Nem sempre fui mais feliz / Quando busquei ter razão
Cordel em parceria com os poetas Antônio Gusmão e EdmiltonTorres, sobre o mote de EdmiltonTorres:
"Nem sempre fui mais feliz
Quando busquei ter razão"
Esquema de rimas ABABCDCD
Oitavas de sete sílabas poéticas
Edmilton Torres, das terras de Pesqueira, assim se expressou:
(01)
Do tempo da juventude
Meu passado me condena
Vivo numa inquietude
Pois ainda pago a pena
Viver com essa cicatriz
É a minha punição
Nem sempre fui mais feliz
Quando busquei ter razão
(02)
Presunçoso e atrevido
Queria protagonismo
Nem um pouco comedido
Usava o egocentrismo
Como uma força-motriz
Pra ganhar a discussão
Nem sempre fui mais feliz
Quando busquei ter razão
(03)
Eu era muito arrogante
Desprovido de humildade
Um sujeito petulante
E sem sensibilidade
Sempre empinava o nariz
Impondo a minha visão
Nem sempre fui mais feliz
Quando busquei ter razão
(04)
Enquanto o meu oponente
Não se desse por vencido
Eu era mais eloquente
Pra deixá-lo constrangido
Postura que não condiz
Com a boa educação
Nem sempre fui mais feliz
Quando busquei ter razão
(05)
Sempre firme em minhas crenças
Me achava o professor
Promovendo desavenças
Com meu interlocutor
O meu ego eu satisfiz
Mas rompia a relação
Nem sempre fui mais feliz
Quando busquei ter razão
(06)
Ao impor meus argumentos
Perdi amor e respeito
Feri muitos sentimentos
E arranhei meu conceito
Depois me senti juiz
Da própria condenação
Nem sempre fui mais feliz
Quando busquei ter razão
(07)
Eu magoei muita gente
Desprezando seu valor
Era muito prepotente
Por me achar superior
Depois vendo o mal que fiz
Veio a dor e a frustração
Nem sempre fui mais feliz
Quando busquei ter razão
(08)
A idade me ensinou
A ser menos orgulhoso
E por isso eu já não sou
Um sujeito vaidoso
Eu me tornei aprendiz
Das coisas do coração
Nem sempre fui mais feliz
Quando busquei ter razão
(09)
Hoje em dia quando eu vejo
Alguém com a mesma postura
Eu sinto enorme desejo
De lhe tratar com censura
Mas meu passado me diz
Que não posso dar sermão
Nem sempre fui mais feliz
Quando busquei ter razão
(10)
Deixo aqui o meu recado
A quem possa interessar
Evite que esse pecado
Possa lhe acompanhar
Pois viverá infeliz
E, talvez, na solidão
Nem sempre fui mais feliz
Quando busquei ter razão
Edmilton Torres
Ansilgus propôs a seguinte cadeia de versos:
(01)
Nasci em berço de pobre
Numa rua do Recife
O meu pai não tinha cobre
Assim também sem cacife
Os meus irmãos varonis
Covardes não foram não
Nem sempre fui mais feliz
Quando busquei ter razão
(02)
Tinha jeito de galego
De cabelo fino e louro
Me disseram que era grego
Mas na verdade era douro
Estudar foi o que fiz
Tinha pinta de cobrão
Nem sempre fui mais feliz
Quando busquei ter razão
(03)
Antigamente era assim
A mentira era verdade
Claro que muito ruim
Pois causava tempestade
Em quatro anos perfiz
O meu ginásio padrão
Nem sempre fui mais feliz
Quando busquei ter razão
(04)
Sou marceneiro formado
Numa escola industrial
E conheço do riscado
Isso foi o principal
Mas o curso não condiz
Com a minha condição
Nem sempre fui mais feliz
Quando busquei ter razão
(05)
Mas ganhei pouco dinheiro
Exercendo o meu ofício
Podia ser cervejeiro
Ou cair no precipício
Ao conhecer um Juiz
Deu-me logo a sugestão
Nem sempre fui mais feliz
Quando busquei ter razão
(06)
Entrei no tal científico
Difícil que só cacete
E quase que fico tísico
Estudar era o macete
Quando o jovem se bendiz
Sem vigor no coração
Nem sempre fui mais feliz
Quando busquei ter razão
(07)
Não cheguei a terminar
Esse curso até o fim
Pois resolvi cancelar
De olho grande no Pasquim
Não era tudo o que quis
Falo isso de emoção
Nem sempre fui mais feliz
Quando busquei ter razão
(08)
Fui fazer um tal concurso
Num banco bem afamado
Este aqui o meu discurso
Então fui classificado
Do que era mau me desfiz
Juntei tudo em caminhão
Nem sempre fui mais feliz
Quando busquei ter razão
(09)
Pois então segui carreira
Pelo pobre do Nordeste
Confesso não fiz asneira
Como bom cabra da peste
Em dez cidades perfiz
Não conheci Lampião
Nem sempre fui mais feliz
Quando busquei ter razão
(10)
Aqui vai só uma parte
Não cabe toda essa história
Só sei que finquei minha arte
Isso em bancário de glória
Louco de amor, por um triz
Ganhei a grande paixão
Uma amizade que fiz
Sempre busquei ter razão
SilvaGusmão