando se pranteando.

A morte desse velhinho

Abalou a multidão

Saíram chamando gente

De quase toda a região

Irmãos parentes e amigos

Estranhos e inimigos

Ficaram em confusão.

Uns perguntavam aos outros

Como foi que aconteceu

Se ele estava doente

E de que forma morreu

Outros diziam não sei

Na hora que eu cheguei

Ele já estava com Deus

É bom que o leitor se lembre

Que esse velhinho vivia

Bastante contrariado

Por causa da brigaria

Morreu pra trazer a paz

Por qual batalhou demais

Pois só era o que queria.

Assim foi esse vivente

Pra dentro do frio chão

Partiu para a outra vida

Com toda satisfação

Pois findou aqui na terra

Uma tenebrosa guerra

Entre pais, filhos e irmãos.

Peço aos meus bons leitores

Que queiram me desculpar

Por eu não apresentar

Os nomes desses senhores

Que viveram em tantos horrores

Numa desunião crua

Hoje eles continuam

Sem muito se entender

Quem quiser lhes conhecer

Me peça que eu mostro a Rua

FIM